Marxismo
Marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e
sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e
desenvolvidas mais tarde por outros seguidores. Interpreta a vida social
conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das sociedades
de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.
Fruto de décadas de colaboração entre Karl Marx e Friedrich Engels, o
marxismo influenciou os mais diversos setores da atividade humana ao longo do
século XX, desde a política e a prática sindical até a análise e interpretação
de fatos sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos. Tornou-se base
para as doutrinas oficiais utilizadas nos países socialistas, segundo os
autores dessas doutrinas.
No entanto, o marxismo ultrapassou as ideias dos seus precursores, se
tornando uma corrente política-teórica que abrange uma ampla gama de pensadores
e militantes, nem sempre coincidentes e assumindo posições teóricas e políticas
às vezes antagônicas tornando-se necessário observar as diversas definições de
marxismo e suas diversas tendências, especialmente a social-democracia, o
bolchevismo e o comunismo de conselhos.
Origem
Os pontos de partida do marxismo são a análise dialética, proposta por
Hegel, a filosofia materialista de Ludwig Feuerbach, além da análise crítica às
ideias e experiências dos socialistas utópicos franceses e às teorias
econômicas dos britânicos Adam Smith e David Ricardo.
Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel.
Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia
precisa incidir sobre a realidade. O núcleo do pensamento de Marx é sua
interpretação do homem, que começa com a necessidade de sobrevivência humana. A
história se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de
necessidades, trabalha sobre a natureza. À medida que realiza este trabalho, o
homem se descobre como ser produtivo e passa a ter consciência de si e do
mundo. Percebe-se então que "a história é o processo de criação do homem
pelo trabalho humano".
Os dois elementos principais do marxismo são o materialismo dialético, para
o qual a natureza, a vida e a consciência se constituem de matéria em movimento
e evolução permanente, e o materialismo histórico, para o qual o modo de
produção é a base determinante dos fenômenos históricos e sociais, inclusive as
instituições jurídicas e políticas, a moralidade, a religião e as artes. Para
alguns estudiosos, o termo materialismo dialético, esboçado por Engels e
desenvolvido por Lênin e Trotski, é uma expressão inexistente na obra de Marx,
que, por sua vez, utilizara apenas os termos dialética e método dialético.
A teoria
marxista desenvolve-se em quatro níveis de análise: filosófico, econômico,
político e sociológico em torno da ideia central de mudança. Em suas Thesen über
Feuerbach (1845, publicadas em 1888; Teses sobre Feuerbach), Marx escreveu:
"Até o momento, os filósofos apenas interpretaram o mundo; o fundamental
agora é transformá-lo." Para transformar o mundo é necessário vincular o
pensamento à prática revolucionária. Interpretada por diversos seguidores, a
teoria tornou-se uma ideologia que se estendeu a regiões de todo o mundo e foi
acrescida de características nacionais. Surgiram assim versões como as dos
partidos comunistas francês e italiano, o marxismo-leninismo na União
Soviética, as experiências no leste europeu, o maoísmo na China e Albânia e as
interpretações da Coréia do Norte, de Cuba e dos partidos únicos africanos, em
que se mistura até com ritos tribais. As principais correntes do marxismo foram
a social-democracia, o bolchevismo e o esquerdismo.
Praticamente todas as artes receberam influência do Marxismo através de
teóricos que buscaram importar as ideias da luta de classes e da importância do
engajamento dos intelectuais em tais discussões.
Na literatura, por exemplo, nos anos 70, a chamada crítica
marxista pregava que a análise de textos literários deveria desconsiderar o
estudo biográfico do autor e se fixar na análise dos acontecimentos ficcionais
a partir da visão da luta de classes.
Essa perspectiva, e não apenas na literatura, mas em todas as artes,
desenvolveu-se em um cerceamento da liberdade de muitos artistas que se viram
desprestigiados por críticos e pela classe artística caso não abordassem em
suas obras uma "temática social".
Em sua concepção mais recente, a crítica marxista procura
intertextualizar a arte com a história, a sociologia e outras áreas do saber
científico social.
História
Pode-se dizer que o pensamento de Karl Marx (1818-1883) se apóia, numa
certa medida, em três tradições intelectuais já bem desenvolvidas na Europa do
século XIX: 1ª) A Filosofia Alemã, 2ª) O Pensamento Econômico Britânico e 3ª) A
Teoria Política Francesa. A partir desse postulado, este trabalho se propõe a
analisar a maneira como tais tradições foram apropriadas ao materialismo
histórico, caracterizando-as, ainda que de forma sucinta, para uma melhor
definição do contexto intelectual da vida desse pensador que, embora muito
revisado e criticado atualmente, permanece como elemento que influenciará
muitas das ideias "modernas", tanto no campo da filosofia, como nas
áreas de ciências humanas e artes.
