Erotismo Uretral
O aparecimento do
erotismo uretral infantil liga-se tão intimamente ao erotismo genital infantil
que muito não se pode dizer a seu respeito antes de discutir a genitalidade
infantil. É frequente, todavia aparecer em estágios ulteriores como opoente
pré-genital da sexualidade infantil genuína.
A criança
erótico-uretral percebe, necessariamente, a diferença entre os sexos com
referência à micção; e, pois, é comum o erotismo uretral apresentar-se
combinado ao “complexo de castração”. Se bem que, certamente, o objetivo
primário do erotismo uretral seja o prazer da micção, há também um prazer
secundário de retenção uretral, análogo ao prazer de retenção anal, como há
conflitos desenvolvendo-se a este respeito. É o que se vê mais frequentemente
nas meninas, provavelmente por motivos anatômicos. Seja como for, não parece
que se justifique a ideia suscitada por Ferenczi no sentido de fazer o prazer
da retenção sinônimo de prazer anal e o prazer excretório sinônimo de prazer
uretral.
Os objetivos
originais do erotismo uretral são auto-eróticos, tal qual o são os de erotismo
anal; posteriormente, também o erotismo uretral pode voltar-se para os objetos,
o aparelho uretral transformando-se, então, em executivo de fantasias
sexualmente excitantes relacionadas com o ato de urinar em objetos, de ser
urinado por objetos; ou de fantasias em que menos se mostra a conexão com a
micção.
É frequente a
criança molhar ativamente a calça ou a cama, por prazer auto erótico. Mais
adiante, pode desenvolver-se a enurese como sintoma neurótico involuntário,
cuja natureza é a de equivalente inconsciente da masturbação. De modo geral, o
prazer de urinar tem caráter duplo: em ambos os sexos, podem ter significação
fálica e até sádica, a micção equivalendo à penetração ativa, com fantasias de
lesar ou destruir; ou se sente como “deixar escorrer”, como entrega passiva e
desistência do controle. O objetivo do fluxo passivo pode condensar-se com
outros objetivos passivos nos meninos; por exemplo, ser acariciado no pênis, ou
ser estimulado na raiz deste ou no períneo (na próstata). A parte fálica ativa
do erotismo uretral nos meninos não tarda a ser substituída pela genitalidade
normal, mas pode ocorrer que objetivos erótico-uretrais conflitem com a
genitalidade, condensados, muitas vezes, com objetivos anais; é certo que, às
vezes, o erotismo uretral masculino se associa a fantasias, a bem dizer,
sádicas, conforme se vê na análise de casos de ejaculação precoce severa.
Muitas vezes a ideia de “deixar escorrer” desloca-se, da urina para as
lágrimas. Nas mulheres, ocorrem dificuldades erótico-uretrais ulteriores,
exprimindo, com a maior frequência, conflitos que giram em redor da “inveja do
pênis”. Existe uma conexão entre o erotismo uretral e o sentimento de vergonha.
Fase Fálica
Ao concluir-se, a
sexualidade infantil está realizada na concentração genital de toda excitação
sexual; o interesse pelos genitais e pela masturbação alcança significação
dominante; chega a aparecer uma espécie de orgasmo genital. Foi esta fase que
Freud chamou organização genital infantil, ou fase fálica.
É a fase
precursora da forma final assumida pela vida sexual e que muito se assemelha a
ela, que se dá por volta do quarto ano de vida. Nesta fase a criança descobre o
prazer na região genital, seja pelo contato do vento, ou da mão de quem realiza
sua higiene, ainda que inconsciente. Assim, os garotos passam a pegar com mais frequência
no pênis e as garotas no clitóris, daí o termo “fálico”.
O ego da criança
de três ou quatro anos é mais experiente, mais desenvolvido, mais integrado e, consequentemente,
diferente sob muitos aspectos, do ego da criança de um ou dois anos. Essas
diferenças se evidenciam no aspecto do funcionamento do ego, isto é, nas
características das relações de objeto da criança que se relacionam ao ego.
