28/11/2013

Universidade do estado do rio de janeiro – uerj Centro de educação e humanidades Faculdade de educação EDU 2 8063 Geografia e história para crianças, jovens e adultos – Pasta 120 Profº: dirceu Castilho e MARCELO GOMES DA SILVA . Período: 2012.1 Texto 002a

Marxismo
Marxismo é o conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores. Interpreta a vida social conforme a dinâmica da luta de classes e prevê a transformação das sociedades de acordo com as leis do desenvolvimento histórico de seu sistema produtivo.
Fruto de décadas de colaboração entre Karl Marx e Friedrich Engels, o marxismo influenciou os mais diversos setores da atividade humana ao longo do século XX, desde a política e a prática sindical até a análise e interpretação de fatos sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos. Tornou-se base para as doutrinas oficiais utilizadas nos países socialistas, segundo os autores dessas doutrinas.
No entanto, o marxismo ultrapassou as ideias dos seus precursores, se tornando uma corrente política-teórica que abrange uma ampla gama de pensadores e militantes, nem sempre coincidentes e assumindo posições teóricas e políticas às vezes antagônicas tornando-se necessário observar as diversas definições de marxismo e suas diversas tendências, especialmente a social-democracia, o bolchevismo e o comunismo de conselhos.
Origem
Os pontos de partida do marxismo são a análise dialética, proposta por Hegel, a filosofia materialista de Ludwig Feuerbach, além da análise crítica às ideias e experiências dos socialistas utópicos franceses e às teorias econômicas dos britânicos Adam Smith e David Ricardo.
Marx criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre a realidade. O núcleo do pensamento de Marx é sua interpretação do homem, que começa com a necessidade de sobrevivência humana. A história se inicia com o próprio homem que, na busca da satisfação de necessidades, trabalha sobre a natureza. À medida que realiza este trabalho, o homem se descobre como ser produtivo e passa a ter consciência de si e do mundo. Percebe-se então que "a história é o processo de criação do homem pelo trabalho humano".
Os dois elementos principais do marxismo são o materialismo dialético, para o qual a natureza, a vida e a consciência se constituem de matéria em movimento e evolução permanente, e o materialismo histórico, para o qual o modo de produção é a base determinante dos fenômenos históricos e sociais, inclusive as instituições jurídicas e políticas, a moralidade, a religião e as artes. Para alguns estudiosos, o termo materialismo dialético, esboçado por Engels e desenvolvido por Lênin e Trotski, é uma expressão inexistente na obra de Marx, que, por sua vez, utilizara apenas os termos dialética e método dialético.
A teoria marxista desenvolve-se em quatro níveis de análise: filosófico, econômico, político e sociológico em torno da ideia central de mudança. Em suas Thesen über Feuerbach (1845, publicadas em 1888; Teses sobre Feuerbach), Marx escreveu: "Até o momento, os filósofos apenas interpretaram o mundo; o fundamental agora é transformá-lo." Para transformar o mundo é necessário vincular o pensamento à prática revolucionária. Interpretada por diversos seguidores, a teoria tornou-se uma ideologia que se estendeu a regiões de todo o mundo e foi acrescida de características nacionais. Surgiram assim versões como as dos partidos comunistas francês e italiano, o marxismo-leninismo na União Soviética, as experiências no leste europeu, o maoísmo na China e Albânia e as interpretações da Coréia do Norte, de Cuba e dos partidos únicos africanos, em que se mistura até com ritos tribais. As principais correntes do marxismo foram a social-democracia, o bolchevismo e o esquerdismo.
Praticamente todas as artes receberam influência do Marxismo através de teóricos que buscaram importar as ideias da luta de classes e da importância do engajamento dos intelectuais em tais discussões.
Na literatura, por exemplo, nos anos 70, a chamada crítica marxista pregava que a análise de textos literários deveria desconsiderar o estudo biográfico do autor e se fixar na análise dos acontecimentos ficcionais a partir da visão da luta de classes.
Essa perspectiva, e não apenas na literatura, mas em todas as artes, desenvolveu-se em um cerceamento da liberdade de muitos artistas que se viram desprestigiados por críticos e pela classe artística caso não abordassem em suas obras uma "temática social".
Em sua concepção mais recente, a crítica marxista procura intertextualizar a arte com a história, a sociologia e outras áreas do saber científico social.
História
Pode-se dizer que o pensamento de Karl Marx (1818-1883) se apóia, numa certa medida, em três tradições intelectuais já bem desenvolvidas na Europa do século XIX: 1ª) A Filosofia Alemã, 2ª) O Pensamento Econômico Britânico e 3ª) A Teoria Política Francesa. A partir desse postulado, este trabalho se propõe a analisar a maneira como tais tradições foram apropriadas ao materialismo histórico, caracterizando-as, ainda que de forma sucinta, para uma melhor definição do contexto intelectual da vida desse pensador que, embora muito revisado e criticado atualmente, permanece como elemento que influenciará muitas das ideias "modernas", tanto no campo da filosofia, como nas áreas de ciências humanas e artes.
Pensamento Filosófico Alemão - Hegel & Feuerbach
Os elementos filosóficos de Marx foram em boa parte baseados no pensamento de Friedrich Hegel (1770-1831). A influência que a filosofia de Hegel teve sobre Marx exerceu-se por intermédio de duas fontes diferentes nas quais o hegelianismo surgiu.
Uma dessas fontes foi os ensinamentos de Eduard Gans  (1797-1839), que aliava o hegelianismo a elementos do Saint-Simonismo. Outra fonte foi a obra de Ludwig Feuerbach (1804-1872) A essência do Cristianismo, de 1841.
Entretanto, Marx não adotou integralmente as ideias de Feuerbach. Mas em muitos pontos dos Manuscritos Econômicos e Filosóficos, obra de 1844, está patente esta influência. Feuerbach tentava inverter as premissas idealistas da filosofia de Hegel, afirmando categoricamente que o estudo da humanidade tem de ser feito a partir do homem real, vivendo num mundo real e material. Ao contrário de Hegel que considera o real como uma emanação do divino, para ele o divino é um produto ilusório do real, o ser precede o pensamento, na medida em que os homens não começam a refletir sobre o mundo antes de nele agirem. Hegel pensava a evolução da comunidade em termos de uma divisão de deus contra si mesmo. Para Feuerbach, deus é um ser inventado, no qual o homem projetou os seus mais altos poderes e faculdades, e que é assim considerado perfeito e todo poderoso. Por outro lado, porém, segundo Feuerbach, a comparação entre deus e o homem pode constituir uma inspiração positiva para a realização das capacidades humanas. Compete à Filosofia ajudar o homem a recuperar sua essência alienada através de uma crítica transformadora que inverta a perspectiva hegeliana e afirme o primado do mundo material.
