A psicanálise, contudo, de
maneira alguma se baseou nessas pesquisas de Janet. O fator decisivo, em seu
caso, foi a experiência de um médico vienense, o Dr. Josef Breuer. Em 1881,
independentemente de qualquer influência externa, ele pôde, com o auxílio da
hipnose, estudar e restituir à saúde uma jovem muito bem dotada que sofria de histeria.
Os achados de Breuer não foram comunicados ao público senão quinze anos mais
tarde, após ele haver tomado por colaborador o presente autor (Freud). Esse
caso de Breuer retém sua significação única para nossa compreensão das neuroses
até o dia de hoje, de modo que não podemos evitar demorar-nos nele um pouco
mais. É essencial compreender claramente em que consistia sua peculiaridade. A
jovem caíra enferma enquanto servia de enfermeira para o pai, a quem estava
ternamente ligada. Breuer pôde estabelecer que todos os seus sintomas estavam
relacionados a esse período de enfermagem e podiam ser por ele explicados.
Assim, pela primeira vez, tornou-se possível ganhar uma visão completa de um
caso dessa enigmática neurose, e todos os seus sintomas demonstraram ter
significado. Ademais, constituiu característica universal dos sintomas terem
eles surgido em situações que envolviam um impulso a uma ação que, contudo, não
fora levada a cabo, mas sim, por outras razões, fora suprimida. Os sintomas, de
fato, haviam aparecido em lugar das ações não efetuadas. Assim, para explicar a
etiologia dos sintomas histéricos, fomos levados à vida emocional do indivíduo
(à afetividade) e à ação recíproca de forças mentais (à dinâmica), e, desde
então, essas duas linhas de abordagem nunca mais foram abandonadas.
As causas precipitantes dos sintomas foram comparadas por
Breuer aos traumas de Charcot. Ora, constituía fato notável que todas essas
causas precipitantes traumáticas e todos os impulsos mentais que delas se
originavam estavam perdidos para a memória da paciente, como se jamais
houvessem acontecido, ao passo que seus produtos — os sintomas — persistiam
inalterados, como se, no que lhes concernia, não existisse aquilo denominado de
efeito obliterador do tempo. Aqui, portanto, tínhamos uma nova prova da
existência de processos mentais que eram inconscientes, mas, por essa razão,
especialmente poderosos — processos que primeiro vínhamos conhecendo na
sugestão pós-histórica. O procedimento terapêutico adotado por Breuer foi
induzir a paciente sob hipnose a relembrar os traumas esquecidos e reagir a
eles com poderosas expressões de afeto. Quando isso era feito, o sintoma, que
até então tomara o lugar dessas expressões de emoção, desaparecia. Dessa
maneira, um só e mesmo procedimento servia simultaneamente aos propósitos de
investigar o mal e livrar-se dele, e essa conjunção fora do comum foi
posteriormente conservada pela psicanálise.
Após o presente autor, durante o começo da década de
1890, ter confirmado os resultados de Breuer em considerável número de
pacientes, ambos, Breuer e Freud, decidiram conjuntamente uma publicação,
Estudos sobre Histeria (1895d), que continha suas descobertas e a tentativa de
uma teoria nelas baseada. Asseverava esta que os sintomas histéricos surgiam
quando o afeto de um processo mental catexizado por um forte afeto era impedido
pela força de ser conscientemente elaborado da maneira normal, e era assim
desviado para um caminho errado. Nos casos de histeria, segundo essa teoria, o
afeto passava para uma inervação somática fora do comum (‘conversão’), mas se
lhe podia dar uma outra direção e ver-se livre dele (‘ab-reagido’) se a
experiência fosse revivida sob hipnose. Os autores davam a esse procedimento o
nome de ‘catarse’ (purgar, liberar um afeto estrangulado).
O método catártico foi o precursor imediato da
psicanálise, e, apesar de toda a ampliação da experiência e toda modificação da
teoria, ainda está nela contido como seu núcleo. Ele, porém, não era mais que
um novo procedimento médico para influenciar certas doenças nervosas e nada
sugeria que se pudesse tornar tema para o interesse mais geral e para a
contradição mais violenta.
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