B) A Resolução do
Conflito Edipiano
Tanto na resolução
do conflito edipiano quanto na formação do Superego, no menino, dá-se algo como
se fora o seguinte quadro: não há como eu ter a minha mãe só para mim, mas eu
posso fazer com que uma parte dela (no caso os ideais, as inclinações, os
critérios de julgamento) se torne parte de mim; assim sendo, eu a possuirei de
um modo seguro.
Do meu pai, a quem
amo e odeio (e por isso mesmo temo), não posso me livrar, mas para que ele não
mais me venha castrar, eu vou me tornar como ele (adotando partes dos seus
princípios morais e valores) e aí então ele gostará de mim e não será mais
perigoso para mim. Nas meninas, a atração pelo pai é também denominada de
edipiana para nós freudianos (os junguianos dizem Complexo de Electra).
A resolução da
situação é muito mais complexa para a menina do que para o menino, pois este, a
despeito de ter de desistir de sua ligação com a mãe, normalmente, quando
maduro, vem a contrair uma ligação com uma mãe substituta, a esposa. Já a
menina, que começa ligada à mãe, sente-se atraída pelo pai na fase edipiana,
odeia a mãe, quer ter o pai só para si, mas acaba por desistir, compensando-se
com o propósito de vir a ter um homem seu. Mas acontece que uma mulher sadia,
não é capaz, como o homem, de encontrar substituição para a ligação infantil,
pelo que é levada a compensar-se, propondo ela mesma a vir a ter um filho,
tornar-se mãe e assim realizar uma satisfatória relação mãe-filho.
C)
Caso o conflito Edipiano não seja satisfatoriamente resolvido o que pode
ocorrer
A excessiva
identificação com o genitor do sexo oposto pode estar associada ao
desenvolvimento de características de inversão sexual no menino, ou mesmo nas
meninas. O medo do genitor do sexo oposto, pode prejudicar a capacidade
individual em lidar com pessoas deste sexo em fase ulterior da vida.
Um estágio
edipiano parcialmente solucionado pode resultar num superego malformado ou
mesmo deficiente, o qual pode vir a ser determinante de alterações sociopáticas
do caráter e das neuroses.
D) Causas de uma
solução não-satisfatória do Estágio Edipiano
Acesso ao período
edipiano com conflitos na fase oral, ou anal, ou fálica, que são do período
pré-edipiano, trazendo para o período novo, alguém sem energia suficiente para
enfrentar as novas circunstâncias. A ausência de um dos genitores (sem, também,
haver um substituto à altura), devido a divórcio ou qualquer outro tipo de
separação.
Severa
psicopatologia da parte de um dos genitores, dos tipos, por exemplo, ser um
deles excessivamente sedutor, ou cruel, ou ameaçador, ou daqueles que vivem a
rejeitar, ou inconsistente, ou inseguro, ou em constantes transformações, ou
frio etc.
Severos defeitos
no Superego, como um pai efeminado, poderão vir a serem determinantes de uma
confusa identificação com tal genitor o que pode resultar numa formação
superegóica instável, inconsistente e não-razoável.
Ao fim do período
Edipiano, instala-se o princípio do que Freud chamou de fase genital, em que o
interesse primário passa a ser a experiência genital, isto é, a tendência em
vir a unir os órgãos genitais com o sexo oposto: é a atração direcionada à
outra pessoa, um redirecionamento objetal, que significa a ultrapassagem da
fase auto-erótica, como até então o era na última fase, fálica.
Fase de latência.
Esta é a fase que
vai dos 6-12 até os 11-14 anos ou a puberdade. A característica desta fase é a
repressão das fantasias e das atividades sexuais, onde os desejos e impulsos
sexuais são recalcados no inconsciente. As mães costumam relatar que a partir
dos 7 anos, as crianças, especialmente os meninos, ficam, mais mansinhos. Na
verdade, o que ocorre é que as crianças, acessam um período de quiescência
sexual.
Aqui surgem as
forças anímicas, que posteriormente surgirão como entraves à pulsão sexual,
estreitando seu curso semelhante a um dique (o asco, o sentimento de vergonha,
as exigências dos ideais estéticos e morais). Embora a educação tenha muita a
ver com a construção desses diques, tal desenvolvimento é organicamente
condicionado e fixado pela hereditariedade, podendo produzir-se, no momento
oportuno, independente da ajuda da educação. Esta fica inteiramente dentro do
âmbito que lhe compete, ao limitar-se a seguir o que foi organicamente
prefixado e imprimi-lo de maneira um pouco mais polida e profunda.
Na descrição
clássica original de Freud, as manifestações sexuais são quiescentes neste
período; em particular, há uma profunda repressão da masturbação, que permanece
a grande tentação e problema da idade. Foi a preocupação com a masturbação e
outras manifestações libidinais diretas que levou os antigos analistas a
negligenciarem este período embora um fator adicional fosse a virtual ausência
de crianças como pacientes.