Nessa idade a criança já não mais possui relações parciais de objeto, se seu
desenvolvimento foi normal. Assim, por exemplo, as diversas partes do corpo da
mãe, seus diferentes humores, e seus papéis contraditórios de mãe “boa” que
satisfaz os desejos da criança e de mãe “má” que os frustra, são todos
reconhecidos pela criança dessa idade como compondo um objeto único chamada mãe.
Não existem libidos orais, libido anal e libido genital específicas; existe
apenas uma libido, a qual se desloca de uma zona erógena para outra. Nos casos,
porém, em que se desenvolveram certas fixações, operam forças que resistem a
deslocamento desta ordem, de modo que, por exemplo, as fixações pré-genitais
dos neuróticos obstam a concentração genital progressiva da excitação durante o
ato sexual.
O prazer se
encontra basicamente nessas regiões, onde permanecerá, embora haja na garota um
deslocamento, diríamos parciais, para a vagina e na puberdade para o
clitóris-vaginal. Nenhuma catexia libidinal forte seja jamais completamente
abandonada. É possível, que grande parte da libido flua para outros objetos,
porém, pelo menos certa quantidade permanece ligada ao objeto de origem.
É nesta fase que
desperta nas crianças de ambos os sexos o desejo de ver os genitais umas das
outras, bem como mostrar os seus, incluindo neste ato de curiosidade e
exibicionismo outras partes do corpo e também outras funções corporais.
A “masturbação”,
ou seja, a estimulação dos genitais próprios para obtenção do prazer sexual é
normal na infância; nas condições culturais atuais, também é normal na
adolescência e até na idade adulta como substituto quando não se dispõe de
objeto sexual. Se um indivíduo cujas atividades sexuais são bloqueadas por
circunstâncias exteriores se recusa a usar deste expediente, a análise sempre
revela medo inconsciente ou sentimento de culpa na raiz da inibição. Os
pacientes que não se masturbaram na adolescência também revelam haverem sido
seus desejos sexuais esmagados em alto grau pelo medo e por sentimentos de
culpa, casos em que o prognóstico é mau, resultando, em geral, de repressão
especialmente profunda da masturbação infantil.
A micção é também
um componente da sexualidade infantil, denominado de erotismo uretral. O garoto
então é despertado em divertir-se no dimensionamento do jato de urina, onde se
encontra a raiz com a preocupação futura com a força, com a competição, com o
poder, com o desejo de ser maior, mais poderoso e mais importante.
O fato de os
adultos ameaçarem ou brincarem de castração com tanta facilidade e animação
constitui, certamente, expressão dos seus próprios complexos de castração,
porque amedrontar os outros é meio ótimo
de acalmar os próprios temores, donde resulta que os complexos de castração
vão passando de geração em geração. Não sabemos de que forma eles se formaram
originalmente, mas é certo que o respectivo desenvolvimento tem história muito
remota. Uma pessoa neurótica de origem fálica, é ambiciosa e tem prazer à
velocidade (forma do prazer da penetração).
A) A angústia de castração
nos meninos
O medo de alguma
coisa acontecer a este órgão sensível e prezado chama-se angústia de castração;
medo a que se atribui papel tão significativo no desenvolvimento total do
menino e que representa resultado, não causa desta valoração narcisística
elevada. É só a alta catexia narcisística do pênis neste período que explica a
eficácia da angústia de castração; aos seus precursores nas angústias orais, e
anal pela perda do seio ou das fezes, falta à força dinâmica que caracteriza a
angústia de castração fálica.
A angústia de
castração no menino do período fálico pode comparar-se ao medo de ser comido do
período oral, ou ao medo de ser despojado do conteúdo corporal do período anal;
é o medo retaliatório do período fálico, que representa o clímax dos temores
fantásticos de lesão corporal.
