20/04/2019

Sexologia - Parte 1


Introdução
Raramente os filósofos trataram do sexo como componente do homem. Em o Banquete, de Platão, ao falar da origem do sexo, Aristófanes expõe o mito dos andróginos, dos quais, por meio de uma separação desejada por Zeus com fins punitivos, ter-se-iam originados os dois sexos complementares, mas as especulações platônicas não versam propriamente sobre o sexo, mas sobre o amor. Na Bíblia, Deus, de um só, fez toda a geração dos homens. Primeiro foi formado Adão e depois Eva que caíram no pecado do fruto proibido.
Sexologia é o estudo da sexualidade, e sexualidade em termos práticos é aquela que traz prazer às pessoas envolvidas, sem prejudicar ou molestar uma delas. É mais fácil definir sexualidade anormal, que é o comportamento sexual destrutivo para o próprio indivíduo ou para outros, ou está associado à sensação de ansiedade, medo, culpa, ou é compulsivo (com - pulsões).
Em “As pulsões e suas vicissitudes” (1915), Freud define pulsão como um conceito entre o mental e o psicológico, o representante psíquico dos estímulos originados no organismo e que chegam à mente. Ele sempre se preocupou pois com o estágio dos conhecimentos psicológicos a respeito das pulsões. Estas são, portanto, forças incontroláveis que determinam as representações inconscientes. As atividades pulsionais que anseiam pela exteriorização objetiva são na maior parte do tempo deslocadas e explicadas, em nome de uma teoria pronta, verdade inscrita e supostamente inquestionável sobre a natureza humana.
A personalidade do indivíduo está intimamente relacionada à sua sexualidade. Para Freud, todos os impulsos e atividades prazerosas são sexuais. Freud foi o primeiro a descrever o impacto das experiências da infância sobre o caráter do adulto, reconhecendo a atividade e o aprendizado sexual das crianças. A maior causa dos conflitos conjugais está na relação sexual e na sexualidade, confirmando as teorias de Freud sobre a origem das neuroses.
O comportamento sexual é muito variável de pessoa a pessoa, e é influenciado por fatores biológicos, culturais e psicológicos. Participam, ainda, a percepção individual de ser homem ou mulher, e experiências com o sexo ao longo de toda a vida.
A palavra “sexual” tem despertado reações positivas em uns, e negativas em outros, tendo um conceito mais amplo do que “genital” que designa genitália. O “sexo” é a determinação de masculino - macho ou feminino - fêmea. Sexualidade e erotismo têm a mesma significação, ou seja, designam a sexualidade psicofísica, apoderando-se do corpo e da alma com a mesma impulsão.
Freud mostrou que a vida sexual começa logo após o nascimento e que posteriormente na puberdade tem o objetivo à reprodução. Foram observados sinais de atividade corporal e sexual na infância e que estão associados a fenômenos psíquicos, que são representados na vida erótica adulta, tais como a fixação a objetos específicos, ciúmes, etc. A maturidade sexual se desenvolve após a puberdade, sendo que na mulher até os trinta anos e no homem, um pouco além. Os caracteres sexuais primários dominantes são os órgãos genitais que são definidos na fase fetal, onde no homem estão os testículos que produzem os espermatozoides e na mulher são os ovários, localizados no útero e que produzem os óvulos. Os caracteres secundários são o conjunto de fatores corporais e psíquicos que diferem um homem de uma mulher, tais como o pênis, vagina, a pele, pelos, força física, etc.
Na fisiologia sexual, temos as glândulas que fabricam substâncias com diversos objetivos, tais como o crescimento, fortalecer a estrutura óssea, despertar o apetite alimentício e sexual. As glândulas endócrinas não podem lançar suas substâncias (hormônios) par fora do corpo, logo utilizam a corrente sanguínea sendo transportadas para todo o organismo, exercendo controle de várias funções e consequentemente, influência sobre o comportamento do indivíduo. As glândulas suprarrenais produzem o hormônio androgênio que na puberdade tem a produção aumentada sendo responsável pelo crescimento dos pelos, pênis, testículos, barba, etc. O timo é a glândula de controle pré-sexual, reguladora do início da sexualidade no homem, devendo regredir e murchar para que se inicie a puberdade. A tireoide garante o vigor ao instinto sexual e a hipófise na dinâmica corporal.