O que Marx filtrou de Feuerbach e Hegel eram as possibilidades que essas filosofias ofereciam para operar uma síntese entre a análise crítica e realizar a filosofia. Contudo, Marx nunca renunciou à perspectiva histórica de Hegel.
Pensamento Político Francês - Proudhon, Conde de Saint-Simon & Charles Fourier
Desde o século XVI, autores como Thomas More (1478-1535) e Tommaso Campanella (1568-1639) imaginavam uma sociedade de iguais. Na França do século XVIII, o revolucionário Gracchus Babeuf (1760-1797) escreve o manifesto dos iguais que coloca o abismo que separa a igualdade formal da tríade “liberdade, igualdade, fraternidade” e a desigualdade real. No século XIX, com as condições econômicas e o capitalismo se desenvolvendo desde a revolução industrial, as cidades incham de proletários com baixos salários. As críticas ao liberalismo resultam da constatação de que a livre concorrência não trouxe o equilíbrio prometido e, ao contrário, instaurou uma ordem injusta e imoral. As novas teorias exigem então a igualdade real e não apenas a ideal. Em 1864 é fundada em Londres a Associação Internacional dos Trabalhadores, mais tarde conhecida como Primeira Internacional (face à segunda, terceira e quarta, constituídas posteriormente), visando a luta para emancipação do proletariado.
Esta união de grupos operários de vários países europeus teve em Marx seu principal inspirador e porta-voz, tendo este lhe dedicado boa parte do seu tempo.
Na França, o pensamento socialista teve como porta-vozes Saint-Simon, Fourier e Proudhon, mas sem haver ocorrido uma grande industrialização tal como na Inglaterra.
Os diversos teóricos do socialismo têm ideias diferentes e propõem soluções diversas, mas é possível reconhecer traços comuns:
Tentam reformar a sociedade através da boa vontade e participação de todos.
Todas as tentativas não vão além de uma tendência fortemente filantrópica e paternalista: melhoria de alojamentos e higiene, construção de escolas, aumento de salários, redução de horas de trabalho.
Saint-Simon pensa uma sociedade industrial dirigida por produtores (classe operária, empresários, sábios, artistas e banqueiros). Fourier tenta organizar os Falanstérios (pequena unidade social abrangendo entre 1.200 e 5.000 pessoas vivendo em comunidade). Proudhon teve plena consciência do antagonismo entre as classes, afirmava que a propriedade privada significava uma espoliação do trabalho. Ele preconizava a igualdade e a liberdade, que para ele era sinônimo de solidariedade, pois o homem mais livre é aquele que encontra no outro uma relação de semelhantes. Isso já é um forte indício de uma crítica ao individualismo da concepção burguesa de liberdade.
Segundo Marx e Engels, os socialistas utópicos são inócuos porque são paternalistas, pois eles não colocam nenhuma iniciativa histórica e nenhum movimento político que lhe seja próprio. Idealistas, não reconhecem quais seriam as condições materiais da emancipação. Ainda segundo Marx e Engels, eles são moralistas, pretendem reformar a sociedade pela força do exemplo, pensam que as experiências em pequenas escalas poderão se frutificar e se expandir, por meios pacíficos. A grande questão aqui é também histórica, está dentro da pretensão cientificista do século XIX, positivista, que vê no socialismo utópico o precursor ultrapassado do marxismo científico, que mostra o movimento operário em sua plenitude.
Pensamento Econômico Britânico - Adam Smith & David Ricardo
No tocante às questões de ordem econômica, Marx tinha como pano de fundo o pensamento econômico conhecido como a Escola Clássica, constituída basicamente pelo pensamento econômico britânico, com destaque para Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1772-1823). Assim, escreve Paul Singer em sua introdução ao pensamento econômico de Marx:
Quando Marx começou a se dedicar ao estudo da economia política, na quinta década do século XIX, esta ciência já tinha recebido uma formulação teórica bastante completa, abrangentemente sofisticada por uma série de autores, que passaram a ser conhecidos como "clássicos". Estes autores produziram suas principais obras no último quartel do século XVIII e no primeiro quartel do século XIX e eram, em sua maioria da Grã-Bretanha - onde transcorria então a Revolução Industrial
O pensamento clássico se desenvolve na Grã-Bretanha durante segunda metade do século XVIII e no século XIX, centrando suas reflexões nas transformações do processo produtivo, trazidas pela Revolução Industrial. Adam Smith afirma que não é ouro ou qualquer outro metal que determina a prosperidade de uma nação, mas sim o trabalho humano. Em consequência disso, qualquer mudança que aprimore as forças produtivas enriquece uma nação. A principal delas – além da mecanização – é a divisão social do trabalho, amplamente estudada por ele. A Escola Clássica também aborda as causas das crises econômicas, as implicações do crescimento populacional e a acumulação de capital.
O pensamento econômico de Marx aparece exposto em Grundrisse der Kritik der politischen Ökonomie (Fundamentos da Crítica da Economia Política), de 1857 e em Das Kapital (O Capital), de 1867-1869. Sua teoria econômica marxista procura explicar como o modo de produção capitalista propicia a acumulação contínua de capital, e sua resposta está na confecção das mercadorias. Elas resultam da combinação de meios de produção (ferramentas, máquinas e matéria-prima) e do trabalho humano. No marxismo, a quantidade de trabalho socialmente necessária para produzir uma mercadoria é o que determina o seu valor. A ampliação do capital ocorre porque o trabalho produz valores superiores ao dos salários (que é a força de trabalho). A esse diferencial, que irá se tornar um conceito fundamental da teoria de Marx, é considerado a fonte dos lucros e da acumulação capitalista.
A Mais-valia
O que faz o valor de uma mercadoria? Eis uma pergunta que instigou os economistas da Escola Clássica e que levou Marx a desenvolver o conceito da “mais-valia”, que é descrita por Paul Singer no excerto abaixo:
“Marx repensa o problema nos seguintes termos: cada capitalista divide seu capital em duas partes, uma para adquirir insumos (máquinas, matérias-primas) e outra para comprar força de trabalho; a primeira, chamada capital constante, somente transfere o seu valor ao produto final; a segunda, chamada capital variável, ao utilizar o trabalho dos assalariados, adiciona um valor novo ao produto final. É este valor adicionado, que é maior que o capital variável (daí o nome "variável": ele se expande no processo de produção), que é repartido entre capitalista e trabalhador. O capitalista entrega ao trabalhador uma parte do valor que este último produziu, sob forma de salário, e se apropria do restante sob a forma de mais-valia
Na verdade, o trabalhador produz mais do que foi calculado, ou seja, a força de trabalho cria um valor superior ao estipulado inicialmente. Esse trabalho excedente não é pago ao trabalhador e serve para aumentar cada vez mais o capital. Insere-se neste ponto a questão da alienação - o produtor não se reconhece no que produz; o produto surge como um poder separado do produtor. O produto surge então como algo separado, como uma realidade soberana – o fetichismo da mercadoria. Mas o que faz com que o homem não perceba? A resposta, de acordo com Marx, está na ideologia dominante, que procura sempre retardar e disfarçar as contradições politicamente. Portanto, a luta de classes só pode ter como objetivo a supressão dessa extorsão e a instituição de uma sociedade na qual os produtores seriam senhores de sua produção.
Para Marx, o Estado não supera as contradições da sociedade civil, mas é reflexo delas, e está aí para perpetuá-las. Por isso, só aparentemente ele visa o bem comum, estando de fato a serviço da classe dominante. Ao lutar contra o poder da burguesia, o proletariado deve destruir o poder estatal, o que não será feito por meios pacíficos, mas sim pela revolução. A classe operária deve construir um novo estado capaz de suprir a propriedade privada, e a esse novo Estado dá-se o nome de ditadura do proletariado.
 Materialismo Histórico - Karl Marx & Friedrich Engels
O primeiro fruto da associação de Marx e Engels foi o texto A Sagrada Família, e logo depois a Ideologia Alemã, sendo neste segundo texto que aparece a primeira formulação geral das bases do materialismo histórico. O próprio Marx afirma que foi a análise da filosofia do Estado de Hegel que o levou a tirar a conclusão de que “as relações legais, tal como as formas de Estado, têm de ser estudadas não por si próprias, ou em função de uma suposta evolução geral do espírito humano, mas antes como radicando em determinadas condições materiais da vida”.
A concepção do Materialismo Histórico, exposta em A Ideologia Alemã difere-se do Materialismo de Feuerbach. Para Marx, a história é um processo de criação, satisfação, e recriação contínuas das necessidades humanas; é isso que distingue o homem dos animais, cujas necessidades são fixas e imutáveis. Quando pretendemos estudar a evolução da sociedade humana, temos de partir do exame empírico dos processos concretos da vida social da existência humana. Os seres humanos não devem ser considerados num isolamento, mas num processo de evolução real, a que estão submetidos em determinadas condições. Desde o momento em que este processo passa a ser descrito, a história deixa de ser uma coleção de fatos mortos ou uma atividade inventada de sujeitos inventados. Quando se descreve uma realidade, a filosofia como ramo independente do conhecimento deixa de existir.
Separadas da história, essas abstrações não têm qualquer valor. Servem apenas para facilitar o ordenamento histórico, não fornecendo, porém, um esquema de interpretação das épocas da história. Cada um dos vários tipos de sociedade identificados por Marx caracteriza-se por uma dinâmica interna de evolução própria. Mas essas características só podem ser identificadas e definidas mediante uma análise Ex post facto. Atribuir finalidade à história não passa de uma distorção teleológica, que transforma a história recente na finalidade da historia mais antiga. A tipologia da sociedade estabelecida por Marx baseia-se no reconhecimento de uma diferenciação progressiva da divisão do trabalho.
Em outras palavras, o que Marx explicitou foi que, embora possamos tentar compreender e definir o ser humano pela consciência, pela linguagem e pela religião, o que realmente o caracteriza é a forma pela qual reproduz suas condições de existência. Fundamental, portanto, é análise das condições materiais da existência numa dada sociedade.
 Materialismo dialético.
O mundo não é uma realidade estática, ela é dinâmica, pois no contexto dialético, também o espírito não é consequência passiva da ação da matéria, podendo reagir sobre aquilo que o determina. Isso significa que a consciência, mesmo sendo determinada pela matéria e estando historicamente situada, não é pura passividade: o conhecimento do determinismo liberta o homem por meio da ação deste sobre o mundo, possibilitando inclusive a ação revolucionária. Assim, Marx se denominava um materialista, não idealista. O Materialismo Histórico e o Materialismo Dialético podem, grosso modo, serem tomados por termos intercambiáveis, sendo o primeiro mais adequado ao se tratar de “coisas humanas” e o segundo adequado para aspectos não-humanos, universais etc. Engels acabou desenvolvendo mais do que Marx acerca do Materialismo Dialético.
Ainda que a afirmação de Marx de que suas ideias eram científicas tenha sido refutada veementemente, principalmente após a publicação, em 1934, de A Lógica da Pesquisa Científica, de Karl Popper (1902-1994) e derrocada dos países denominados socialistas, a cientificidade dos estudos das ciências humanas, tal como a História, não deve ser automaticamente desconsiderada. O “erro” de Marx, talvez, possa ter sido o de superestimar a predicabilidade das sociedades humanas. Sem dúvida, nenhum dos países que se autoproclamavam marxistas trilhou os rumos profetizados por Marx. Contudo, juntos eles representavam quase um terço de toda a população mundial, o que talvez coloque Karl Marx como um dos pensadores de maior influência na história. Ainda que pouco predizíveis, as sociedades humanas certamente devem render muitas graças a este pensador nascido em Trier, pelos grandes avanços teórico-metodológicos prestados ao campo das ciências humanas durante o século XIX.

