20/04/2019

Mecanismos de Defesa – Parte 1


Introdução
São diferentes tipos de operações em que a defesa pode ser especificada. Os mecanismos predominantes diferem segundo o tipo de afecção considerado, a etapa genética, o grau de elaboração do conflito defensivo, etc. Não há divergências quanto ao fato de que os mecanismos de defesa são utilizados pelo ego, mas permanece aberta a questão teórica de saber se a sua utilização pressupõe sempre a existência de um ego organizado que seja o seu suporte. Foi este o nome que Freud adotou para apresentar os diferentes tipos de manifestações que as defesas do Ego podem apresentar, já que este não se defronta só com as pressões e solicitações do Id e do Superego, pois aos dois se juntam o mundo exterior e as lembranças do passado. Quando o Ego está consciente das condições reinantes, consegue ele sair-se bem das situações sendo lógico, objetivo e racional, mas quando se desencadeiam situações que possam vir a provocar sentimentos de culpa ou ansiedade, o Ego perde as três qualidades citadas. É quando a ansiedade-sinal (ou sinal de angústia), de forma inconsciente, ativa uma série de mecanismos de defesa, com o fim de proteger o Ego contra um dor psíquica iminente. Há vários mecanismos de defesa, sendo alguns mais eficientes do que outros. Há os que exigem menos dispêndio de energia para funcionar a contento. Outros há que são menos satisfatórios, mas todos requerem gastos de energia psíquica.
As defesas do ego podem dividir-se em: a) Defesas bem-sucedidas, que geram a cessação daquilo que se rejeita. b) Defesas ineficazes, que exigem repetição ou perpetuação do processo de rejeição, a fim de impedir a irrupção dos impulsos rejeitados.
As defesas patogênicas, nas quais se radicam as neuroses, pertencem à segunda categorias. Quando os impulsos opostos não encontram descarga, mas permanecem suspensos no inconsciente e ainda aumentam pelo funcionamento continuado das suas fontes físicas, produz-se estado de tensão, com possibilidade de irrupção.
Daí por que as defesas bem-sucedidas, que de fato, menos se entendem, têm menor importância na psicologia das neuroses. Nem sempre, porém, se definem com nitidez as fronteiras entre as duas categorias; há vezes em que não se consegue distinguir entre “um impulso que foi transformado pela influência do ego” e “um impulso que irrompe com distorção, contra a vontade do ego e sem que este o reconheça”. Este último tipo de impulso há de produzir atitudes constrangedoras, há de repetir-se continuamente, jamais permitirá relaxamento pleno gerará fadiga.

Sublimação
É o mais eficaz dos mecanismos de defesa, na medida em que canaliza os impulsos libidinais para uma postura socialmente útil e aceitável. As defesas bem-sucedidas podem colocar-se sob o título de sublimação, expressão que não designa mecanismo específico; vários mecanismos podem usar-se nas defesas bem-sucedidas; por exemplo, a transformação da passividade em atividade; o rodeio em volta do assunto, a inversão de certo objetivo no objetivo oposto. O fator comum está em que, sob a influência do ego, a finalidade ou o objeto (ou um e outro) se transforma sem bloquear a descarga adequada. (O fator de valoração que habitualmente se inclui na definição de sublimação é melhor omitir). Deve-se diferenciar a sublimação das defesas que usam contracatexias; os impulsos sublimados descarregam-se, se bem que drenados por uma trilha artificial, enquanto os outros não se descarregam. Na sublimação, cessa o impulso original pelo fato de que a respectiva energia é retirada em benefício da catexia do seu substituto. Nas outras defesas, a libido do impulso original é contida por uma contracatexia elevada.
As sublimações exigem uma torrente incontida de libido, tal qual a roda de um moinho precisa de um fluxo d’água desimpedido e canalizado. É por isto que as sublimações aparecem após a remoção de certa repressão. Para usar uma metáfora, as forças defensivas do ego não se opõem frontalmente aos impulsos originais, conforme ocorre no caso das contracatexias, mas incidem angularmente; daí uma resultante em que se unificam a energia instintiva e a energia defensiva, com liberdade para atuar. Distinguem-se as sublimações das gratificações substitutivas neuróticas pela sua dessexualização, ou seja, a gratificação do ego já não é fundamentalmente instintiva.
Quais são os impulsos que experimentam vicissitudes desta ordem e quais são as condições que determinam a possibilidade ou a impossibilidade de sublimação?
Se não forem rejeitados pelo desenvolvimento de uma contracatexia (o que os excluirá do desenvolvimento ulterior da personalidade), os impulsos pré-genitais e as atitudes agressivas concomitantes organizam-se, mais tarde sob a primazia genital.A realização mais ou menos completa desta organização é indispensável para que tenha êxito a sublimação daquela parte da pré-genitalidade que não é usada sexualmente no mecanismo do pré- prazer. É muito pouco provável a existência de sublimação da sexualidade genital adulta; os genitais constituem um aparelho que visa à realização da descarga orgástica plena, isto é, não sublimada. O objeto da sublimação são os desejos pré-genitais. Se estes, porém, tiverem sido reprimidos e se permanecem no inconsciente, competindo com a primazia genital, não podem ser sublimados. A capacidade de orgasmo genital é que possibilita a sublimação (dessexualização) dos desejos pré-genitais.
O que determina a possibilidade de o ego conseguir chegar à solução feliz desta ordem não é fácil dizer. Caracteriza-se a sublimação por: a) Inibição do objetivo. b) Dessexualização. c) Absorção completa de um instinto nas respectivas sequelas. d) Alteração dentro do ego; qualidades todas estas que também se vêem nos resultados de umas tantas identificações, qual seja, no processo de formação do superego.
O fato empírico das sublimações, sobretudo as que se originam na infância, dependerem da presença de modelos, de incentivos que o ambiente forneça direta ou indiretamente, corrobora a asserção de Freud no sentido de que a sublimação talvez se relacione intimamente com a identificação. Mais ainda: Os casos de transtorno da capacidade de sublimar mostraram que esta incapacidade corresponde a dificuldades na promoção de identificações. Tal qual ocorre com certas identificações, também as sublimações são capazes de opor-se e se desfazerem, com êxito maior ou menor, certos impulsos destrutivos infantis; mas também podem satisfazer, de maneira distorcida, estes mesmos impulsos destrutivos; de algum modo, toda fixação artística de um processo natural “mata” este processo. É possível ver precursores das sublimações em certas brincadeiras infantis, nas quais os desejos sexuais se satisfazem por uma forma “dessexualizada” em seguida a certa distorção da finalidade ou do objeto; e as identificações também são decisivas neste tipo de brincadeiras.
Varia muito a extensão da divisão do objetivo na sublimação. Há casos em que a diversão se limita a inibição do objetivo; a pessoa que haja feito a sublimação faz, precisamente, aquilo que o seu instinto exige que faça, mas isso depois que o instinto se dessexualize e se subordine à organização do ego. Noutros tipos de sublimação, ocorrem transformações de alcance muito maior. É até possível que certa atividade de direção oposta ao instinto original substitua, de fato, este último. Certas reações de nojo, habituais entre as pessoas civilizadas, sem vestígio das tendências instintivas infantis contra as quais se desenvolveram originalmente, incluem-se nesta categoria. O que ocorre, então, é idêntico ao que Freud chamou transformação no contrário; uma vez completada, toda a força de um instinto opera na direção contrária.

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