20/04/2019

Segunda Teoria do Aparelho Psíquico - (2ª tópica) – Isso, Eu, Supereu - Parte 3


SupereEu OU SuperEgo - Definição
É uma das instâncias da personalidade tal como Freud a descreveu no quadro da sua segunda teoria do aparelho psíquico: o seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego. Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideais, funções do superego.
Classicamente, o superego é definido como herdeiro do complexo de Édipo; constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais. Certos psicanalistas recuam para mais cedo a formação do superego, vendo esta instância em ação desde as fases pré-edipianas (Melanie Klein) ou pelo menos procurando comportamentos e mecanismos psicológicos muito precoces que seriam precursores do superego (Glover, Spitz, por exemplo).

Histórico
O termo Über-Ich foi introduzido por Freud em O ego e o id (Das Ich und das Es, 1923). Mostra a função crítica assim designada constitui uma instância que se separou do ego e que parece dominá-lo, como demonstram os estados de luto patológico ou de melancolia em que o sujeito se vê criticar e depreciar.
Em seu texto de 1924 sobre a economia do masoquismo, Freud declarou: “O imperativo categórico de Kant é herdeiro direto do complexo de Édipo”. Seria impossível situar melhor o conceito de superego, que apareceu em 1923, em “O ego e o id”. Ele foi o produto de uma longa elaboração, iniciada em 1914 no artigo “Sobre o narcisismo: uma introdução”. Freud construiu então a noção de ideal, substituto do narcisismo infantil e que seria, supostamente, o instrumento de medida utilizado pelo ego para observar a si mesmo.
Foi em 1933, na trigésima primeira conferência de introdução à psicanálise, que, depois de haver apresentado a instância do superego (particularmente em “O mal-estar na cultura”) como um censor, por delegação das instâncias sociais, junto ao ego, Freud forneceu o quadro exaustivo da formação do superego e de suas funções.
Essa formação é correlata do apagamento da estrutura edipiana. Num primeiro tempo, o superego é representado pela autoridade parental que dá ritmo à evolução infantil, alternando as provas de amor com as punições, geradoras de angústia. Num segundo tempo, quando a criança renuncia à satisfação edipiana, as proibições externas são internalizadas. Esse é o momento em que o superego vem substituir a instância parental por intermédio de uma identificação. Se Freud distinguiu bem o processo de identificação do processo de escolha do objeto, ele se revelou insatisfeito, entretanto, com sua explicação, e manteve a ideia de uma instituição do superego “como um caso bem-sucedido de identificação com a instância parental”.
Na medida em que o supereu é concebido como herdeiro da instância parental e do Édipo, como o “representante das exigências éticas do homem”, seu desenvolvimento é distinto no menino e na menina. Enquanto, no menino, o superego se reveste de um caráter rigoroso, às vezes feroz, que resulta da ameaça de castração vivida durante o período edipiano, na menina o percurso é diferente: o complexo de castração instala-se muito antes do Édipo. O supereu feminino, por conseguinte, seria menos opressivo e menos implacável.
Freud sublinhou também que o superego não se constrói segundo o modelo dos pais, mas segundo o que é constituído pelo superego deles. A transmissão dos valores e das tradições perpetua-se, dessa maneira, por intermédio dos superegos, de uma geração para outra. O superego é particularmente importante no exercício das funções educativas. Quanto a esse aspecto, portanto, Freud censurou as “chamadas concepções materialistas da história”, por ignorarem a dimensão do superego, veículo da cultura em seus diversos aspectos, em prol de uma explicação fundamentada unicamente na determinação econômica.
A concepção freudiana do supereu não obteve unanimidade entre os psicanalistas. Em 1925, Sandor Ferenczi insistiu na internalização de certas proibições muito antes da dissolução do Édipo, em particular aquelas que dizem respeito à educação esfincteriana: “A identificação anal e uretral com os pais, que já apontamos antes, parece constituir uma espécie de precursora fisiológica do Ideal do ego ou do Superego no psiquismo da criança”.
Melanie Klein situou as “primeiras fases do superego” no momento das “primeiras identificações da criança”, quando, muito pequena, ela “começa a introjetar seus objetos”; o medo que ela sente em decorrência disso determina processos de rejeição e projeção cuja interação parece ter “uma importância fundamental, não somente para a formação do superego, mas também para relações com as pessoas e a adaptação à realidade”.
Na obra de Jacques Lacan, o conceito de superego é objeto de múltiplas elaborações, relacionadas com a teorização do par supereu/ideal do eu. Nessa perspectiva, o supereu continua dominante, mas, diferentemente de Freud, Lacan o concebe como a inscrição arcaica de uma imagem materna onipotente, que marca o fracasso ou o limite do processo de simbolização. Nessas condições, o supereu encarna a falha da função paterna e esta, por conseguinte, é situada do lado do ideal do eu.

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