INTRODUÇÃO
Freud empregou a
palavra “aparelho” para caracterizar uma organização psíquica dividida em
sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções específicas para cada uma delas,
que estão interligadas entre si, ocupando um certo lugar na mente. Em grego,
“topos” quer dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um “modelo de
lugares”, sendo que Freud descreveu a dois deles: a “Primeira Tópica” conhecida
como Topográfica e a “Segunda Tópica”, como Estrutural. A noção de “aparelho
psíquico”, como um conjunto articulado de lugares – virtuais – surge mais
claramente na obra de Freud em “A interpretação dos sonhos” de 1900, no qual,
no célebre capítulo sete, ele elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho
óptico, de como esse processa a origem, transformação e o objetivo final da
energia luminosa. Nesse modelo tópico, o aparelho psíquico é composto por três
sistemas: o inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o consciente (Cs).
Algumas vezes, Freud denomina a este último sistema de sistema
percepção-consciência.
O sistema
consciente tem a função de receber informações provenientes das excitações
provenientes do exterior e do interior, que ficam registradas qualitativamente
de acordo com o prazer e/ou, desprazer que elas causam, porém ele não retém
esses registros e representações como depósito ou arquivo deles. Assim, a maior
parte das funções perceptivo-cognitivas-motoras do ego – como as de percepção,
pensamento, juízo crítico, evocação, antecipação, atividade motora, etc.,
processam-se no sistema consciente, embora esse funcione intimamente conjugado
com o sistema Inconsciente, com o qual quase sempre está em oposição. O sistema
pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e, tal como
sugere no “Projeto”, onde ele aparece esboçado com o nome de “barreira de
contato”, funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode,
ou não, passar para o consciente. Ademais, o pré-consciente também funciona
como um pequeno arquivo de registros, cabendo-lhe sediar a fundamental função
de conter as representações de palavra, conforme foi conceituado por Freud,
1915.
O sistema
inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Por herança
genética, existem pulsões, acrescidas das respectivas energias e
“protofantasias”, como Freud denominava as possíveis fantasias atávicas que
também são conhecidas por “fantasias primitivas, primárias ou originais”. As
pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de repressão
secundária. Uma função que opera no sistema inconsciente e que representa uma
importante repercussão na prática clínica é que ela contém as representações da
coisa. Portanto, numa época em que as representações ficaram impressas na mente
quando ainda não havia palavras para nomeá-las. Funcionalmente, o sistema
inconsciente opera segundo as leis do processo primário e, além das pulsões do
id, tem também muitas funções do ego, bem como do superego.
Inconsciente - Definição
É o conteúdo
ausente, em um dado momento, da consciência, que está no centro da teoria
psicanalítica. O adjetivo inconsciente é por vezes usado para exprimir o conjunto
dos conteúdos não presentes no campo efetivo da consciência, isto num sentido
“descritivo” e não “tópico”, quer dizer, sem se fazer discriminação entre os
conteúdos dos sistemas pré-consciente e inconsciente.
No sentido
“tópico”, inconsciente designa um dos sistemas definidos por Freud no quadro da
sua primeira teoria do aparelho psíquico. É constituído por conteúdos
recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente–consciente
pela ação do recalque originário e recalque a posteriori. Freud acentuou desde
o início que o sujeito modifica a posteriori os acontecimentos passados e que
essa modificação lhes confere um sentido e mesmo uma eficácia ou um poder
patogênico.
Podemos resumir do
seguinte modo às características essenciais do inconsciente como sistema (ou
Ics):
a) Os seus
“conteúdos” são “representantes” das pulsões; b) Estes “conteúdos” são regidos
pelos mecanismos específicos do processo primário, principalmente a condensação
e o deslocamento; c) Fortemente investidos pela energia pulsional, procuram
retornar à consciência e à ação (retorno do recalcado); mas só podem ter acesso
ao sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso, depois de terem sido submetidos
às deformações da censura. d) São, mais especialmente, desejos da infância que
conhecem uma fixação no inconsciente.
A abreviatura Ics
(Ubw do alemão Unbewusste) designa o inconsciente sob a sua forma substantiva
como sistema; ics (ubw) é a abreviatura do adjetivo inconsciente (unbewusste)
enquanto qualifica em sentido estrito os conteúdos do referido sistema. No
quadro da segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado, sobretudo na
sua forma adjetiva; efetivamente, inconsciente deixa de ser o que é próprio de
uma instância especial, visto que qualifica o id e, em parte, o ego e o
superego. Mas convém notar que as características atribuídas ao sistema Ics na
primeira tópica são de um modo geral atribuídas ao Id na segunda. A diferença
entre o pré-consciente e o inconsciente, embora já não esteja baseada numa
distinção intersistêmica, persiste como distinção intra-sistêmica (o ego o
superego são em parte pré-conscientes e em parte inconscientes).
Histórico
O sonho foi para
Freud o caminho por excelência da descoberta do inconsciente. Os mecanismos
(deslocamento, condensação, simbolismo) evidenciados no sonho em “A
interpretação de sonhos” de 1900 e constitutivos do “processo primário” são
reencontrados em outras formações do inconsciente (atos falhos, chistes,
lapsos, etc.), equivalentes aos sintomas pela sua estrutura de compromisso e
pela sua função de “realização de desejo”. O inconsciente freudiano é, em
primeiro lugar, indissoluvelmente uma noção tópica e dinâmica, que brotou da
experiência do tratamento. Este mostrou que o psiquismo não é redutível ao
consciente e que certos “conteúdos” só se tornam acessíveis à consciência
depois de superadas certas resistências.
O termo
“inconsciente” havia sido utilizado antes de Freud para designar de forma
global o não-consciente. Freud afasta-se da psicologia anterior, por uma
apresentação metapsicológica, isto é, por uma descrição dos processos psíquicos
em suas relações dinâmicas, tópicas e econômicas. Este é o ponto de vista
tópico, que permite localizar o inconsciente. Uma tópica psíquica não tem nada
a ver com a anatomia, refere-se a locais do aparelho psíquico. Este é “como um
instrumento” composto de sistemas, ou instâncias, interdependentes. O aparelho
psíquico é concebido sobre o modelo de um aparelho reflexo, do qual uma
extremidade percebe os estímulos internos ou externos, encontrando sua
resolução na outra extremidade, a motora. É entre esses dois pólos que se
constitui a função de memória do aparelho, sob a forma de traços mnésicos
deixados pela percepção que é conservado, mas sua associação, por exemplo,
conforme a simultaneidade, a semelhança, etc. A mesma excitação encontra-se,
portanto, fixada de forma diferente nas diversas camadas da memória. Como uma
relação de exclusão liga as funções da memória e da percepção, é preciso
admitir que nossas lembranças se tornam logo inconscientes.
No artigo “O
inconsciente” em 1915, Freud denomina-o “representante da pulsão”. Com efeito,
a pulsão, na fronteira entre o somático e o psíquico, está aquém da oposição
entre consciente e inconsciente; por um lado, nunca se pode tornar objeto da
consciência e, por outro, só está presente no inconsciente pelos seus
representantes, essencialmente o “representante-representação”. Para Freud, é
pela ação do “recalque” infantil que se opera a primeira clivagem entre o
inconsciente e o sistema Pcs-Cs. O inconsciente freudiano é “constituído”,
apesar de o primeiro tempo do recalque originário poder ser considerado mítico;
não é uma vivência indiferenciada.
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