Em última análise,
pode-se rastrear a ideia de castração no antigo reflexo biológico da autotomia;
menos profunda, porém mais certamente, baseia-se ela na ideia retaliatória
arcaica de talião: o próprio órgão que pecou tem de ser punido. Vê-se,
entretanto, que o ambiente das crianças lhes reforça ideias fantásticas de
punição, muitos adultos ainda ameaçam o menino de “cortar-lhe isto” quando o
surpreendem masturbando-se. Em geral, a ameaça é menos direta, mas há outros
castigos que se sugerem, a sério ou brincando, e a criança interpreta-os como
ameaças de castração. Todavia, mesmo as experiências que, objetivamente, não contêm
qualquer ameaça podem ser falsamente interpretadas neste sentido pelo menino
que tenha a consciência culpada; por exemplo, a experiência de que existem
realmente criaturas sem pênis: a observação dos genitais femininos. Há vezes em
que uma observação desta ordem empresta caráter sério a uma ameaça anterior a
que não se dera maior atenção; noutros casos, a realização da fase fálica
basta, só ela, para ativar ameaças passadas que não haviam feito impressão
excessivamente intensa durante os períodos pré-genitais. Também varia a
natureza do perigo que se acredita esteja ameaçando o pênis. Há quem pense
estar o pênis ameaçado por um inimigo masculino, ou seja, por um instrumento
penetrante, pontudo ou por um inimigo feminino, isto é, instrumento que envolve,
isso conforme se apresente o pai ou a mãe como a pessoa que mais ameaça; ou
conforme as fantasias especiais que tem o menino no tocante ao contato sexual.
Meninos ou pessoas
com uma neurose com medo de castração podem desenvolver fantasias de que o pênis
lhe voasse do corpo, micróbios devorando o pênis, sonhos com calvície, cortar
cabelos, extração ou queda de dentes, decapitação. O medo preventivo da
castração pode ser representado em um sonho como uma lagartixa (perde o rabo e
cresce novamente) ou quando um símbolo peniano aparece mutilado.
Há indivíduos com
fixações orais que temem que lhes seja o pênis arrancado a mordidas, de onde
resultam ideias confusas, compostas de elemento tanto orais quanto genitais.
Existem homens que têm medo obsessivo consciente de terem o pênis pequeno
demais, cujo resultado foi alguma observação impressionante, na infância, do
tamanho do pênis de outrem, quando o deles era realmente pequeno.
Nos meninos, a
“feminilidade” nem sempre significa: “Acho que já estou castrado”, mas, pelo
contrário, uma evolução para a feminilidade (que representa desvio do uso ativo
do pênis) muitas vezes se tenta como tranqüilização contra castração futura
possível: “Se proceder como se já não tivesse pênis, não o cortarão”; ou até:
“Se não há meio algum de evitar a castração, prefiro praticá-la ativamente na
previsão de poder acontecer; e, pelo menos terei a vantagem de ficar nas boas
graças de quem me ameaça...”.
A intensidade da
“angústia da castração” à valorização intensa do órgão durante a fase fálica;
valoração esta que faz o menino decidir (quando enfrenta a questão: ou renuncio
às minhas funções genitais, ou arrisco o meu pênis) em benefício da desistência
da função. Um adulto perguntará: “Para que serve um órgão, quando me proíbem de
usá-lo?” No período fálico, contudo os fatores narcisísticos contrabalançam os
sexuais, de modo que a posse do pênis vem a ser o objetivo principal.
Problemas desta
ordem resultam de outra característica do estádio oral. Segundo Freud, o menino
desta idade ainda não toma posse de um pênis como questão de determinação
sexual; diferencia não em função de homem e mulher, mas em função de portador
de pênis e castrado. Quando obrigado a aceitar a existência de pessoas sem
pênis, fica presumindo que elas um dia, tiveram o órgão, mas o perderam. Os
analistas, que têm confirmado os achados desta ordem, cogitam que este modo de
pensar talvez resulte de repressão anterior. Talvez que o menino tenha razão
mais primária de temer os genitais femininos do que o medo da castração
(angústias orais de uma vagina dentada [Otto Fenichel-72], significando temor
retaliatório de impulsos sádicos-orais); daí tentar negar-lhes a existência.