Pensamento Filosófico Alemão - Hegel & Feuerbach
Os elementos filosóficos de Marx foram em boa parte baseados no
pensamento de Friedrich Hegel (1770-1831). A influência que a filosofia de
Hegel teve sobre Marx exerceu-se por intermédio de duas fontes diferentes nas
quais o hegelianismo surgiu.
Uma dessas
fontes foi os ensinamentos de Eduard Gans
(1797-1839), que aliava o hegelianismo a elementos do Saint-Simonismo.
Outra fonte foi a obra de Ludwig Feuerbach (1804-1872) A essência do
Cristianismo, de 1841.
Entretanto, Marx não adotou integralmente as ideias de Feuerbach. Mas
em muitos pontos dos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, obra de 1844, está
patente esta influência. Feuerbach tentava inverter as premissas idealistas da
filosofia de Hegel, afirmando categoricamente que o estudo da humanidade tem de
ser feito a partir do homem real, vivendo num mundo real e material. Ao
contrário de Hegel que considera o real como uma emanação do divino, para ele o
divino é um produto ilusório do real, o ser precede o pensamento, na medida em
que os homens não começam a refletir sobre o mundo antes de nele agirem. Hegel
pensava a evolução da comunidade em termos de uma divisão de deus contra si
mesmo. Para Feuerbach, deus é um ser inventado, no qual o homem projetou os
seus mais altos poderes e faculdades, e que é assim considerado perfeito e todo
poderoso. Por outro lado, porém, segundo Feuerbach, a comparação entre deus e o
homem pode constituir uma inspiração positiva para a realização das capacidades
humanas. Compete à Filosofia ajudar o homem a recuperar sua essência alienada
através de uma crítica transformadora que inverta a perspectiva hegeliana e
afirme o primado do mundo material.
O que Marx filtrou de Feuerbach e Hegel eram as possibilidades que
essas filosofias ofereciam para operar uma síntese entre a análise crítica e
realizar a filosofia. Contudo, Marx nunca renunciou à perspectiva histórica de
Hegel.
Pensamento Político Francês - Proudhon, Conde
de Saint-Simon & Charles Fourier
Desde o século XVI, autores como Thomas More (1478-1535) e Tommaso
Campanella (1568-1639) imaginavam uma sociedade de iguais. Na França do século
XVIII, o revolucionário Gracchus Babeuf (1760-1797) escreve o manifesto dos
iguais que coloca o abismo que separa a igualdade formal da tríade “liberdade,
igualdade, fraternidade” e a desigualdade real. No século XIX, com as
condições econômicas e o capitalismo se desenvolvendo desde a revolução
industrial, as cidades incham de proletários com baixos salários. As
críticas ao liberalismo resultam da constatação de que a livre concorrência não
trouxe o equilíbrio prometido e, ao contrário, instaurou uma ordem injusta e
imoral. As novas teorias exigem então a igualdade real e não apenas a ideal. Em
1864 é fundada em Londres a Associação Internacional dos Trabalhadores, mais
tarde conhecida como Primeira Internacional (face à segunda, terceira e quarta,
constituídas posteriormente), visando a luta para emancipação do proletariado.
Esta união de grupos operários de vários países europeus teve em Marx
seu principal inspirador e porta-voz, tendo este lhe dedicado boa parte do seu
tempo.
Na França, o pensamento socialista teve como porta-vozes Saint-Simon,
Fourier e Proudhon, mas sem haver ocorrido uma grande industrialização tal como
na Inglaterra.
Os diversos teóricos do socialismo têm ideias diferentes e propõem
soluções diversas, mas é possível reconhecer traços comuns:
Tentam reformar a sociedade através da boa vontade e participação de
todos.
Todas as tentativas não vão além de uma tendência fortemente
filantrópica e paternalista: melhoria de alojamentos e higiene, construção de
escolas, aumento de salários, redução de horas de trabalho.
Saint-Simon pensa uma sociedade industrial dirigida por produtores
(classe operária, empresários, sábios, artistas e banqueiros). Fourier tenta
organizar os Falanstérios (pequena unidade social abrangendo entre 1.200 e
5.000 pessoas vivendo em comunidade). Proudhon teve plena consciência do
antagonismo entre as classes, afirmava que a propriedade privada significava
uma espoliação do trabalho. Ele preconizava a igualdade e a liberdade, que para
ele era sinônimo de solidariedade, pois o homem mais livre é aquele que
encontra no outro uma relação de semelhantes. Isso já é um forte indício de uma
crítica ao individualismo da concepção burguesa de liberdade.