A identidade de gênero é o juízo que o indivíduo tem de sua masculinidade ou feminilidade. A identidade sexual refere-se às características sexuais biológicas (cromossomos, genitália externa, genitália interna, composição hormonal, gônadas e características sexuais secundárias). No desenvolvimento normal formam um padrão único, no qual a pessoa não tem dúvida de seu sexo e apresenta reações biológicas adequadas.
Os órgãos genitais masculinos estão divididos em externos (pênis e bolsa escrotal) e internos (testículos, epidídimo, canais deferentes, vesículas seminais, próstata, canal ejaculatório, uretra e glândula de Cooper). Os órgãos genitais femininos também estão divididos em externos (monte de Vênus, vulva, grandes lábios, pequenos lábios, clitóris, glândulas de Bartholim, Hímen, complacente e elástico, trilabiado, anular, septado, microperfurado, imperfurado e cartilaginoso) e internos (uretra, vagina, útero, trompas de falópio e ovários).
A vida sexual inclui a função de obter prazer das zonas corporais que, subsequentemente, são postas a serviço da reprodução. Muitas vezes as duas funções não coincidem completamente, pois existem pessoas que são atraídas por indivíduos do mesmo sexo, desconsiderem o órgão sexual ou tem um interesse muito precoce por seu órgão genital.
Os transtornos de preferência sexuais ou parafilias são pouco comuns, sendo sempre motivo de debates e questionamentos médicos e filosóficos. Esses transtornos ocupam uma posição clara no contínuo entre o normal e o anormal. Algumas pessoas são perfeitamente integradas às suas parafilias, fazendo parte importante de sua identidade e modo de vida. Em alguns casos, as parafilias podem acompanhar graves transtornos de personalidade ou psicoses.
Como relatamos acima, a palavra sexo tem vários significados: pode indicar o gênero (masculino ou feminino), a atividade sexual e os órgãos genitais. Já o termo sexualidade, tem uma designação mais complexa, pois abrange todos os pensamentos, emoções e comportamentos relacionados ao sexo. Como sexo e sexualidade envolvem estruturas físicas e psicológicas, e estas estão sujeitas a alterações, a sexualidade dos indivíduos poderá ser comprometida. Estes comprometimentos podem resultar em disfunções sexuais. As disfunções sexuais definem-se como o não funcionamento ou o mau funcionamento da sexualidade de homens e mulheres.
As disfunções sexuais masculinas são denominadas: disfunção erétil (antigamente conhecida como impotência sexual); ejaculação precoce ou prematura (falta do controle sobre a ejaculação) e ejaculação retardada (impossibilidade de ejaculação intra-vaginal ou impossibilidade total de ejaculação).
As disfunções sexuais femininas são denominadas: inibição do desejo sexual; anorgasmia (falta de orgasmo); dispareunia (dor durante a penetração) e vaginismo (contração involuntária dos músculos da vagina que impedem a penetração). As causas destas disfunções sexuais podem ser psicológicas, físicas ou mistas, porém não podemos negar as influências socioculturais.
A terapia sexual visa o tratamento destas disfunções e deve ser apropriada às suas causas. Ou seja, se a causa for psíquica, o tratamento deverá ser feito com psicólogos, psicanalistas, caso seja física o tratamento deverá ser feito com médicos. Já nas causas mistas, é imprescindível o acompanhamento de ambos os profissionais. Atualmente existem profissionais especializados em sexologia, e como nova área de atuação de psicólogos, psicanalistas, médicos e pesquisadores, surgiu em função da necessidade de obtenção de maiores conhecimentos sobre temas relevantes para a saúde dos seres humanos.

Um breve histórico sobre a sexualidade e fases psicossexuais
Até o final do século passado havia a noção de que o sexo era um instinto que despertava com a puberdade e tinha como objetivo a reprodução. O sexo era entendido em termos da sexualidade genital do adulto. A sexualidade infantil era negada ou considerada como anomalia. No início do século, as postulações revolucionárias de Freud situam a sexualidade na infância e no inconsciente, ampliando o conceito do termo “sexual”, que deixa de ser sinônimo de “genital”. Essa visão ampliada foi exposta em 1905 nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. O termo “sexual”, aparece ligado a um conjunto de atividades não restritas aos órgãos genitais, que começa na infância e não na puberdade, e cuja finalidade é o prazer e não apenas a reprodução. Essas postulações de Freud suscitaram naturalmente numerosas discussões que foram permitindo uma visão nova sobre a sexualidade humana, que começou a ser vista com menos preconceito. O conceito de normalidade sexual tende a ser considerado como tudo o que é praticado por adultos legalmente capazes, com o consentimento dos parceiros e que não implique lesão física de nenhum dos participantes.