A ideia de que as
meninas tiveram um pênis, mas de que este lhes foi cortado representaria tentativa
no sentido desta negação. Certo é que vem, ao mesmo tempo, a angústia: “Isto
pode acontecer também comigo”, com a vantagem, porém, de que se nega a
existência primária dos temidos genitais femininos. Não se tem a impressão,
contudo, de que os meninos se consolem, de qualquer modo, por saber que certas
criaturas tiveram o pênis cortado; pelo contrário, esta ideia afigura-se muito
assustadora. De mais a mais, parece natural que o menino presuma, enquanto não
lhe ensinam o contrário, que todas as pessoas sejam construídas tal qual ele o
é, de modo que esta presunção não se baseia, necessariamente, no medo; mas,
sim, a ideia de que a presunção incorreta é que cria o medo.
B) A inveja do pênis
nas meninas
O clitóris nas
meninas, é a parte do aparelho genital que se apresenta mais rica em sensações
e que atrai e descarrega toda excitação sexual; é o ponto central de práticas
masturbatórias tanto quanto de interesse psíquico. Em segundo lugar, significa
que também a menina classifica as pessoas em “fálicas” e “castradas”; ou seja,
a menina tipicamente reage à noção de que existem criaturas com pênis tanto com
a atividade “Gostaria de ter isto” quanto com a ideia “Já tive isto, mas
perdi”.
Mulheres
portadoras de forte inveja do pênis têm revelado, à análise, haver sofrido “fuga da
feminilidade”, desenvolvendo certo medo da própria feminilidade e, portanto,
construído inveja reativa do pênis.
A análise de
neuróticas obsessivas mostra, a princípio, uma quantidade de impulsos anais e
sádicos reprimidos; mais tarde, descobre-se que, em níveis mais profundos,
existem desejos genitais inconscientes, os quais foram rejeitados por uma
regressão a desejos sádicos-anais. Daí não dizermos que a índole reativa dos
desejos sádicos-anais contradiz a existência de um período sádico-anal original
no desenvolvimento libidinal da criança, mas que os desejos reativos seguiram
vias regressivas.
A menina tem o
sentimento de que a posse do pênis traz vantagens erógenas diretas no que diz
respeito à masturbação e à micção. A posse de um pênis, aos olhos da menina,
faz o possuidor mais independente e menos sujeito a frustrações; sentimento
talvez resultante da concentração de todos os sentimentos sexuais no clitóris,
durante esta fase, o clitóris sendo “inferior” em comparação com o pênis.
Período Intermediário
É o período onde a
sexualidade infantil atinge o seu ponto culminante seguida de seu declínio.
Fase Edipiana
É o estágio que
vai por volta do 3º ao 4º ano até o 6º ao 7º ano de vida. É também, o mais
importante no desenvolvimento da personalidade. É nele que a criança desenvolve
um grande interesse pelo genitor do sexo oposto e consequentemente, um forte
sentimento de rivalidade em relação ao genitor do mesmo sexo, com o desejo de
deslocar este.
Durante este tempo,
a criança aprende que seus desejos sexuais são proibidos, apresentando
sentimentos de amor e ódio em relação ao genitor do mesmo sexo. Isso leva a
sentimentos de ansiedade e de culpa, bem como de medo, de punição pelo crime.
Freud cedo
descobriu em suas pacientes manifestações metódicas inconscientes de fantasias
de incesto com o genitor do sexo oposto, aliadas ao ciúme e à raiva homicida
contra o genitor do mesmo sexo, a que denominou de Complexo de Édipo, por
analogia com a lenda clássica grega do inocente príncipe de Tebas, a quem o
oráculo predisse que assassinaria o seu pai e casaria com sua mãe. Abandonado
por seu pai numa encosta, para morrer de frio e inanição, foi encontrado e
educado por forasteiros; retomando, sem nada saber, cumpre a profecia. Mata o
rei, liberta o reino da opressão de uma criatura selvagem e terrível, casa a
seguir com a rainha, que era a sua mãe. Por remorso pelo crime, apesar das
evidências mostrarem não ter ele responsabilidade pessoal, arrancou seus
próprios olhos e, uma vez mais, vagueia, cego e exilado, através do mundo.