O período de
latência proporciona à criança o equipamento, em termos de desenvolvimento do
ego, que a prepare para o encontro com o incremento de impulsos da puberdade. Consequentemente,
ela é capaz de desviar a energia instintiva para estruturas psíquicas
diferenciadas e para atividades psicossociais, em vez de ter de experimentá-la
unicamente como um aumento da tensão sexual e agressiva, a que podemos
denominar sublimação.
A primeira parte da latência começa dos 7 aos 8 anos
aproximadamente.
É caracterizada, segundo observações de Freud, pela passagem do complexo de
Édipo e a formação do superego. Aqui há um primeiro caso de amor com uma
criança da mesma idade ou próxima. É bastante intenso enquanto dura, depois é
abandonado, após um intervalo bastante curto. A consolidação do superego e o
fortalecimento dos mecanismos do ego continuam sendo interesses primordiais.
A segunda parte da latência vai dos 8 ao 11-14 anos. Caracteriza-se
pela busca de colegas e a formação de grupos, tanto para meninos quanto para
meninas, e por consideráveis mudanças endocrinológicas.
Fase de maturação
psicossexual ou puberdade
Este período vai
dos 12-15 até os 18 anos. Começa de forma súbita uma atividade endocrinológica
intensa no organismo, que vai resultar numa exacerbação da libido. É a partir
daí que o indivíduo retoma, de forma muita acelerada, as fases do
desenvolvimento sexual, já que vem de sair da quiescência que caracteriza o
Período de Latência que, na realidade, foi uma interrupção do desenvolvimento
sexual intenso experimentado durante os estágios pré-edipiano e edipiano.
Observa-se nesta
fase uma tendência para uma reedição dos impulsos orais, anais e fálicos e um
misto de interesse sexual e de conflitos com os pais, como na fase edipiana.
Do ponto de vista
sexual, é a época mais importante da vida humana, entre o nascimento e a morte,
é justamente a da maturação sexual, sendo seu momento marcante pela primeira
eliminação de células germinativas: primeira polução entre os garotos, e
primeira ovulação ligada à menarca, entre as garotas. O que se dá, justamente
na puberdade. A puberdade é uma revolução fisiológica, psíquica e sexual, que
se processa de dentro para fora do organismo. O que vemos aparecer, de repente,
como sexualidade psicológica, não é mais que a manifestação exterior duma
atividade maior das glândulas nos recessos mais íntimos do ser. Os mesmos
hormônios sexuais que formam o tipo sexual conduzem o corpo, a alma e o sexo do
estado infantil à maturidade e desta a velhice, efetuando, dessa maneira, a
lenta evolução e involução do organismo.
A puberdade é
caracterizada por certos efeitos fisiológicos gerais: crescimento rápido do
corpo e fortificação, principalmente, do esqueleto; aparição de pelos,
sobretudo nas axilas e na região pubiana; e, de um modo geral, modificação da
fisiologia e dos hábitos. Durante a puberdade, o crescimento das garotas se dá
mais rápido, que o dos garotos, ao contrário do que se verifica nos períodos
precedentes e subsequentes. As jovens de 15 anos são, em geral, maiores e mais
pesadas que os rapazes da mesma idade. Em compensação, seu crescimento pára aos
20 anos, enquanto nos jovens continua até os 23.
Paralelamente ao
desenvolvimento das diferenças de caracteres sexuais, provocadas sobre a
constituição física e pelo instinto sexual e pela vida psíquica, a
personalidade psicofísica sofre, durante a puberdade, modificações muito
importantes. A consciência do Eu, aumentada ou exagerada, contrasta
estranhamente com a diminuição da resistência física.
As modificações gerais,
devidas à puberdade, constam desse conjunto indefinível que constitui a beleza,
que é a estética feminina.
Ao nascer, tudo é
desproporção e fealdade. A cabeça é enorme e desproporcionada no que se refere
às outras partes do corpo procuram harmonizar-se, estabelecendo as proporções
físicas humanas.
A pele da mulher,
na puberdade, é fina. Pode ter, no momento das regras, uma coloração
ligeiramente azulada, sobretudo nas morenas, mais notável em volta dos olhos,
onde forma um círculo negro escuro.
Alguns meses antes
das primeiras regras, o púbis se cobre de pelos, cuja coloração pode ser
diferente da do cabelo. Depois do púbis, as axilas se cobrem por sua vez de
pêlos; na maioria das ocasiões, já apareceram as regras quando se manifesta o
sistema capilar nessas regiões.
Todas as glândulas
da pele: glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas, etc., se desenvolvem no
momento de chegar a puberdade, produzindo, as primeiras, uma secreção sebácea,
e o odor genital. Conhecemos o papel que este odor desempenha nos animais,
ocasionando a procura dos sexos, isto é, o prazer sexual.