Segundo Marx e Engels, os socialistas utópicos são inócuos porque são
paternalistas, pois eles não colocam nenhuma iniciativa histórica e nenhum
movimento político que lhe seja próprio. Idealistas, não reconhecem quais
seriam as condições materiais da emancipação. Ainda segundo Marx e Engels, eles
são moralistas, pretendem reformar a sociedade pela força do exemplo, pensam
que as experiências em pequenas escalas poderão se frutificar e se expandir,
por meios pacíficos. A grande questão aqui é também histórica, está dentro da
pretensão cientificista do século XIX, positivista, que vê no socialismo
utópico o precursor ultrapassado do marxismo científico, que mostra o movimento
operário em sua plenitude.
Pensamento Econômico Britânico - Adam Smith
& David Ricardo
No tocante às questões de ordem econômica, Marx tinha como pano de
fundo o pensamento econômico conhecido como a Escola Clássica, constituída
basicamente pelo pensamento econômico britânico, com destaque para Adam Smith
(1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). Assim, escreve Paul Singer em sua introdução
ao pensamento econômico de Marx:
Quando Marx começou a se dedicar ao estudo da economia política, na
quinta década do século XIX, esta ciência já tinha recebido uma formulação
teórica bastante completa, abrangentemente sofisticada por uma série de
autores, que passaram a ser conhecidos como "clássicos". Estes
autores produziram suas principais obras no último quartel do século XVIII e no
primeiro quartel do século XIX e eram, em sua maioria da Grã-Bretanha - onde
transcorria então a Revolução Industrial
O pensamento clássico se desenvolve na Grã-Bretanha durante segunda
metade do século XVIII e no século XIX, centrando suas reflexões nas
transformações do processo produtivo, trazidas pela Revolução Industrial. Adam
Smith afirma que não é ouro ou qualquer outro metal que determina a
prosperidade de uma nação, mas sim o trabalho humano. Em consequência disso, qualquer
mudança que aprimore as forças produtivas enriquece uma nação. A principal
delas – além da mecanização – é a divisão social do trabalho, amplamente estudada
por ele. A Escola Clássica também aborda as causas das crises econômicas, as
implicações do crescimento populacional e a acumulação de capital.
O pensamento econômico de Marx aparece exposto em Grundrisse der Kritik
der politischen Ökonomie (Fundamentos da Crítica da Economia Política), de 1857
e em Das Kapital
(O Capital), de 1867-1869. Sua teoria econômica marxista procura explicar como
o modo de produção capitalista propicia a acumulação contínua de capital, e sua
resposta está na confecção das mercadorias. Elas resultam da combinação de
meios de produção (ferramentas, máquinas e matéria-prima) e do trabalho humano.
No marxismo, a quantidade de trabalho socialmente necessária para produzir uma
mercadoria é o que determina o seu valor. A ampliação do capital ocorre porque
o trabalho produz valores superiores ao dos salários (que é a força de
trabalho). A esse diferencial, que irá se tornar um conceito fundamental da
teoria de Marx, é considerado a fonte dos lucros e da acumulação capitalista.
A Mais-valia
O que faz o valor de uma mercadoria? Eis uma pergunta que instigou os
economistas da Escola Clássica e que levou Marx a desenvolver o conceito da
“mais-valia”, que é descrita por Paul Singer no excerto abaixo:
“Marx repensa o problema nos seguintes termos: cada capitalista divide
seu capital em duas partes, uma para adquirir insumos (máquinas,
matérias-primas) e outra para comprar força de trabalho; a primeira, chamada capital
constante, somente transfere o seu valor ao produto final; a segunda, chamada capital
variável, ao utilizar o trabalho dos assalariados, adiciona um valor novo ao
produto final. É este valor adicionado, que é maior que o capital variável (daí
o nome "variável": ele se expande no processo de produção), que é
repartido entre capitalista e trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador
uma parte do valor que este último produziu, sob forma de salário, e se
apropria do restante sob a forma de mais-valia
Na verdade, o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou seja, a
força de trabalho cria um valor superior ao estipulado inicialmente. Esse
trabalho excedente não é pago ao trabalhador e serve para aumentar cada vez
mais o capital. Insere-se neste ponto a questão da alienação - o produtor não
se reconhece no que produz; o produto surge como um poder separado do produtor.