A excitação caracteriza-se essencialmente pela ereção do homem e a lubrificação vaginal na mulher, que se verifica a partir de atividades ou pensamentos estimulantes. O platô, é o estágio de grande excitação e tensão sexual que precede imediatamente o orgasmo. A ereção é completada por vasocongestão do corpo cavernoso do pênis, que aumenta de tamanho e de diâmetro. Nas mulheres há ereção dos mamilos e do clitóris. Essas transformações são acompanhadas de sensação de prazer. O orgasmo é a ejaculação com contrações do cordão espermático, das vesículas seminais, da próstata e da uretra no homem, e contrações vaginais e uterinas na mulher. A fase de resolução é a involução gradativa da ereção, com a volta ao tamanho habitual do pênis e do clitóris em razão da perda da vaso congestão; sensação de relaxamento e bem-estar dos parceiros. Durante essa fase, os homens ficam refratários a novos orgasmos por período que aumenta com a idade. As mulheres são capazes de outros orgasmos, logo em seguida.
Freud (1905/1972) reconstruiu, a partir dos tratamentos de seus pacientes, das observações diretas realizadas por pediatras e por ele próprio e as descrições publicadas de quadros psicopatológicos e de povos primitivos, as diversas fases pelas quais passaria o indivíduo, desde seu nascimento; elaborou a teoria da progressão da libido, do estágio oral para o anal e para o genital com a consequente reorganização sequencial do impulso e da natureza do Id. Erikson (1976) estabeleceu que o indivíduo passa da confiança para a autonomia e para a atividade, através da reorganização sequencial do Ego e das estruturas de caráter. Spitz (1979) referiu-se aos princípios organizadores que levam a sucessivas reestruturações dos precursores do Ego. Mahler (1993) concluiu que o indivíduo vai do autismo normal para a simbiose normal e para a separação-individuação, noção que depois abandonou face à observação empírica contraditória; haveria reestruturação do Ego e do Id, mas nos termos da experiência e do eu-e-outro do bebê.
Klein (1974) descreve as posições esquizo-paranoide e depressiva, que levam à reestruturação da experiência do Eu e outro. Stern (1992) pensa que sua abordagem se aproxima mais às duas últimas, já que a preocupação central é com a experiência de eu-e-outro do bebê, diferindo, entretanto, quanto ao que se considera ser a natureza dessa experiência: a ordem de sequência do desenvolvimento do senso de self, livre dos obstáculos e das confusões trazidas pelas questões do desenvolvimento do Ego ou do Id.
Todas as teorias psicanalíticas compartilham outra premissa: o desenvolvimento progride de um estágio para o seguinte, sendo cada estágio não apenas uma fase específica para o desenvolvimento do Ego ou do Id, mas também específica para certas questões protoclínicas. As fases do desenvolvimento se referem a um tipo específico de questão clínica que se verá desenvolvendo patologias em etapas posteriores da vida (Stern, 1992). Dois autores citados por Stern (1992), Peterfreund e Klein, criticam este ponto, afirmando que se trata de uma teoria do desenvolvimento que, além de ser retrospectiva, ou seja, descreve por uma reconstrução do passado a partir de estruturas mais evoluídas, traduz-se pela morfologia da patologia.

Fases do desenvolvimento sexual (fases psicossexuais)
Freud foi o primeiro a nos fornecer um quadro claro da grande importância que tem, para nossa vida e desenvolvimento: psíquicos e sexuais, a relação com outras pessoas. A primeira delas é naturalmente, a relação da criança com os pais, relação esta que, a princípio, na maior parte dos casos se restringe principalmente à mãe ou à sua substituta. Um pouco mais tarde surge a relação com os irmãos, ou outros companheiros próximos, e o pai.
