20/04/2019

FUNDAMENTOS DE FREUD


Com a descoberta da psicanálise, Freud inaugura um novo discurso, cujo objetivo é emprestar um estatuto científico à psicologia. Na realidade, longe de acrescentar um novo capítulo à área das ciências chamadas positivas, ele introduziu uma ruptura radical, tanto com aquilo que mais tarde seria chamado de ciências humanas como com o que, até então, constituía o centro da reflexão filosófica, isto é, a relação do homem com o mundo. Na história da psiquiatria dinâmica, chama-se Freudismo à escola de pensamento fundada por Sigmund Freud. O Freudismo inclui a totalidade das correntes que recorrem a ela, sejam quais forem suas divergências. A história do Freudismo e de sua identificação teórica, sociológica e política confundem-se, portanto, com a história das sucessivas interpretações da doutrina original, tal como Freud construiu sua arquitetura.
Seus herdeiros, chamados freudianos, modificaram-na através de pelo menos quatro gerações de pensadores, comentadores, intérpretes, terapeutas ou chefes de escola, agrupados ou não em diversas instituições, dentre as quais a mais antiga e de longe a mais poderosa é a International Psychoanalytical Association (IPA). Desde sua criação, em 1910, ela se atribuiu à tarefa de definir as regras de um ensino teórico e uma formação chamada didática dos terapeutas denominados de psicanalistas, independentemente de sua outra formação (médica, psiquiátrica ou leiga).
O Freudismo é a aliança de um sistema de pensamento com um método terapêutico. O Sistema Freudiano baseia-se em uma concepção do inconsciente que exclui qualquer idéia de subconsciência ou supraconsciência, em uma teoria da sexualidade que se estende a todas as formas sublimadas da atividade humana, sendo portanto irredutível à simples atividade sexual ou a suas transgressões, e, por último, em uma apreensão da relação terapêutica em termos da transferência. Embora tenha nascido da medicina e da psiquiatria – e embora seja freqüentemente praticado por médicos ou psiquiatras, o método terapêutico freudiano é a psicanálise e tão-somente a psicanálise. Sua característica é tratar através da fala, e unicamente através da fala, as doenças da alma (psicose, melancolia), dos nervos (neurose) e da sexualidade (perversão), excluindo voluntariamente qualquer outra forma de intervenção, tais como o exame clínico e os cuidados corporais, adaptados a cada parte do organismo, as massagens, a cirurgia, a hipnose, a hidroterapia, a farmacologia, a sugestão, a internação, as terapias comportamentais e cognitivas, a coerção moral, mediante persuasão ou autopersuasão, confissão, transe ou exorcismo, a coerção física e moral (com ou sem abuso sexual), baseada na reunião em grupos, na alienação e no delírio (seitas), a homeopatia, a bioenergética (medicinas alternativas e parapsicologia) e, por fim, os métodos ligados ao ocultismo (astrologia, vidência, espiritismo, telepatia).
Em relação às outras medicinas da alma e do psiquismo também fundamentadas no tratamento pela fala, e que se reúnem em diversas escolas de psicoterapia, a psicanálise é a única a recorrer exclusivamente ao sistema de pensamento freudiano e a empregar uma técnica de tratamento e de transformação da clínica baseada na transferência, bem como na obrigação de o próprio terapeuta recorrer à psicanálise (dita didática e, posteriormente, de controle ou supervisão), assim como numa concepção do psiquismo em que entram em jogo as definições freudianas do inconsciente e da sexualidade. Quanto a esse aspecto, o Freudismo divide-se em seis grandes componentes fundamentais nascidos entre 1930 e 1960: o Annafreudismo, o Kleinismo, a Ego Psychology, os Independentes, a Self Psychology e o lacanismo. Os cincos primeiros são amplamente aceitos e difundidos na IPA, ao passo que o sexto criou a partir de 1964, seu próprio modelo institucional a École Freudienne de Paris (EFP). Em 1981, esta se fragmentou numa multiplicidade de correntes, das quais apenas uma fundou uma nova internacional: a Association Mondiale de Psychanalyse (AMP).
Diversos outros métodos psicoterápicos, escolas ou correntes recorrem em maior ou menor grau ao Freudismo, sem adotar seu sistema de pensamento nem sua técnica, e tampouco seu princípio didático. Ora são nascidos de uma cisão, de uma dissidência ou de uma colaboração com o Freudismo, havendo ou não preservado a marca dessa associação (psicologia individual, psicologia analítica, neofreudismo, gestalt-terapia, neopsicanálise, análise existencial, etnopsicanálise, psicologia profunda, etc.), ora existiam independentemente do Freudismo e se desenvolveram nas margens dele, de acordo com uma dialética da interioridade e da exterioridade (psicodrama, psicologia clínica, medicina psicossomática, psicoterapia institucional, terapia de família).
Como sistema de pensamento, o Freudismo marcou as artes e os campos do saber que lhe eram preexistentes (psicologia, psiquiatria, filosofia, história, religião, literatura, pintura) e todos os que se constituíram ao mesmo tempo em que ele e se formularam perguntas equiparáveis (antropologia, sexologia, criminologia, lingüística). Havendo atravessado todo o século XX, o freudismo cruzou, por outro lado, a história de duas grandes correntes de pensamento que se desenvolveram no mundo e que formaram um movimento: o marxismo e o feminismo. Atravessou também a história do cinematógrafo, nascida na mesma época que ele.
Como escola de pensamento que alia um saber clínico a uma teoria e a um movimento institucional, o freudismo produziu uma historiografia oficial, baseada na idealização de suas origens (idolatria do mestre fundador), e um dogmatismo. Pelas mesmas razões, suscitou em seu seio, em virtude da diversidade de suas escolas e suas correntes, as condições de uma crítica a esse dogmatismo.
Depois do período inicial freudiano, ocorrem muitas controvérsias, resultando no desdobramento da psicanálise em várias correntes. Até 1997, o Freudismo estaria implantado em 41 países do mundo. O país que mais possui psicanalistas por habitante é a França, seguida pela Argentina, a Suíça, os Estados Unidos e o Brasil.

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