Referências
BORGES, Vavy P. O que é história. SP: Brasiliense, 1987.
GIDDENS, Anthony. Capitalismo e moderna teoria social. Lisboa: Presença, 1994.
MAGEE, Bryan. História da filosofia. SP: Loyola, 2000.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. SP: Grijalbo, 1977.
SINGER, Paul (org.). Marx, in: Grandes Cientistas Sociais Vol. 31. SP: Ática, 1982.
Retirado de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Marxismo"

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 Texto 002b             
O Materialismo Histórico-Dialético
Lucas Maia Santos[1]
Objetivamos neste estudo investigar qual a concepção que Marx possui sobre Método dialético e materialismo histórico. Vários de seus epígonos se dedicaram ao desenvolvimento do materialismo histórico-dialético, uns aprofundando, outros deformando os estudos iniciados por Marx. O pensador alemão não dedicou nenhum texto específico, nenhum estudo mais aprofundado sobre sua teoria materialista da história. Assim, para se compreender o materialismo histórico de maneira mais adequada e mais próxima às teses de Marx, devemos compreender como ele desenvolveu-as ao longo de toda sua obra. Tanto as chamadas obras de juventude quanto as de maturidade, de uma ou outra maneira, tocam nesta questão. Seja considerando-a teoricamente, seja aplicando-a a casos histórico-concretos.
As principais obras de Marx, nas quais, em algum momento ele desenvolve suas teses sobre o materialismo histórico são: A Ideologia Alemã, Manifesto do Partido Comunista, Formações Econômicas Pré-capitalistas, prefácio de Contribuição à Crítica da Economia Política, O Capital etc. Marx nunca utilizou a expressão materialismo histórico, mas como sua concepção da história é materialista, não há nenhum problema em utilizar tal expressão. Bem, mas onde se encontra a gênese e a essência do materialismo histórico? Viana nos dá a seguinte explicação:

Marx recupera e une as teses de Hegel e Feuerbach. A dialética de Hegel está carregada de historicidade, embora seja uma historicidade “idealista” e teleológica, e a dialética de Feuerbach está carregada de “materialismo”, embora seja um “materialismo” sem historicidade. A união da historicidade da dialética hegeliana com o “materialismo” da dialética feuerbachiana proporciona o materialismo histórico de Marx.
Entretanto, isto apenas é o ponto de partida do materialismo histórico que irá se enriquecer com a contribuição do chamado “socialismo utópico”, da “economia política inglesa”, das pesquisas históricas de Marx e, principalmente, do desenvolvimento histórico da Europa Ocidental. Marx, como Feuerbach, transfere a dialética da consciência para o ser, mas compreende este como sendo carregado de historicidade e que, portanto, é a natureza humana em sua manifestação concreta, ou seja, o ser social e este só pode ser compreendido em sua historicidade, que é retirada da consciência (que possui uma historicidade dependente) e transmitida ao ser social. (Viana, 1997, p: 75)
A ideia de ser social é fundamental para o entendimento do materialismo histórico. A natureza humana a-histórica de Feuerbach, embora seja uma concepção materialista, não considera o ser enquanto ser histórico, ou seja, condicionado historicamente. É a partir do ser social que Marx vai considerar o desenvolvimento das civilizações humanas. Se analisarmos, tanto textos de sua juventude, quanto textos de maturidade, vemos uma unidade entre ambos. Em A Ideologia Alemã, por exemplo, tem-se os elementos fundamentais do materialismo histórico, embora ainda embrionários. Vários conceitos fundamentais do materialismo histórico estão ali lançados, mas não desenvolvidos satisfatoriamente. Nesta obra, por exemplo, Marx ainda não tinha desenvolvido, de maneira mais sistemática, o conceito de modo de produção. Mas o que ele chama de “formas de propriedade” são na realidade o que posteriormente ele denominará de “modo de produção”. Assim, neste texto, tem-se as formas de propriedade tribal, escravista, feudal e moderna (a propriedade sob forma capitalista). No prefácio de Contribuição à Crítica da Economia Política, por exemplo, ele denomina estas “formas de propriedade” de “modo de produção” primitivo, escravista, feudal e capitalista. Neste texto ele acrescenta o modo de produção asiático, forma de sociedade que ele ainda não conhecia no período da redação de A Ideologia Alemã. O conceito de modo de produção adquire fundamental importância para o entendimento do que é o materialismo histórico. O modo de produção é constituído pelo conjunto das relações de produção e das forças produtivas (meios de produção e força de trabalho). Cada modo de produção possui formas específicas de regularização (estado, ideologia, política, religião etc.). Ao conjunto das formas de regularização e do modo de produção, Marx denominou de sociedade.