O produto surge então como algo separado, como uma realidade soberana – o
fetichismo da mercadoria. Mas o que faz com que o homem não perceba? A
resposta, de acordo com Marx, está na ideologia dominante, que procura sempre
retardar e disfarçar as contradições politicamente. Portanto, a luta de classes
só pode ter como objetivo a supressão dessa extorsão e a instituição de uma
sociedade na qual os produtores seriam senhores de sua produção.
Para Marx, o Estado não supera as contradições da sociedade civil, mas
é reflexo delas, e está aí para perpetuá-las. Por isso, só aparentemente ele
visa o bem comum, estando de fato a serviço da classe dominante. Ao lutar
contra o poder da burguesia, o proletariado deve destruir o poder estatal, o
que não será feito por meios pacíficos, mas sim pela revolução. A classe
operária deve construir um novo estado capaz de suprir a propriedade privada, e
a esse novo Estado dá-se o nome de ditadura do proletariado.
O primeiro fruto da associação de Marx e Engels foi o texto A Sagrada Família, e logo depois
a Ideologia Alemã, sendo neste
segundo texto que aparece a primeira formulação geral das bases do materialismo
histórico. O próprio Marx afirma que foi a análise da filosofia do Estado de
Hegel que o levou a tirar a conclusão de que “as relações legais, tal como as
formas de Estado, têm de ser estudadas não por si próprias, ou em função de uma
suposta evolução geral do espírito humano, mas antes como radicando em
determinadas condições materiais da vida”.
A concepção do Materialismo Histórico, exposta em A Ideologia Alemã
difere-se do Materialismo de Feuerbach. Para Marx, a história é um processo de
criação, satisfação, e recriação contínuas das necessidades humanas; é isso que
distingue o homem dos animais, cujas necessidades são fixas e imutáveis. Quando
pretendemos estudar a evolução da sociedade humana, temos de partir do exame
empírico dos processos concretos da vida social da existência humana. Os seres
humanos não devem ser considerados num isolamento, mas num processo de evolução
real, a que estão submetidos em determinadas condições. Desde o momento em que este
processo passa a ser descrito, a história deixa de ser uma coleção de fatos
mortos ou uma atividade inventada de sujeitos inventados. Quando se descreve
uma realidade, a filosofia como ramo independente do conhecimento deixa de
existir.
Separadas da
história, essas abstrações não têm qualquer valor. Servem apenas para facilitar
o ordenamento histórico, não fornecendo, porém, um esquema de interpretação das
épocas da história. Cada um dos vários tipos de sociedade identificados por
Marx caracteriza-se por uma dinâmica interna de evolução própria. Mas essas
características só podem ser identificadas e definidas mediante uma análise Ex
post facto. Atribuir finalidade à história não passa de uma distorção
teleológica, que transforma a história recente na finalidade da historia mais
antiga. A tipologia da sociedade estabelecida por Marx baseia-se no
reconhecimento de uma diferenciação progressiva da divisão do trabalho.
Em outras palavras, o que Marx explicitou foi que, embora possamos
tentar compreender e definir o ser humano pela consciência, pela linguagem e
pela religião, o que realmente o caracteriza é a forma pela qual reproduz suas
condições de existência. Fundamental, portanto, é análise das condições
materiais da existência numa dada sociedade.
O mundo não é uma realidade estática, ela é dinâmica, pois no contexto
dialético, também o espírito não é consequência passiva da ação da matéria,
podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso significa que a consciência,
mesmo sendo determinada pela matéria e estando historicamente situada, não é pura
passividade: o conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da ação
deste sobre o mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária. Assim, Marx
se denominava um materialista, não idealista. O Materialismo Histórico e o
Materialismo Dialético podem, grosso modo, serem tomados por termos
intercambiáveis, sendo o primeiro mais adequado ao se tratar de “coisas
humanas” e o segundo adequado para aspectos não-humanos, universais etc. Engels
acabou desenvolvendo mais do que Marx acerca do Materialismo Dialético.
Ainda que a afirmação de Marx de que suas ideias eram científicas tenha
sido refutada veementemente, principalmente após a publicação, em 1934, de A Lógica da Pesquisa Científica, de Karl
Popper (1902-1994) e derrocada dos países denominados socialistas, a
cientificidade dos estudos das ciências humanas, tal como a História, não deve
ser automaticamente desconsiderada. O “erro” de Marx, talvez, possa ter sido o
de superestimar a predicabilidade das sociedades humanas. Sem dúvida, nenhum dos
países que se autoproclamavam marxistas trilhou os rumos profetizados por Marx.