Além de reconhecer
que o complexo edipiano é universal, nossos conhecimentos sobre os desejos
edipianos expandiram-se durante as duas primeiras décadas deste século,
abrangendo o que, a princípio, era conhecido como desejos edipianos inversos ou
negativos, isto é, fantasias de incesto com o genitor do mesmo sexo e desejo
homicida contra o do sexo oposto. Por sua vez, essa constelação de fantasias e
emoções foi, a princípio, considerada excepcional; verificou-se que, ao
contrário, era geral.
Quando estava
redigindo e compilando esta pesquisa através de fragmentos de livros e outros
trabalhos, resolvi cortar o meu cabelo e de 2 dos meus 3 filhos. A cabeleireira
se queixou comigo que a filha dela estava chorando quando ela saía de casa para
trabalhar todos os dias. Ela achava estranha esta atitude, pois desde os 3 anos
ela não chorava, e agora com 7 estava tendo estas “crises”. Ela estava
determinada a levá-la em um psicólogo. Eu expliquei que estava estudando este
assunto e provavelmente ela estava na fase edipiana e buscava uma aproximação
dela por algum problema com o pai. Neste momento ela me revelou que era
separada e não tinha ninguém do sexo masculino próximo que ela pudesse se
relacionar.
Essa é, pois, da
maneira mais sumária, a explanação completa do que compreendemos por complexo
edipiano. É uma atitude dupla em relação aos dois genitores; de um lado, o
desejo de eliminar o pai odiado de forma ciumenta e até de lhe tomar o lugar em
uma relação sensual com a mãe; de outro lado, o desejo de eliminar a mãe,
também odiada com ciúmes, e de lhe tomar o lugar junto ao pai.
O fato isolado
mais importante a se ter em mente a respeito do complexo edipiano é a força e a
intensidade dos sentimentos envolvidos. É um verdadeiro caso de amor. Para
muitas pessoas é o caso mais ardoroso de toda sua vida, mas é de qualquer modo
tão ardoroso quanto qualquer outro que o indivíduo possa vir a experimentar. A
intensidade da tempestade de paixões de amor e ódio (ambiguidade), de desejo e
ciúme, de fúria e medo que ruge dentro da criança (veja o caso Hans de Freud).
C) A Formação do
Superego
O superego
corresponde, de modo geral, ao que comumente chamamos de consciência e
compreende as funções morais da personalidade, as quais incluem: - A aprovação
ou desaprovação de ações e desejos baseados na retidão - A auto-observação
crítica - A autopunição - A exigência de reparação ou arrependimento por haver
agido mal - Autoelogio ou autoestima como recompensa por pensamentos e ações
virtuosas ou recomendáveis.
Existem desejos
inconscientes em cada indivíduo, que ele conscientemente repudia e nega, pois
existem muitas exigências morais e proibições mais numerosas e rigorosas em
cada um de nós - Logo, as funções do superego atuam no inconsciente.
A intensidade do
medo de castração torna-se tão intensa e intolerável, que a criança é obrigada
a render-se ante um rival muito poderoso e a desistir dos seus desejos em
relação ao genitor do sexo oposto, pelo que reprime os seus sentimentos
sexuais. Ao renunciar aos sentimentos agressivos em relação ao genitor do mesmo
sexo e sexuais em relação ao do sexo oposto, a criança identifica-se com partes
de cada genitor, tornando-as partes de si mesma, partes essas, que vão formar o
Superego da criança.