Se o desenvolvimento da sociedade pressupõe sua transformação então é imprescindível saber o que gera tal transformação. A esta questão, Marx deu a seguinte resposta “A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes” (Marx, 1967, p: 93) - (grifo nosso).

Os conceitos fundamentais do materialismo histórico são: Modo de produção (relações de produção e forças produtivas), Formas de regularização (filosofia, política, estado etc), Luta de classes (motor, alavanca, força motriz da história). É necessário pararmos aqui e discutirmos como se dá a relação entre modo de produção e formas de regularização. Algumas frases de Marx, se consideradas separadamente do todo, como muitos ditos “marxistas” fizeram, podem dar a impressão de que as formas de regularização são passivas diante do modo de produção. “A estrutura determina a superestrutura”, disse Marx em A Ideologia Alemã. No Prefácio ele diz: “A estrutura condiciona a superestrutura”. Assim, não podemos afirmar que há um determinismo em Marx, como muitos fizeram, pois hora fala em determina, hora fala em condiciona. Mas se analisarmos com cuidado o que ele diz, verificamos que esta, poderíamos dizer, displicência terminológica, evidencia que isto não era uma preocupação para ele. Se analisarmos outros textos, como por exemplo A Miséria da Filosofia, vemos que ele ao falar que quando a teoria se encontra nas massas também se torna ela força material ou quando, no Prefácio, fala que a superestrutura tem uma autonomia relativa em relação ao modo de produção, etc. é fácil notar que não há nenhum determinismo econômico em Marx e portanto no materialismo histórico. Neste sentido, o que podemos dizer, segundo Marx, o que determina ou condiciona, em última análise é a forma ou formas de produção material, ou seja, o modo de produção, mas ele, por sua vez, sofre influência das formas de regularização e estas são condicionadas pelo modo de produção e reprodução da vida. 
Paralelamente e para a elaboração de sua teoria da história, Marx também desenvolveu um recurso metodológico, o método dialético. Os textos nos quais ele desenvolveu sua concepção sobre este tema são: Método da Economia Política (II capítulo de Contribuição à Crítica da Economia Política), A Miséria da Filosofia, Carta a Annenkov, Prefácio à primeira edição de O Capital bem como o Prefácio à segunda edição. Segundo Marx, no texto em que melhor desenvolveu o método dialético (O Método da Economia Política):

Parece que o melhor método será começar pelo real e pelo concreto, que são a condição prévia e efetiva” (Marx, 1983. p: 218). Assim, a pesquisa deve se iniciar pelo existente, pelo concreto-dado. Mas o que é o concreto-dado? “o concreto é concreto por ser  a síntese de múltiplas determinações, logo, unidade na diversidade” (Marx, 1983).

A pesquisa deve se iniciar pelo concreto-dado. O concreto é a síntese de múltiplas determinações. Como proceder então para teorizar sobre este concreto-dado, que independe de nossa existência e tem como característica ser totalizador, ou seja, o concreto é a totalidade.
Sobre isto, no Prefácio à primeira edição de O Capital, Marx compara o processo de pesquisa realizado pelas ciências naturais com o das ciências sociais. Afirma que nas ciências naturais é mais fácil estudar o organismo como um todo do que suas partes e que no estudo das sociedades não se pode utilizar nem reagentes químicos nem microscópio, esses meios devem ser substituídos pela “faculdade de abstrair”.
É justamente pela faculdade de abstrair e pelo estudo das categorias mais simples que se pode apreender e explicar o concreto-dado, ou seja, é a partir da abstração de categorias mais simples que deve se iniciar o processo de pesquisa, após iniciado estes processo deve-se chegar, por abstrações sucessivas, a abstrações cada vez mais complexas. Mas não devemos nos enganar, como muitos fizeram, e acharmos que as categorias são imutáveis e a-históricas. Não devemos pensar também que estas categorias são formulações ideais para depois serem aplicadas em casos concretos. Sobre isto, em sua crítica a Proudhon, Marx assim se manifesta:

As categorias econômicas não são senão as expressões teóricas, as abstrações das relações sociais de produção. (...) Os homens que estabelecem as relações sociais de acordo com a sua produtividade material, produzem também os princípios, as ideias, as categorias, de acordo com suas relações sociais. Assim, estas ideias, estas categorias são tão pouco eternas quanto as relações que exprimem. São produtos históricos e transitórios (Marx, s/d, p: 94).