Freud assinalou que as pessoas às quais a criança se apega em seus primeiros anos ocupam uma posição central em sua vida psíquica que é singular no que concerne a sua influência. Isto é exato, quer o apego da criança a essas pessoas seja por laços de amor, de ódio, ou ambos, sendo o último caso o mais comum. Nos estágios iniciais da vida, a criança não percebe os objetos como tais e só gradativamente, ao longo dos primeiros meses de seu desenvolvimento, aprende a distinguir sua própria pessoa dos objetos. Também entre os objetos mais importantes da infância, se incluem as várias partes do próprio corpo da criança, isto é, seus dedos, artelhos e boca. Todos eles são importantes como fonte de gratificação, razão pela qual admitimos que sejam altamente catexizados pela libido. Para sermos mais precisos, deveríamos dizer que os representantes psíquicos dessas partes do corpo da criança são altamente catexizados, já que não mais acreditamos, que a libido seja como um hormônio que se pode transmitir a qualquer parte do corpo e lá se fixar. A este estado de libido autodirigida Freud (1914) denominou de narcisismo, segundo a lenda grega do jovem Narciso que se enamorou de si mesmo.
Os primeiros objetos da criança são chamados de objetos parciais. Com isto significamos, por exemplo, que só depois de muito tempo a mãe existe para a criança como um objeto total. Antes disso, seu seio, ou a mamadeira, sua mão, seu rosto, etc., consistiam, cada um, objetos separados na vida mental da criança, e pode bem ser que mesmo aspectos diferentes do que fisicamente constitui um único objeto seja também, para a criança, objetos distintos, e não unidos ou relacionados.
Só se desenvolve uma relação de objeto contínua na última parte do primeiro ano de vida. Uma das características importantes dessas primeiras relações de objeto é seu alto grau do que chamamos ambivalência. Quer dizer, sentimentos de amor podem alternar em igual intensidade com sentimentos de ódio, segundo as circunstâncias.
As primeiras fases das relações de objeto são comumente designadas como relações de objeto pré-genitais, ou, às vezes, mais especificamente como relações de objeto anais ou orais. O emprego habitual da palavra “pré-genital” neste sentido é incorreto. O termo apropriado seria “pré-fálico”. De qualquer modo, na literatura psicanalítica, as relações de objeto da criança denominam-se comumente, conforme a zona erógena que, no momento, esteja desempenhando o papel mais importante na vida libidinal da criança.
As características da sexualidade infantil, polimorfa e perversa, Freud bem as descreveu em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”. A sexualidade infantil difere da do adulto em diversos aspectos. A diferença que mais impressiona situa-se no fato da maior excitação não se localizar, necessariamente, nos genitais, mas no fato de que os genitais, a bem dizer, desempenham a parte de “primus inter pares” entre muitas zonas erógenas. Também diferem os objetivos: não levam, necessariamente, ao contato sexual, mas alonga-se em atividades que vêm a desempenhar papel, futuramente, no pré-prazer. A sexualidade infantil pode ser auto erótica, ou seja, tomar para objeto o próprio corpo ou partes deste. Os componentes que se dirigem para os objetos portam traços arcaicos (objetivos de incorporação, ambivalência). Quando um instinto parcial é bloqueado, reforçam-se, correspondentemente, instintos parciais “colaterais”.
A criança pequena é uma criatura instintiva, cheia de impulsos sexuais perversos, polimorfo, cheia de uma sexualidade total, ainda indiferenciada, a qual contém num só todos os instintos parciais.
Freud sugeriu que se distinguissem dois tipos de excitação: uma que é evocada por estímulos externos, preceptivos, descontínuos; outra que resulta de estímulos instintivos contínuos, dentro do organismo. A assertiva deve, contudo, ser considerada com mais pormenores. Toda a percepção, todos os estímulos sensoriais, quer se originem fora, quer se originem dentro do organismo, têm “caráter provocativo”, isto é, provocam certo impulso à ação.
O papel excepcional que o deslocamento da energia dá aos instintos sexuais foi o ponto de que Freud partiu na sua primeira classificação dos instintos, pelo fato de haver notado que os neuróticos se sentiam mal porque reprimiam certas experiências e porque estas experiências sempre representavam desejos sexuais. As forças que combatiam os desejos sexuais eram a angústia, os sentimentos de culpa, ou ideias éticas e estéticas da personalidade; forças estas contra sexuais que se podiam sumarizar como “instintos do ego”, vestem servirem a auto conservação.
Existe a formação de um conflito estrutural onde o ego rejeita, certas exigências do id; e, com base no conceito de ser o ego uma camada superficial diferenciada do id, já não se pode sustentar a esperança de que o ego abrigue, inatamente, outros instintos que não estejam presentes no id. Ainda que as energias instintivas sejam tratadas no ego de modo diverso do que o são no id, há de admitir-se que o ego deriva a sua energia do id, não contendo, primariamente, outros tipos de instintos.