Contudo, juntos eles representavam quase um terço de toda a população mundial,
o que talvez coloque Karl Marx como um dos pensadores de maior influência na
história. Ainda que pouco predizíveis, as sociedades humanas certamente devem
render muitas graças a este pensador nascido em Trier, pelos grandes avanços
teórico-metodológicos prestados ao campo das ciências humanas durante o século
XIX.
Referências
BORGES, Vavy
P. O que é história. SP: Brasiliense, 1987.
GIDDENS,
Anthony. Capitalismo e moderna teoria social. Lisboa: Presença, 1994.
MAGEE, Bryan.
História da filosofia. SP: Loyola,
2000.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A
ideologia alemã. SP: Grijalbo, 1977.
SINGER, Paul
(org.). Marx, in: Grandes Cientistas Sociais Vol. 31. SP: Ática, 1982.
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Texto 002b
O
Materialismo Histórico-Dialético
Lucas
Maia Santos[1]
Objetivamos neste estudo investigar qual a concepção que Marx possui
sobre Método dialético e materialismo histórico. Vários de seus epígonos se
dedicaram ao desenvolvimento do materialismo histórico-dialético, uns
aprofundando, outros deformando os estudos iniciados por Marx. O pensador
alemão não dedicou nenhum texto específico, nenhum estudo mais aprofundado
sobre sua teoria materialista da história. Assim, para se compreender o
materialismo histórico de maneira mais adequada e mais próxima às teses de
Marx, devemos compreender como ele desenvolveu-as ao longo de toda sua obra.
Tanto as chamadas obras de juventude quanto as de maturidade, de uma ou outra
maneira, tocam nesta questão. Seja considerando-a teoricamente, seja
aplicando-a a casos histórico-concretos.
As principais
obras de Marx, nas quais, em algum momento ele desenvolve suas teses sobre o
materialismo histórico são: A Ideologia Alemã, Manifesto do Partido Comunista, Formações
Econômicas Pré-capitalistas, prefácio de Contribuição à Crítica da Economia
Política, O Capital etc. Marx nunca utilizou a expressão materialismo
histórico, mas como sua concepção da história é materialista, não há nenhum
problema em utilizar tal expressão. Bem, mas onde se encontra a gênese e a
essência do materialismo histórico? Viana nos dá a seguinte explicação:
Marx recupera e une as teses de Hegel e Feuerbach. A dialética de Hegel
está carregada de historicidade, embora seja uma historicidade “idealista” e
teleológica, e a dialética de Feuerbach está carregada de “materialismo”,
embora seja um “materialismo” sem historicidade. A união da historicidade da
dialética hegeliana com o “materialismo” da dialética feuerbachiana proporciona
o materialismo histórico de Marx.
Entretanto, isto apenas é o ponto de partida do materialismo histórico
que irá se enriquecer com a contribuição do chamado “socialismo utópico”, da
“economia política inglesa”, das pesquisas históricas de Marx e,
principalmente, do desenvolvimento histórico da Europa Ocidental. Marx, como
Feuerbach, transfere a dialética da consciência para o ser, mas compreende este
como sendo carregado de historicidade e que, portanto, é a natureza humana em
sua manifestação concreta, ou seja, o ser social e este só pode ser
compreendido em sua historicidade, que é retirada da consciência (que possui
uma historicidade dependente) e transmitida ao ser social. (Viana, 1997, p: 75)
A ideia de ser social é fundamental para o entendimento do materialismo
histórico. A natureza humana a-histórica de Feuerbach, embora seja uma
concepção materialista, não considera o ser enquanto ser histórico, ou seja,
condicionado historicamente. É a partir do ser social que Marx vai considerar o
desenvolvimento das civilizações humanas. Se analisarmos, tanto textos de sua
juventude, quanto textos de maturidade, vemos uma unidade entre ambos. Em A Ideologia Alemã ,
por exemplo, tem-se os elementos fundamentais do materialismo histórico, embora
ainda embrionários. Vários conceitos fundamentais do materialismo histórico
estão ali lançados, mas não desenvolvidos satisfatoriamente. Nesta obra, por
exemplo, Marx ainda não tinha desenvolvido, de maneira mais sistemática, o conceito
de modo de produção. Mas o que ele chama de “formas de propriedade” são na
realidade o que posteriormente ele denominará de “modo de produção”. Assim,
neste texto, tem-se as formas de propriedade tribal, escravista, feudal e
moderna (a propriedade sob forma capitalista). No prefácio de Contribuição à Crítica da Economia Política,
por exemplo, ele denomina estas “formas de propriedade” de “modo de produção”
primitivo, escravista, feudal e capitalista. Neste texto ele acrescenta o modo
de produção asiático, forma de sociedade que ele ainda não conhecia no período
da redação de A Ideologia Alemã. O
conceito de modo de produção adquire fundamental importância para o
entendimento do que é o materialismo histórico. O modo de produção é
constituído pelo conjunto das relações de produção e das forças produtivas
(meios de produção e força de trabalho). Cada modo de produção possui
formas específicas de regularização (estado, ideologia, política, religião
etc.). Ao conjunto das formas de regularização e do modo de produção, Marx
denominou de sociedade.