Após iniciada a pesquisa, pelo concreto-dado, devemos reconhecer que o concreto é o ponto de chegada, pois ele é síntese, resultado. Desta maneira, ele é o ponto de chegada, embora seja o verdadeiro ponto de partida.
Isto quer dizer que o objetivo da pesquisa é explicar o concreto, ou seja, a realidade. Para isto devemos transpor, pela faculdade de abstração, o concreto-dado para nossa mente, produzindo assim o concreto-pensado, que é na realidade o concreto-dado transposto para mente humana. Após feita esta transposição, deve-se voltar novamente o concreto-pensado para o concreto-dado, pois os dois devem estar em íntima relação, pois se fosse de outra forma, a pesquisa não teria sentido, na medida em que não conseguiria explicar a realidade, fim último de qualquer pesquisa realmente compromissada e livre.
A respeito desta relação entre concreto-dado e concreto-pensado, Viana assim se refere:

(...) o concreto-determinado é o concreto-pensado, mas na realidade ele já é determinado antes de ser pensado. No concreto-determinado já existe e se manifesta as determinações que buscamos descobrir e que são suas partes constituintes. A reconstrução mental deste concreto significa descobrir suas determinações e torná-lo concreto-pensado, o que significa reconhecê-lo concreto-determinado. O ponto de chegada da pesquisa é reconhecer a realidade social como ela é: um concreto determinado (Viana, 2001, p. 59).

Neste sentido, de tudo o que foi exposto, podemos concluir que o materialismo histórico é o método dialético e que o método dialético é o materialismo histórico, ou seja, ambos são uma única e mesma coisa. Mas é necessário distinguir que o materialismo histórico é produto e condição do método dialético e que o método dialético é produto e condição do materialismo histórico.
O materialismo histórico-dialético, pois podemos chamá-lo assim,

(...) e ao mesmo tempo um recurso heurístico e uma teoria. O ´prefácio` que Marx escreveu à contribuição á crítica da economia política é um recurso heurístico e quando ele se manifesta numa análise concreta, por exemplo numa análise da sociedade feudal, torna-se uma teoria. (Viana, 1997, p. 76).

O materialismo histórico-dialético, enquanto recurso heurístico, deve ser considerado como “fio condutor”, termo que o próprio Marx utiliza no Prefácio de Contribuição à Crítica da Economia Política e não como um modelo no qual a realidade deve ser enquadrada. Ainda, segundo Viana (1997) o método dialético (o materialismo histórico-dialético considerado como recurso heurístico) está em íntima relação e correspondência com o mundo real, concreto. É justamente aí que reside o caráter revolucionário do materialismo histórico-dialético, pois não devemos considerá-lo simplesmente como um procedimento metodológico, isento de valores e intencionalidades, destituído de perspectivas. Podemos ver isto, por exemplo, no Prefácio de O Capital. Neste texto, Marx assim se refere: “Não foi róseo o colorido que dei às figuras do capitalista e do proprietário de terras. (...)” (Marx, 1985, p: 6).
Isto evidencia que Marx parte de uma perspectiva, no caso, a perspectiva da qual ele parte é a do proletariado [1]. Assim, Marx, na sua crítica a Proudhon, fala que enquanto os cientistas (Marx se refere somente aos economistas, mas podemos estender esta crítica às demais ciências: sociologia, história, biologia, geografia etc.) representam a burguesia, os socialistas e comunistas são os representantes da classe operária.
Neste sentido, enquanto os cientistas:

Procuram a ciência e apenas fazem sistemas, enquanto estão no começo da luta, não vêem na miséria senão a miséria, sem ver nela o lado revolucionário, subversivo, que derrubará a velha sociedade. Desde este momento, a ciência produzida pelo movimento histórico, e nele se associando com pleno conhecimento de causa, cessa de ser doutrinária e se torna revolucionária (Marx, s/d, p: 108).

Assim fica evidenciado o caráter revolucionário do materialismo histórico-dialético, pois ele só tem sentido se estiver em inteira correspondência com o mundo real e só tem sentido se for compreendido como representante da classe revolucionária de nossa época, ou seja, se expressar um movimento revolucionário. Desta maneira, para se partir de uma perspectiva dialética, torna-se importante lembrar a citadíssima décima primeira tese sobre Feuerbach: “os filósofos até hoje se preocuparam em interpretar o mundo, o que importa é transformá-lo”. 

