Introdução
São diferentes
tipos de operações em que a defesa pode ser especificada. Os mecanismos
predominantes diferem segundo o tipo de afecção considerado, a etapa genética,
o grau de elaboração do conflito defensivo, etc. Não há divergências quanto ao
fato de que os mecanismos de defesa são utilizados pelo ego, mas permanece
aberta a questão teórica de saber se a sua utilização pressupõe sempre a
existência de um ego organizado que seja o seu suporte. Foi este o nome que
Freud adotou para apresentar os diferentes tipos de manifestações que as
defesas do Ego podem apresentar, já que este não se defronta só com as pressões
e solicitações do Id e do Superego, pois aos dois se juntam o mundo exterior e
as lembranças do passado. Quando o Ego está consciente das condições reinantes,
consegue ele sair-se bem das situações sendo lógico, objetivo e racional, mas
quando se desencadeiam situações que possam vir a provocar sentimentos de culpa
ou ansiedade, o Ego perde as três qualidades citadas. É quando a
ansiedade-sinal (ou sinal de angústia), de forma inconsciente, ativa uma série
de mecanismos de defesa, com o fim de proteger o Ego contra um dor psíquica
iminente. Há vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais eficientes do que
outros. Há os que exigem menos dispêndio de energia para funcionar a contento.
Outros há que são menos satisfatórios, mas todos requerem gastos de energia
psíquica.
As defesas do ego
podem dividir-se em: a) Defesas bem-sucedidas, que geram a cessação daquilo que
se rejeita. b) Defesas ineficazes, que exigem repetição ou perpetuação do
processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção dos impulsos rejeitados.
As defesas
patogênicas, nas quais se radicam as neuroses, pertencem à segunda categorias.
Quando os impulsos opostos não encontram descarga, mas permanecem suspensos no
inconsciente e ainda aumentam pelo funcionamento continuado das suas fontes
físicas, produz-se estado de tensão, com possibilidade de irrupção.
Daí por que as
defesas bem-sucedidas, que de fato, menos se entendem, têm menor importância na
psicologia das neuroses. Nem sempre, porém, se definem com nitidez as
fronteiras entre as duas categorias; há vezes em que não se consegue distinguir
entre “um impulso que foi transformado pela influência do ego” e “um impulso
que irrompe com distorção, contra a vontade do ego e sem que este o reconheça”.
Este último tipo de impulso há de produzir atitudes constrangedoras, há de
repetir-se continuamente, jamais permitirá relaxamento pleno gerará fadiga.
Sublimação
É o mais eficaz
dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os impulsos libidinais para
uma postura socialmente útil e aceitável. As defesas bem-sucedidas podem
colocar-se sob o título de sublimação, expressão que não designa mecanismo
específico; vários mecanismos podem usar-se nas defesas bem-sucedidas; por
exemplo, a transformação da passividade em atividade; o rodeio em volta do
assunto, a inversão de certo objetivo no objetivo oposto. O fator comum está em
que, sob a influência do ego, a finalidade ou o objeto (ou um e outro) se
transforma sem bloquear a descarga adequada. (O fator de valoração que
habitualmente se inclui na definição de sublimação é melhor omitir). Deve-se
diferenciar a sublimação das defesas que usam contracatexias; os impulsos
sublimados descarregam-se, se bem que drenados por uma trilha artificial,
enquanto os outros não se descarregam. Na sublimação, cessa o impulso original
pelo fato de que a respectiva energia é retirada em benefício da catexia do seu
substituto. Nas outras defesas, a libido do impulso original é contida por uma
contracatexia elevada.
As sublimações
exigem uma torrente incontida de libido, tal qual a roda de um moinho precisa
de um fluxo d’água desimpedido e canalizado. É por isto que as sublimações
aparecem após a remoção de certa repressão. Para usar uma metáfora, as forças
defensivas do ego não se opõem frontalmente aos impulsos originais, conforme
ocorre no caso das contracatexias, mas incidem angularmente; daí uma resultante
em que se unificam a energia instintiva e a energia defensiva, com liberdade
para atuar. Distinguem-se as sublimações das gratificações substitutivas
neuróticas pela sua dessexualização, ou seja, a gratificação do ego já não é
fundamentalmente instintiva.
Quais são os
impulsos que experimentam vicissitudes desta ordem e quais são as condições que
determinam a possibilidade ou a impossibilidade de sublimação?
Se não forem
rejeitados pelo desenvolvimento de uma contracatexia (o que os excluirá do
desenvolvimento ulterior da personalidade), os impulsos pré-genitais e as
atitudes agressivas concomitantes organizam-se, mais tarde sob a primazia
genital.A realização mais ou menos completa desta organização é indispensável
para que tenha êxito a sublimação daquela parte da pré-genitalidade que não é
usada sexualmente no mecanismo do pré- prazer. É muito pouco provável a
existência de sublimação da sexualidade genital adulta; os genitais constituem
um aparelho que visa à realização da descarga orgástica plena, isto é, não
sublimada. O objeto da sublimação são os desejos pré-genitais. Se estes, porém,
tiverem sido reprimidos e se permanecem no inconsciente, competindo com a
primazia genital, não podem ser sublimados. A capacidade de orgasmo genital é
que possibilita a sublimação (dessexualização) dos desejos pré-genitais.
O que determina a
possibilidade de o ego conseguir chegar à solução feliz desta ordem não é fácil
dizer. Caracteriza-se a sublimação por: a) Inibição do objetivo. b)
Dessexualização. c) Absorção completa de um instinto nas respectivas sequelas.
d) Alteração dentro do ego; qualidades todas estas que também se vêem nos
resultados de umas tantas identificações, qual seja, no processo de formação do
superego.
O fato empírico
das sublimações, sobretudo as que se originam na infância, dependerem da
presença de modelos, de incentivos que o ambiente forneça direta ou
indiretamente, corrobora a asserção de Freud no sentido de que a sublimação
talvez se relacione intimamente com a identificação. Mais ainda: Os casos de
transtorno da capacidade de sublimar mostraram que esta incapacidade
corresponde a dificuldades na promoção de identificações. Tal qual ocorre com
certas identificações, também as sublimações são capazes de opor-se e se
desfazerem, com êxito maior ou menor, certos impulsos destrutivos infantis; mas
também podem satisfazer, de maneira distorcida, estes mesmos impulsos
destrutivos; de algum modo, toda fixação artística de um processo natural
“mata” este processo. É possível ver precursores das sublimações em certas
brincadeiras infantis, nas quais os desejos sexuais se satisfazem por uma forma
“dessexualizada” em seguida a certa distorção da finalidade ou do objeto; e as
identificações também são decisivas neste tipo de brincadeiras.
Varia muito a
extensão da divisão do objetivo na sublimação. Há casos em que a diversão se
limita a inibição do objetivo; a pessoa que haja feito a sublimação faz,
precisamente, aquilo que o seu instinto exige que faça, mas isso depois que o
instinto se dessexualize e se subordine à organização do ego. Noutros tipos de
sublimação, ocorrem transformações de alcance muito maior. É até possível que
certa atividade de direção oposta ao instinto original substitua, de fato, este
último. Certas reações de nojo, habituais entre as pessoas civilizadas, sem
vestígio das tendências instintivas infantis contra as quais se desenvolveram
originalmente, incluem-se nesta categoria. O que ocorre, então, é idêntico ao
que Freud chamou transformação no contrário; uma vez completada, toda a força
de um instinto opera na direção contrária.
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