Se o desenvolvimento da sociedade
pressupõe sua transformação então é imprescindível saber o que gera tal
transformação. A esta questão, Marx deu a seguinte resposta “A história de toda
sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes” (Marx,
1967, p: 93) - (grifo nosso).
Os conceitos fundamentais do materialismo histórico são: Modo de produção (relações de produção e
forças produtivas), Formas de
regularização (filosofia, política, estado etc), Luta de classes (motor, alavanca, força motriz da história). É
necessário pararmos aqui e discutirmos como se dá a relação entre modo de
produção e formas de regularização. Algumas frases de Marx, se consideradas
separadamente do todo, como muitos ditos “marxistas” fizeram, podem dar a
impressão de que as formas de regularização são passivas diante do modo de
produção. “A estrutura determina a superestrutura”, disse Marx em A Ideologia Alemã. No Prefácio ele diz: “A
estrutura condiciona a superestrutura”. Assim, não podemos afirmar que
há um determinismo em Marx, como muitos fizeram, pois hora fala em determina,
hora fala em condiciona.
Mas se analisarmos com cuidado o que ele diz, verificamos que
esta, poderíamos dizer, displicência terminológica, evidencia que isto não era
uma preocupação para ele. Se analisarmos outros textos, como por exemplo A Miséria da Filosofia, vemos que ele ao
falar que quando a teoria se encontra nas massas também se torna ela força
material ou quando, no Prefácio, fala que a superestrutura tem uma autonomia
relativa em relação ao modo de produção, etc. é fácil notar que não há nenhum
determinismo econômico em Marx e portanto no materialismo histórico. Neste
sentido, o que podemos dizer, segundo Marx, o que determina ou condiciona, em
última análise é a forma ou formas de produção material, ou seja, o modo de
produção, mas ele, por sua vez, sofre influência das formas de regularização e
estas são condicionadas pelo modo de produção e reprodução da vida.
Paralelamente e para a elaboração de sua teoria da história, Marx
também desenvolveu um recurso metodológico, o método dialético. Os textos nos
quais ele desenvolveu sua concepção sobre este tema são: Método da Economia Política (II capítulo de Contribuição à Crítica da Economia Política), A Miséria da Filosofia, Carta
a Annenkov, Prefácio à primeira edição de O Capital bem como o Prefácio à segunda edição. Segundo Marx, no
texto em que melhor desenvolveu o método dialético (O Método da Economia Política):
Parece
que o melhor método será começar pelo real e pelo concreto, que são a condição
prévia e efetiva” (Marx, 1983. p: 218). Assim, a pesquisa deve se iniciar pelo
existente, pelo concreto-dado. Mas o que é o concreto-dado? “o concreto é
concreto por ser a síntese de múltiplas
determinações, logo, unidade na diversidade” (Marx, 1983).
A pesquisa deve se iniciar pelo concreto-dado. O concreto é a síntese
de múltiplas determinações. Como proceder então para teorizar sobre este
concreto-dado, que independe de nossa existência e tem como característica ser
totalizador, ou seja, o concreto é a totalidade.
Sobre isto, no Prefácio à primeira edição de O Capital, Marx compara o processo de pesquisa realizado pelas
ciências naturais com o das ciências sociais. Afirma que nas ciências naturais
é mais fácil estudar o organismo como um todo do que suas partes e que no
estudo das sociedades não se pode utilizar nem reagentes químicos nem
microscópio, esses meios devem ser substituídos pela “faculdade de abstrair”.
É justamente pela faculdade de abstrair e pelo estudo das categorias
mais simples que se pode apreender e explicar o concreto-dado, ou seja, é a
partir da abstração de categorias mais simples que deve se iniciar o processo
de pesquisa, após iniciado estes processo deve-se chegar, por abstrações
sucessivas, a abstrações cada vez mais complexas. Mas não devemos nos enganar,
como muitos fizeram, e acharmos que as categorias são imutáveis e a-históricas.