Com Superego,
tem-se que é o que a criança internaliza, tomando de cada genitor, desde que
seja classificado como valor moral e como ideal. Uma porção do Superego será a
parte que estabelece o que seja certo ou errado. A outra parte, que é o chamado
Ego-ideal, é composta pelas características elevadas que todos devem portar,
para se tornarem dignos dos elogios e da aprovação geral. O Superego é,
principalmente uma parte inconsciente da psiquê
As exigências e
proibições morais de pais, amas, governantas e professores que podem atuar como
substitutos dos pais, começam muito cedo a influenciar a vida mental da
criança. Sua influência torna-se certamente evidente ao fim do primeiro ano de
vida. As exigências morais desse período mais remoto são até simples, se as
julgarmos de acordo com nossos padrões adultos. Entre as mais importantes
incluem-se as que se relacionam aos hábitos de higiene. Ferenczi referiu-se a
esses precursores do superego como “moralidade do esfíncter”.
Na fase
pré-edipiana, entretanto, a criança trata as exigências morais que se lhe fazem
como parte do seu ambiente. Se a mãe, ou algum outro árbitro moral, está
presente e a criança deseja agradá-la, evitará a transgressão. Se estiver
sozinha, ou zangada com a mãe, ela a desagradará ou procederá como bem
entender, sendo apenas dominada pelo medo da punição.
No decorrer da
própria fase edipiana, as coisas começam a mudar a esse respeito e, por volta
dos cinco ou seis anos, a moralidade passa a ser uma questão íntima. É aí, que
a criança começa a sentir pela primeira vez que os padrões morais e a exigência
de que o mau procedimento deve ser punido, suscitar o arrependimento, e
corrigido, vêm de dentro de si própria e não de outra pessoa a quem deve
obedecer. Aos nove ou dez anos de idade, esse processo de internalização se
torna bastante estável para ser absolutamente permanente, mesmo que de maneira
normal, ainda esteja sujeito a ampliações e modificações durante toda a
adolescência e, talvez, até certo ponto, na idade adulta.
À medida que
abandona e reprime ou de qualquer forma repudia os desejos incestuosos e
homicidas que constituem o complexo edipiano, as relações da criança com os
objetos desses desejos transformam-se, em grande parte, em identificações com
os mesmos. Em vez de amar e odiar os pais que segundo crê se oporiam a esses
desejos e lhe puniria, ela se torna igual a eles no repúdio a seus desejos.
Assim o núcleo original das proibições do superego é constituído pela exigência
de que o indivíduo repudie os desejos incestuosos e hostis que compunham o seu
complexo edipiano. Além disso, essa exigência persiste pela vida afora, de
forma inconsciente, é claro, como a essência do superego.
O superego,
consiste originalmente nas imagens internalizadas dos aspectos morais dos pais
na fase fálica ou edipiana. O ego é capaz de participar do poder dos pais ao se
identificar com eles, mas, à custa, porém, de uma submissão aos mesmos, mais ou
menos permanentemente. Freud (1923) fez duas outras observações referentes à
formação dessas identificações. A primeira consiste em que a criança suporta as
proibições dos pais, em grande parte, como ordens ou admoestações verbais. A
segunda observação foi que, em grande parte, as imagens dos pais introjetadas
para formar o superego são as dos superegos dos pais. Os pais ao educar os
filhos, tendem a discipliná-los tal qual o foram por seus próprios pais durante
a infância. Suas exigências morais, particulares, adquiridas na infância, eles
as aplicam aos filhos, cujos superegos, em consequência, refletem ou se
assemelham aos superegos dos pais. Esta característica tem uma consequência
social importante, como Freud (1923) salientou, acarreta a perpetuação do
código moral de uma sociedade e é, em parte, responsável pelo conservadorismo e
pela relutância em mudar demonstradas pelas estruturas sociais.
As catexias
instintivas são afastadas de seus objetos originais, sua procura constante de
outro objeto original leva à formação de uma identificação com o objeto
original dentro do próprio ego, a que, então, se unem as catexias. Assim, o que
era catexia do objeto passa a ser catexia narcísica. No caso que agora nos
interessa, naturalmente, as identificações que assim se formam dentro do ego
compreendem a parte determinada do ego que chamamos de superego.