Embora as fases estejam distintamente descritas, é um engano imaginar que elas ocorram absolutamente isoladas, pois elas podem se sobrepor, ocorrerem paralelamente ou coincidir, assim como jamais serão completadas superadas, sendo observado na fase adulta, comportamento que comprova a existência das fases da sexualidade infantil, o que na maioria dos casos ocorre nas neuroses.
Pode-se dividir a sexualidade pré-adulta, de modo geral, em três períodos principais: o período infantil, o período de latência e a puberdade. Hoje em dia se conhece muito bem o começo e o fim do período infantil, ao passo que aquilo situado no meio ainda requer muita pesquisa; possivelmente neste período intermediário, ocorrem variações acidentais mais importantes que as que se dão nas fases inicial e terminal.

Período Pré-Genital, Pré-Fálico ou Infantil.
Freud denomina de pré-genitais devido às zonas genitais ainda não atingiram seu papel predominante. Ao nascer o ser humano traz impulsos inconscientes em busca do prazer. Os impulsos naturais (id), são manifestações de uma tendência inata, cuja causa é a libido ou energia sexual.

Fase Oral
É o estado oral (mas corretamente intestinal) de organização da libido. A criança na fase fetal já desenvolve o instinto da sucção. O bebê, logo após seu nascimento, acha prazer na sucção do seio materno e no vazio que sente quando retira a boca do seio. Seu gozo é inconsciente, agarrando-se ao seio materno com satisfação, olhando para os olhos da mãe durante este momento, tendo o fator alimentar se estabelecido como desejo secundário. A criança chupa tudo o que encontra, os dedos, lápis, só pelo prazer da sucção.
Freud mostrou que quando a sucção produz prazer, é combinada a fricção de certas partes do corpo, como a orelha, umbigo ou os genitais externos, sendo estes atos caracterizados como o movimento precursor que leva a criança a praticar a masturbação.
O fenômeno auto-erótico de chupar o polegar, mostra o prazer que se obtém do seio ou da mamadeira não se baseia só na gratificação da fome, mas também na estimulação da mucosa oral erógena; se não fosse assim, o infante retiraria, desapontado o polegar, visto este não produzir leite. Aí, a excitação sexual apoiou-se, originalmente, na necessidade de alimento; tal qual, a excitação sexual primeira também se apoiou noutras funções fisiológicas, na respiração e sensações cutâneas, nas sensações de defecar e urinar.
Muitos fenômenos provenientes desta fase são retidos no adulto como o beijo e muitos costumes alimentares. A “introjeção oral” é, do mesmo passo o executivo da “identificação primária”. As ideias de que se come um objeto ou de que por ele se é comido vêm a ser os modos pelos quais se pensa, inconscientemente, em qualquer reunião objetal. A comunhão mágica que consiste em “transformar-se na mesma substância”, ou comendo o mesmo alimento, ou misturando os sangues respectivos, bem como a crença mágica de que nos tornamos semelhantes ao objeto que comemos baseiam-se no mesmo fato.
Algumas manifestações de neuroses orais são: beber e comer em excesso, problemas da linguagem e fala, agressão com palavras (correspondendo ao morder), xingamentos, gozações, escrúpulos exagerados para não “incomodar”, desejo inconsciente de se instalar e desalojar todas as pessoas, incapacidade de aceitar favores e receber presentes. O afã de saber, o estudo de idiomas, o cantar, a oratória, a declamação, são exemplos de sublimação das tendências orais.

Fase Anal
A análise das neuroses obsessivas permitiu a Freud inserir entre os períodos oral e fálico outro nível organizacional da libido, a saber, o nível sádico-anal. Embora o prazer anal se ache presente desde o início da vida, é no segundo ano que a zona erógena-anal parece tornar-se o executivo principal de toda excitação, a qual, então onde quer que se origine, tende a descarregar-se pela defecação.
É a fase em que a libido se concentra na região anal, que se torna uma área carregada de emoção agradável, sendo que em primeiro lugar está a satisfação física do “vazio” que sentimos após a saída das fezes, o esvaziar o intestino e em seguida na satisfação mental que a criança sente na execução desta função para os seus pais. Essa região compreende a junção da pele e a membrana mucosa ânus-retal. As junções de pele e mucosas do corpo são sensíveis e ao receberem suave estimulação, produzem sentimentos de prazer.