Não devemos pensar também que estas categorias são formulações ideais para
depois serem aplicadas em casos concretos. Sobre isto, em sua crítica a
Proudhon, Marx assim se manifesta:
As
categorias econômicas não são senão as expressões teóricas, as abstrações das
relações sociais de produção. (...) Os homens que estabelecem as relações
sociais de acordo com a sua produtividade material, produzem também os
princípios, as ideias, as categorias, de acordo com suas relações sociais.
Assim, estas ideias, estas categorias são tão pouco eternas quanto as relações
que exprimem. São produtos históricos e transitórios (Marx, s/d, p: 94).
Após iniciada a pesquisa, pelo concreto-dado, devemos reconhecer que o
concreto é o ponto de chegada, pois ele é síntese, resultado. Desta maneira,
ele é o ponto de chegada, embora seja o verdadeiro ponto de partida.
Isto quer dizer que o objetivo da pesquisa é explicar o concreto, ou
seja, a realidade. Para isto devemos transpor, pela faculdade de abstração, o
concreto-dado para nossa mente, produzindo assim o concreto-pensado, que é na
realidade o concreto-dado transposto para mente humana. Após feita esta
transposição, deve-se voltar novamente o concreto-pensado para o concreto-dado,
pois os dois devem estar em íntima relação, pois se fosse de outra forma, a
pesquisa não teria sentido, na medida em que não conseguiria explicar a
realidade, fim último de qualquer pesquisa realmente compromissada e livre.
A respeito desta relação entre concreto-dado e concreto-pensado, Viana
assim se refere:
(...) o
concreto-determinado é o concreto-pensado, mas na realidade ele já é
determinado antes de ser pensado. No concreto-determinado já existe e se
manifesta as determinações que buscamos descobrir e que são suas partes
constituintes. A reconstrução mental deste concreto significa descobrir suas
determinações e torná-lo concreto-pensado, o que significa reconhecê-lo
concreto-determinado. O ponto de chegada da pesquisa é reconhecer a realidade
social como ela é: um concreto determinado (Viana, 2001, p. 59).
Neste sentido, de tudo o que foi exposto, podemos concluir que o materialismo
histórico é o método dialético e que o método dialético é o materialismo
histórico, ou seja, ambos são uma única e mesma coisa. Mas é necessário
distinguir que o materialismo histórico é produto e condição do método
dialético e que o método dialético é produto e condição do materialismo
histórico.
O materialismo histórico-dialético, pois podemos chamá-lo assim,
(...) e ao
mesmo tempo um recurso heurístico e uma teoria. O ´prefácio` que Marx escreveu
à contribuição á crítica da economia política é um recurso heurístico e quando
ele se manifesta numa análise concreta, por exemplo numa análise da sociedade
feudal, torna-se uma teoria. (Viana, 1997, p. 76).
O materialismo histórico-dialético, enquanto recurso heurístico, deve
ser considerado como “fio condutor”, termo que o próprio Marx utiliza no
Prefácio de Contribuição à Crítica da
Economia Política e não como um modelo no qual a realidade deve ser
enquadrada. Ainda, segundo Viana (1997) o método dialético (o materialismo
histórico-dialético considerado como recurso heurístico) está em íntima relação
e correspondência com o mundo real, concreto. É justamente aí que reside o
caráter revolucionário do materialismo histórico-dialético, pois não devemos
considerá-lo simplesmente como um procedimento metodológico, isento de valores
e intencionalidades, destituído de perspectivas. Podemos ver isto, por exemplo,
no Prefácio de O Capital. Neste
texto, Marx assim se refere: “Não foi róseo o colorido que dei às figuras do
capitalista e do proprietário de terras. (...)” (Marx, 1985, p: 6).
Isto
evidencia que Marx parte de uma perspectiva, no caso, a perspectiva da qual ele
parte é a do proletariado [1]. Assim, Marx, na sua crítica a Proudhon, fala que
enquanto os cientistas (Marx se refere somente aos economistas, mas podemos
estender esta crítica às demais ciências: sociologia, história, biologia,
geografia etc.) representam a burguesia, os socialistas e comunistas são os
representantes da classe operária.
Neste sentido, enquanto os cientistas:
Procuram
a ciência e apenas fazem sistemas, enquanto estão no começo da luta, não vêem
na miséria senão a miséria, sem ver nela o lado revolucionário, subversivo, que
derrubará a velha sociedade. Desde este momento, a ciência produzida pelo
movimento histórico, e nele se associando com pleno conhecimento de causa,
cessa de ser doutrinária e se torna revolucionária (Marx, s/d, p: 108).