Assim, do ponto de
vista do id, o superego é o substituto e o herdeiro das relações de objeto
edipianas. É por esta razão que Freud o descreveu como tendo suas raízes
profundas no id. Os impulsos incestuosos ou homicidas da criança com os pais
são reprimidos e continuam a viver no id como desejos reprimidos, ainda
dirigidos para os objetos originais, porém impedidos de se expressar
abertamente em atos ou pensamentos e fantasias conscientes. No entanto, esses
desejos edipianos reprimidos, com suas catexias, não contribuem para a formação
de superego.
A intensidade dos
próprios impulsos hostis da criança para com seus pais, durante a fase
edipiana, é um dos fatores principais para determinar a severidade do superego,
e não o grau de hostilidade ou de severidade dos pais em relação à criança, e
podemos explicar isto da seguinte maneira. Quando os objetos edipianos são
abandonados e substituídos por identificações do superego, a energia do
impulso, que anteriormente catexizava esses objetos, fica, pelo menos em parte,
à disposição da porção do ego recentemente estabelecida, e que chamamos de
superego. Assim, a energia agressiva à disposição do superego deriva da energia
agressiva das catexias de objeto edipianas, e as duas são pelo menos
proporcionais, senão iguais em quantidade. Isto é quanto maior a quantidade de
energia agressiva das catexias de objeto edipianas, maior a quantidade da mesma
que ficará subsequentemente à disposição do superego. Como consequência, a
criança pequena, cujas fantasias edipianas foram violentas, e destrutivas, terá
tendência a sentir maior sentimento de culpa que outra cujas fantasias tenham
sido menos destrutivas.
Uma das maneiras
de formular os conflitos do período edipiano consiste em afirmar que os
impulsos do id associados aos objetos daquele período, isto é, os pais, fazem
crer à criança que a estão expondo ao perigo de uma lesão corporal. No caso do
menino, o medo será de perder o pênis, no caso da menina será qualquer coisa
análoga ao medo da lesão genital, ou uma sensação intensamente desagradável de
mortificação devida à falta do pênis, ou ambos. Em qualquer caso, há, de um
lado, um conflito entre as exigências das catexias de objeto, e, de outro, das
autocatexias ou catexias narcísicas. Por ser ilustrativo registraremos que o
problema se decide em favor das catexias narcísicas. As catexias de objeto,
perigosas, são reprimidas ou abandonadas, ou são dominadas ou repudiadas por
outros meios, enquanto as catexias narcísicas são mantidas essencialmente
intactas. O componente narcísico da vida instintiva da criança é normalmente
mais forte que a parte que se refere às relações de objeto, embora estas sejam
muito mais fáceis de observar e consequentemente mais propícias a ocupar nossa
atenção.
Na formação do
superego são estabelecidas modificações, acréscimos e alterações que resultam
de uma identificação com um objeto de ambiente da criança ou do adulto, com o
aspecto moral desse objeto. Essas identificações são especialmente comuns na
pré-puberdade e na adolescência e modelam o superego do indivíduo, visando à
aceitação dos padrões morais e ideais dos grupos sociais dos quais é membro.
Podem até mesmo ocorrer modificações no superego durante a vida adulta, como
acontece, por exemplo, em consequência de uma conversão religiosa. Entretanto,
o núcleo original do superego que se formou durante a fase edipiana continuará
a ser sempre a parte mais firme e efetiva. Por conseguinte, as proibições
contra o incesto e o parricídio são as partes da moralidade da maioria das
pessoas mais completamente internalizadas, ou, inversamente, as que serão menos
provavelmente transgredidas. Outras proibições do superego são mais passíveis
de transgressão, desde que haja uma oportunidade particularmente favorável, ou
uma tentação especialmente forte.
O Superego surge
em consequência da introjeção das proibições e exortações paternas na fase
edipiana e, pelo resto da vida, sua essência inconsciente continua sendo a
proibição dos desejos sexuais e agressivos do complexo edipiano, apesar dos
numerosos acréscimos e alterações que sofre mais tarde, na infância, na
adolescência e mesmo na idade adulta.
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