Texto 002c
Materialismo Histórico[2]
Gisele Auxiliadora Ferreira
KARL MARX
O que você entende por materialismo histórico? O que são forças produtivas? E relações de produção?
O alemão Karl Marx (1818-1883) desenvolveu a teoria socialista partindo da análise crítica e científica do capitalismo. Ele não se preocupava em pensar como seria uma sociedade ideal, mas sim, preocupava-se em compreender a dinâmica do capitalismo, e para tal, estudou a fundo suas origens, a acumulação de capital, a consolidação da produção, e suas contradições (que inevitavelmente, esse sistema seria destruído por si só - em sua dinâmica evolutiva geraria elementos que acabaria por destruí-lo).
Os princípios básicos que fundamentaram o socialismo marxista podem ser sintetizados em três teorias centrais: A Teoria Da Mais-Valia, onde se demonstrava a maneira pelo qual o trabalhador é explorado na produção capitalista; A Teoria Da Luta Das Classes, onde se afirma que a história da sociedade humana é a história da luta das classes ou do conflito permanente entre exploradores e explorados; e, finalmente, a Teoria Do Materialismo Histórico.
Marx dedicou-se a um estudo intensivo da história, e criou uma teoria que veio a ser conhecida como a concepção materialista da história, que foi exposta num trabalho em que esboça a história dos vários modos de produção, prevendo o colapso do modo de produção vigente - o capitalismo. O materialismo histórico é uma teoria sobre toda e qualquer forma produtiva criada pelo homem de acordo com seu ambiente ao longo do tempo, onde se evidencia que os acontecimentos históricos são determinados pelas condições materiais (econômicas) da sociedade. Dentre as ideias do materialismo histórico, relevam-se as questões das forças produtivas e relações de produção.
Marx afirmou que a estrutura de uma sociedade depende da forma como os homens organizam a produção social de bens. A produção social, segundo ele, engloba dois fatores básicos: as forças produtivas e as relações de produção. As forças produtivas constituem as condições materiais de toda a produção. Representam as matérias-primas, os instrumentos, as técnicas de trabalho e até os próprios homens. Reconhece-se o grau de desenvolvimento das forças produtivas de uma nação a partir do aperfeiçoamento da divisão do trabalho. As relações de produção são as formas pelas quais os homens se organizam para executarem a atividade produtiva. Elas se referem às diversas maneiras pelas quais são apropriados e distribuídos os elementos envolvidos no processo de trabalho. Assim, as relações de produção podem ser cooperativistas (como um mutirão), escravistas (como na antiguidade), servis (como na Europa feudal) e capitalistas (como na indústria moderna).
Forças produtivas e relações de produção são condições naturais e históricas de toda a atividade produtiva que ocorre em sociedade. A forma pela qual ambas existem e são reproduzidas numa determinada sociedade constitui o que Marx determinou de modo de produção. Para ele, o estudo deste é muito importante para a compreensão de como se organiza a sociedade.

Referências Bibliográficas
MARX, K. & ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo, Martins Fontes, 2002.
MARX, K. & ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre, L&PM, 2002.
MARX, K. A Miséria da Filosofia. São Paulo, Livraria Exposição do Livro, s/d.
MARX, K. Contribuição à Crítica da Economia Política. São Paulo, Martins Fontes, 1983.
MARX, K. Formações Econômicas Pré-Capitalistas. 3º ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981.
MARX, K. Manifesto do Partido Comunista. In: LASKI, H. J. Manifesto Comunista de Marx e Engels. Rio de janeiro: Zahar, 1967.
MARX, K. O Capital: Crítica da Economia Política. Livro 1, Volume 1. São Paulo, DIFEL, 1985.
VIANA, Nildo. A Consciência da História: Ensaios Sobre o Materialismo Histórico-Dialético. Goiânia, Edições Combate, 1997.
VIANA, Nildo. Escritos Metodológicos de Marx. 2ª edição, Goiânia, Edições Germinal, 2001.


[1] In: Revista Possibilidades. Publicação do NPM - Núcleo de Pesquisa Marxista. Ano 1, num. 2, Out./Dez. de 2004.  p 05-08. Disponível em http://www.npmueg.ubbihp.com.br/pos2-1lucasantos.html acessado em 01/05/2007.
  [2] Disponível em: http://www.coladaweb.com/hisgeral/materialismo_historico.htm. Acessado em 01/05/2007

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