Assim fica evidenciado o caráter revolucionário do materialismo
histórico-dialético, pois ele só tem sentido se estiver em inteira
correspondência com o mundo real e só tem sentido se for compreendido como
representante da classe revolucionária de nossa época, ou seja, se expressar um
movimento revolucionário. Desta maneira, para se partir de uma perspectiva
dialética, torna-se importante lembrar a citadíssima décima primeira tese sobre
Feuerbach: “os filósofos até hoje se preocuparam em interpretar o mundo, o que importa
é transformá-lo”.
Texto 002c
Materialismo Histórico[2]
Gisele Auxiliadora Ferreira
KARL MARX
O que você
entende por materialismo histórico? O que são forças produtivas?
E relações de produção?
O alemão Karl
Marx (1818-1883) desenvolveu a teoria socialista partindo da análise crítica e
científica do capitalismo. Ele não se preocupava em pensar como seria uma
sociedade ideal, mas sim, preocupava-se em compreender a dinâmica do
capitalismo, e para tal, estudou a fundo suas origens, a acumulação de capital,
a consolidação da produção, e suas contradições (que inevitavelmente, esse
sistema seria destruído por si só - em sua dinâmica evolutiva geraria elementos
que acabaria por destruí-lo).
Os princípios
básicos que fundamentaram o socialismo marxista podem ser sintetizados em três
teorias centrais: A Teoria Da Mais-Valia,
onde se demonstrava a maneira pelo qual o trabalhador é explorado na produção
capitalista; A Teoria Da Luta Das
Classes, onde se afirma que a história da sociedade humana é a história da
luta das classes ou do conflito permanente entre exploradores e explorados; e,
finalmente, a Teoria Do Materialismo
Histórico.
Marx
dedicou-se a um estudo intensivo da história, e criou uma teoria que veio a ser conhecida como a concepção
materialista da história, que foi exposta num trabalho em que esboça a
história dos vários modos de produção, prevendo o colapso do modo de produção
vigente - o capitalismo. O materialismo histórico é uma teoria sobre toda e
qualquer forma produtiva criada pelo homem de acordo com seu ambiente ao longo
do tempo, onde se evidencia que os acontecimentos históricos são determinados pelas
condições materiais (econômicas) da sociedade. Dentre as ideias do materialismo
histórico, relevam-se as questões das forças produtivas e relações de produção.
Marx afirmou
que a estrutura de uma sociedade depende da forma como os homens organizam a
produção social de bens. A produção social, segundo ele, engloba dois fatores
básicos: as forças produtivas e as relações de produção. As forças
produtivas constituem as condições materiais de toda a produção. Representam
as matérias-primas, os instrumentos, as técnicas de trabalho e até os próprios
homens. Reconhece-se o grau de desenvolvimento das forças produtivas de uma
nação a partir do aperfeiçoamento da divisão do trabalho. As relações de produção são as formas pelas quais os homens se
organizam para executarem a atividade produtiva. Elas se referem às
diversas maneiras pelas quais são apropriados e distribuídos os elementos
envolvidos no processo de trabalho. Assim, as relações de produção podem ser
cooperativistas (como um mutirão), escravistas (como na antiguidade), servis
(como na Europa feudal) e capitalistas (como na indústria moderna).
Forças
produtivas e relações de produção são condições naturais e históricas de toda a
atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual ambas existem e
são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que Marx determinou de
modo de produção. Para ele, o estudo deste é muito importante para a
compreensão de como se organiza a sociedade.
Referências Bibliográficas
MARX, K.
& ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo, Martins Fontes, 2002.
MARX, K.
& ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre, L&PM, 2002.
MARX, K. A
Miséria da Filosofia. São Paulo, Livraria Exposição do Livro, s/d.
MARX, K.
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MARX, K.
Formações Econômicas Pré-Capitalistas. 3º ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1981.
MARX, K.
Manifesto do Partido Comunista. In: LASKI, H. J. Manifesto Comunista de Marx e
Engels. Rio de janeiro: Zahar, 1967.
MARX, K. O
Capital: Crítica da Economia Política. Livro 1, Volume 1. São Paulo, DIFEL,
1985.
VIANA, Nildo.
A Consciência da História: Ensaios Sobre o Materialismo Histórico-Dialético.
Goiânia, Edições Combate, 1997.
VIANA, Nildo.
Escritos Metodológicos de Marx. 2ª edição, Goiânia, Edições Germinal, 2001.
[1] In: Revista
Possibilidades. Publicação do NPM - Núcleo de Pesquisa Marxista. Ano 1, num. 2,
Out./Dez. de 2004. p 05-08. Disponível
em http://www.npmueg.ubbihp.com.br/pos2-1lucasantos.html acessado em
01/05/2007.
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