O objetivo primário do erotismo anal, certamente, é o gozo de sensações prazerosas na excreção. A estimulação da mucosa retal pode aumentar com a retenção anal exemplificam bem as combinações de prazer erógeno e a segurança contra a ansiedade. O medo da excreção originalmente prazerosa leva à retenção e à descoberta do prazer que esta última produz. A possibilidade de realizar estimulação mais intensa da mucosa (além de sensação mais intensa pelo aumento da tensão de retenção) é responsável pelo prazer tensional, que é maior no erotismo anal do que em qualquer outro. Aqueles que, nas suas satisfações, procuram prolongar o pré-prazer e estender o prazer final são sempre, latentemente, eróticos anais.
A recusa de uma criança em defecar, é um modo de desafiar a autoridade parental e reafirmar que as fezes “são delas”, tendo um prazer adicional na sensação em manter o reto cheio. Elas consideram que as fezes são parte integrante de si mesma, com as quais presenteia os pais e os adultos que a envolvem, sendo muito precioso pois é dado de dentro do seu próprio corpo, do seu ser.
O manuseio das fezes pela criança é proveniente desta fase, sendo reprovadas pelos pais como algo nojento, sujo. Apesar deste valor (indesejado) que é transmitido pelos pais para as crianças no seu consciente, para o inconsciente irá uma mensagem de repressão devido ao valor atribuído às fezes pela criança.
Onde ocorreu a fixação anal (neurose anal) , mesmo que as próprias fezes não possam ser acumuladas indefinidamente, o indivíduo acumulará o que de valor puder adquirir, entesourando, sem contudo atingir o seu uso apropriado. Vejamos alguns casos de neurose anal: o caso do avaro que junta dinheiro, o colecionador que compra quadros valiosos, e não os exibe, e nem mesmo os olha; dos indivíduos obsessivos, que insistem longo tempo e improdutivamente em tarefas não completadas; pontualidade exagerada; tendência ao uso de roupa íntima suja; sede de poder; prazer na descarga de uma linguagem chula.
As crianças que foram obrigadas a defecar por meio de ordens, quando adultas apresentam acentuada tendência a terem seus problemas solucionados por outras e tendem a realização de várias atividades simultaneamente, que se manifesta numa obsessão à leitura durante a defecação.
A origem e o caráter da conexão que existe entre impulsos anais e sádicos, a que se alude na expressão usada para designar o nível de organização (sadismo anal), são análogas à oralidade e sadismo: em parte, deve-se a influências frustradoras e, em parte, ao caráter dos objetivos de incorporação. Acresçam-se, contudo, dois fatores: em primeiro lugar, o fato de a eliminação ser, objetivamente, tão “destrutiva” quanto a incorporação; o objeto do primeiro ato sádico-anal são as próprias fezes, cuja expulsão se percebe como uma espécie de ato sádico; posteriormente, as pessoas são tratadas como já o foram as fezes; em segundo lugar, o fator de “poder social” que se envolve no controle dos esfíncteres; exercitando-se no asseio, a criança encontra oportunidade efetiva para exprimir oposição contra os adultos. Razões fisiológicas existem para a conexão de erotismo anal, de um lado, e do outro lado, ambivalência e bissexualidade. O erotismo anal faz que a criança trate um objeto, a saber, as fezes, de maneira contraditória: expele a matéria para fora do corpo e a retém como se fosse um objeto amado; aí está a raiz fisiológica da “ambivalência anal”. Por outro lado ainda, o reto é órgão oco excretório; órgão excretório que é, pode expelir ativamente alguma coisa; órgão oco, pode ser estimulado por um corpo estranho que penetre. As tendências masculinas derivam da primeira faculdade; as tendências femininas, da segunda; temos aí a raiz fisiológica da conexão existente entre erotismo anal e a “bissexualidade”.
Quando a criança tem uma educação de higiene pessoal prematura, o indivíduo posteriormente quando adulto poderá ter um comportamento hostil e rebelde. Porém em seu aspecto formal apresenta-se asseado, obediente, passivo e medroso. Quando a criança tem uma educação de higiene tardia, o indivíduo tenderá a ser desasseado, desleixado e irresponsável. Quando tem uma educação no momento adequado, o indivíduo terá inconscientemente um sentido normal do poder, e conscientemente uma atitude adequada diante da sujeira e da limpeza. Como sublimação das tendências da fase anal, ou seja, o desvio das pulsões, para fins aceitos pela cultura, temos as atividades de artes-plásticas, que são transformações mais ostensivas do prazer infantil de brincar com as fezes.

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