SupereEu OU SuperEgo - Definição
É uma das
instâncias da personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da sua segunda
teoria do aparelho psíquico: o seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um
censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação,
na formação de ideais, funções do superego.
Classicamente, o
superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo; constitui-se por
interiorização das exigências e das interdições parentais. Certos psicanalistas
recuam para mais cedo a formação do superego, vendo esta instância em ação
desde as fases pré-edipianas (Melanie Klein) ou pelo menos procurando
comportamentos e mecanismos psicológicos muito precoces que seriam precursores
do superego (Glover, Spitz, por exemplo).
Histórico
O termo Über-Ich
foi introduzido por Freud em O ego e o id (Das Ich und das Es, 1923). Mostra a
função crítica assim designada constitui uma instância que se separou do ego e
que parece dominá-lo, como demonstram os estados de luto patológico ou de
melancolia em que o sujeito se vê criticar e depreciar.
Em seu texto de
1924 sobre a economia do masoquismo, Freud declarou: “O imperativo categórico
de Kant é herdeiro direto do complexo de Édipo”. Seria impossível situar melhor
o conceito de superego, que apareceu em 1923, em “O ego e o id”. Ele foi o
produto de uma longa elaboração, iniciada em 1914 no artigo “Sobre o
narcisismo: uma introdução”. Freud construiu então a noção de ideal, substituto
do narcisismo infantil e que seria, supostamente, o instrumento de medida
utilizado pelo ego para observar a si mesmo.
Foi em 1933, na
trigésima primeira conferência de introdução à psicanálise, que, depois de
haver apresentado a instância do superego (particularmente em “O mal-estar na
cultura”) como um censor, por delegação das instâncias sociais, junto ao ego,
Freud forneceu o quadro exaustivo da formação do superego e de suas funções.
Essa formação é
correlata do apagamento da estrutura edipiana. Num primeiro tempo, o superego é
representado pela autoridade parental que dá ritmo à evolução infantil,
alternando as provas de amor com as punições, geradoras de angústia. Num
segundo tempo, quando a criança renuncia à satisfação edipiana, as proibições
externas são internalizadas. Esse é o momento em que o superego vem substituir
a instância parental por intermédio de uma identificação. Se Freud distinguiu
bem o processo de identificação do processo de escolha do objeto, ele se
revelou insatisfeito, entretanto, com sua explicação, e manteve a ideia de uma
instituição do superego “como um caso bem-sucedido de identificação com a
instância parental”.
Na medida em que o
supereu é concebido como herdeiro da instância parental e do Édipo, como o
“representante das exigências éticas do homem”, seu desenvolvimento é distinto
no menino e na menina. Enquanto, no menino, o superego se reveste de um caráter
rigoroso, às vezes feroz, que resulta da ameaça de castração vivida durante o
período edipiano, na menina o percurso é diferente: o complexo de castração
instala-se muito antes do Édipo. O supereu feminino, por conseguinte, seria
menos opressivo e menos implacável.
Freud sublinhou
também que o superego não se constrói segundo o modelo dos pais, mas segundo o
que é constituído pelo superego deles. A transmissão dos valores e das
tradições perpetua-se, dessa maneira, por intermédio dos superegos, de uma
geração para outra. O superego é particularmente importante no exercício das
funções educativas. Quanto a esse aspecto, portanto, Freud censurou as
“chamadas concepções materialistas da história”, por ignorarem a dimensão do
superego, veículo da cultura em seus diversos aspectos, em prol de uma
explicação fundamentada unicamente na determinação econômica.
A concepção
freudiana do supereu não obteve unanimidade entre os psicanalistas. Em 1925,
Sandor Ferenczi insistiu na internalização de certas proibições muito antes da
dissolução do Édipo, em particular aquelas que dizem respeito à educação
esfincteriana: “A identificação anal e uretral com os pais, que já apontamos
antes, parece constituir uma espécie de precursora fisiológica do Ideal do ego
ou do Superego no psiquismo da criança”.
Melanie Klein
situou as “primeiras fases do superego” no momento das “primeiras
identificações da criança”, quando, muito pequena, ela “começa a introjetar
seus objetos”; o medo que ela sente em decorrência disso determina processos de
rejeição e projeção cuja interação parece ter “uma importância fundamental, não
somente para a formação do superego, mas também para relações com as pessoas e
a adaptação à realidade”.
Na obra de Jacques
Lacan, o conceito de superego é objeto de múltiplas elaborações, relacionadas
com a teorização do par supereu/ideal do eu. Nessa perspectiva, o supereu
continua dominante, mas, diferentemente de Freud, Lacan o concebe como a
inscrição arcaica de uma imagem materna onipotente, que marca o fracasso ou o
limite do processo de simbolização. Nessas condições, o supereu encarna a falha
da função paterna e esta, por conseguinte, é situada do lado do ideal do eu.
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