20/04/2019

PRIMEIRA TEORIA DO APARELHO PSÍQUICO - (1ª TÓPICA) – Inconsciente, Pré-Consciente, Consciente - Parte 1


INTRODUÇÃO
Freud empregou a palavra “aparelho” para caracterizar uma organização psíquica dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções específicas para cada uma delas, que estão interligadas entre si, ocupando um certo lugar na mente. Em grego, “topos” quer dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um “modelo de lugares”, sendo que Freud descreveu a dois deles: a “Primeira Tópica” conhecida como Topográfica e a “Segunda Tópica”, como Estrutural. A noção de “aparelho psíquico”, como um conjunto articulado de lugares – virtuais – surge mais claramente na obra de Freud em “A interpretação dos sonhos” de 1900, no qual, no célebre capítulo sete, ele elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho óptico, de como esse processa a origem, transformação e o objetivo final da energia luminosa. Nesse modelo tópico, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o consciente (Cs). Algumas vezes, Freud denomina a este último sistema de sistema percepção-consciência.
O sistema consciente tem a função de receber informações provenientes das excitações provenientes do exterior e do interior, que ficam registradas qualitativamente de acordo com o prazer e/ou, desprazer que elas causam, porém ele não retém esses registros e representações como depósito ou arquivo deles. Assim, a maior parte das funções perceptivo-cognitivas-motoras do ego – como as de percepção, pensamento, juízo crítico, evocação, antecipação, atividade motora, etc., processam-se no sistema consciente, embora esse funcione intimamente conjugado com o sistema Inconsciente, com o qual quase sempre está em oposição. O sistema pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e, tal como sugere no “Projeto”, onde ele aparece esboçado com o nome de “barreira de contato”, funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode, ou não, passar para o consciente. Ademais, o pré-consciente também funciona como um pequeno arquivo de registros, cabendo-lhe sediar a fundamental função de conter as representações de palavra, conforme foi conceituado por Freud, 1915.
O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Por herança genética, existem pulsões, acrescidas das respectivas energias e “protofantasias”, como Freud denominava as possíveis fantasias atávicas que também são conhecidas por “fantasias primitivas, primárias ou originais”. As pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de repressão secundária. Uma função que opera no sistema inconsciente e que representa uma importante repercussão na prática clínica é que ela contém as representações da coisa. Portanto, numa época em que as representações ficaram impressas na mente quando ainda não havia palavras para nomeá-las. Funcionalmente, o sistema inconsciente opera segundo as leis do processo primário e, além das pulsões do id, tem também muitas funções do ego, bem como do superego.

Inconsciente - Definição
É o conteúdo ausente, em um dado momento, da consciência, que está no centro da teoria psicanalítica. O adjetivo inconsciente é por vezes usado para exprimir o conjunto dos conteúdos não presentes no campo efetivo da consciência, isto num sentido “descritivo” e não “tópico”, quer dizer, sem se fazer discriminação entre os conteúdos dos sistemas pré-consciente e inconsciente.
No sentido “tópico”, inconsciente designa um dos sistemas definidos por Freud no quadro da sua primeira teoria do aparelho psíquico. É constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente–consciente pela ação do recalque originário e recalque a posteriori. Freud acentuou desde o início que o sujeito modifica a posteriori os acontecimentos passados e que essa modificação lhes confere um sentido e mesmo uma eficácia ou um poder patogênico.
Podemos resumir do seguinte modo às características essenciais do inconsciente como sistema (ou Ics):
a) Os seus “conteúdos” são “representantes” das pulsões; b) Estes “conteúdos” são regidos pelos mecanismos específicos do processo primário, principalmente a condensação e o deslocamento; c) Fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à consciência e à ação (retorno do recalcado); mas só podem ter acesso ao sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso, depois de terem sido submetidos às deformações da censura. d) São, mais especialmente, desejos da infância que conhecem uma fixação no inconsciente.
A abreviatura Ics (Ubw do alemão Unbewusste) designa o inconsciente sob a sua forma substantiva como sistema; ics (ubw) é a abreviatura do adjetivo inconsciente (unbewusste) enquanto qualifica em sentido estrito os conteúdos do referido sistema. No quadro da segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado, sobretudo na sua forma adjetiva; efetivamente, inconsciente deixa de ser o que é próprio de uma instância especial, visto que qualifica o id e, em parte, o ego e o superego. Mas convém notar que as características atribuídas ao sistema Ics na primeira tópica são de um modo geral atribuídas ao Id na segunda. A diferença entre o pré-consciente e o inconsciente, embora já não esteja baseada numa distinção intersistêmica, persiste como distinção intra-sistêmica (o ego o superego são em parte pré-conscientes e em parte inconscientes).

Histórico
O sonho foi para Freud o caminho por excelência da descoberta do inconsciente. Os mecanismos (deslocamento, condensação, simbolismo) evidenciados no sonho em “A interpretação de sonhos” de 1900 e constitutivos do “processo primário” são reencontrados em outras formações do inconsciente (atos falhos, chistes, lapsos, etc.), equivalentes aos sintomas pela sua estrutura de compromisso e pela sua função de “realização de desejo”. O inconsciente freudiano é, em primeiro lugar, indissoluvelmente uma noção tópica e dinâmica, que brotou da experiência do tratamento. Este mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos “conteúdos” só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas resistências.
O termo “inconsciente” havia sido utilizado antes de Freud para designar de forma global o não-consciente. Freud afasta-se da psicologia anterior, por uma apresentação metapsicológica, isto é, por uma descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmicas, tópicas e econômicas. Este é o ponto de vista tópico, que permite localizar o inconsciente. Uma tópica psíquica não tem nada a ver com a anatomia, refere-se a locais do aparelho psíquico. Este é “como um instrumento” composto de sistemas, ou instâncias, interdependentes. O aparelho psíquico é concebido sobre o modelo de um aparelho reflexo, do qual uma extremidade percebe os estímulos internos ou externos, encontrando sua resolução na outra extremidade, a motora. É entre esses dois pólos que se constitui a função de memória do aparelho, sob a forma de traços mnésicos deixados pela percepção que é conservado, mas sua associação, por exemplo, conforme a simultaneidade, a semelhança, etc. A mesma excitação encontra-se, portanto, fixada de forma diferente nas diversas camadas da memória. Como uma relação de exclusão liga as funções da memória e da percepção, é preciso admitir que nossas lembranças se tornam logo inconscientes.
No artigo “O inconsciente” em 1915, Freud denomina-o “representante da pulsão”. Com efeito, a pulsão, na fronteira entre o somático e o psíquico, está aquém da oposição entre consciente e inconsciente; por um lado, nunca se pode tornar objeto da consciência e, por outro, só está presente no inconsciente pelos seus representantes, essencialmente o “representante-representação”. Para Freud, é pela ação do “recalque” infantil que se opera a primeira clivagem entre o inconsciente e o sistema Pcs-Cs. O inconsciente freudiano é “constituído”, apesar de o primeiro tempo do recalque originário poder ser considerado mítico; não é uma vivência indiferenciada.

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