A época da
transformação da criança em adolescente, varia segundo as latitudes. Pode-se
admitir nesse caso, a influência do sol sobre o processo sexual. Nas regiões
polares, a puberdade não se manifesta antes dos 18 anos de idade. Durante a
noite polar que dura, seis meses, as mulheres da Lapônia e da Groenlândia não
menstruam. Já nas regiões quentes da África, a puberdade, muitas vezes, tem
início aos 8 e aos 10 anos de idade.
Não só as condições climáticas, mas as condições
particulares de vida
e a própria alimentação, bem como o meio social (informações
absorvidas), podem precipitar ou retardar a puberdade.
As primeiras
poluções e menstruações manifestam-se em geral, entre os 12 e 14 anos de idade.
Todavia, o limite é muito largo para ambos os sexos e, dessa forma, não se deve
considerar um fenômeno patológico a primeira eliminação de células
germinativas, aos 17 anos. Pode-se denominar precoces os fenômenos de puberdade
antes dos 10 anos, e retardados os que iniciam depois dos 18 anos.
A) Polução
(Emissão Involuntária de Esperma)
O esperma é um
líquido opalino-grisáceo, semitransparente, que contém o produto das glândulas
seminais, isto é o espermatozoide. A composição deste alcaloide consta de
matéria albuminoide, que não contém as relações da albumina nem da fibrina, mas
o Esperma-tina. Esta é solúvel em água, sem que o calor a coagule. O esperma
dessecado, quando em contato com a água, incha novamente. Processo utilizado
para reconhecimento médico legal das manchas encontradas em lençóis, visto que,
por esse processo, pode-se efetuar, no líquido obtido, o exame dos espermatozoides,
único meio, no momento, de esclarecer sua natureza.
Por esfriamento
podem ser encontrados no esperma pequenos cristais em forma de prismas,
formados sucessivamente por cristais de fosfato de magnésio, fosfato de cal e
de albumina.
B) Menstruação ou
Regras
É o sangue que as
mulheres perdem, a partir da puberdade, que se dá a cada mês lunar, isto é, de
vinte e oito em vinte e oito dias, com maior ou menor abundância, podendo
chegar a trinta dias. Entre os antigos hebreus, as mulheres eram, por lei,
consideradas impuras durante o período menstrual, e tudo que por elas fosse
tocado, também. Assim, elas praticamente ficavam isoladas do grupo por um
período de sete dias, retornando a sua vida normal, após um cerimonial de
purificação. Dado estas práticas, ainda hoje temos pessoas que semelhantemente
agem – onde o contato sexual é proibido.
Por outro lado,
muitas mulheres se excitam com o odor do sangue, achando o coito nesse período
muito prazeroso. Outras há que se sentem mais a vontade, no ato, visto que o
risco de uma gravidez indesejada é afastado nessa época. Atualmente a maioria
das mulheres atravessa seus ciclos menstruais de forma quase imperceptível;
realizam suas atividades normalmente. Apenas uma pequena percentagem, devido a dismenorreia,
mastodinia ou cólicas menstruais, não consegue realizar seus afazeres
cotidianos. Porém, por volta do décimo quarto dia do ciclo menstrual, contado
do início da menstruação, é impossível passar despercebido. É o momento em que
a mulher está com sua máxima carga hormonal, e o desejo sexual está no ar,
sentindo intenso desejo de fazer amor, e, na maioria das vezes, não sabe como
comunicar ao parceiro. Então se sente irritada, mal-humorada, sem saber
precisar a causa. Na ausência de um parceiro fixo, é comum a jovem adolescente
relacionar-se sexualmente com um amigo ou conhecido. É nesse período que a
jovem, mesmo desejando conservar-se virgem, perde a virgindade. É também aí que
ocorre a gravidez indesejada.
Fase adolescência
final e adulto jovem
Neste período, a
partir dos 16-18 anos e pelo resto da vida, podem ser observados os chamados
pontos de fixação, que são correspondentes às fases não-solucionadas, ou pelo
mesmo não satisfatoriamente solucionada, que determinam a existência de um
indivíduo adulto, que passa um quadro de imaturidade em algumas áreas do seu
caráter, de sua identificação sexual, de seu equilíbrio afetivo, suas
tendências a regredir ante o stress, sua incapacidade de formar um
relacionamento estável, suas eleições sexuais e pelas evidentes indicações de
eclosão de um comportamento neurótico.
A sexualidade do
idoso
O processo do
envelhecimento é irreversível e contínuo, seus sintomas são: desenvolvimento e
declínio. Tais processos encontram-se ligados ao longo da vida, tendo em vista
que constantemente estão se formando novas células, enquanto outras são
destruídas, algumas são de curta duração, como as que formam as camadas mais
externas da epiderme. Como o envelhecimento é uma realidade, o importante é se
preparar para um envelhecimento com qualidade, ou seja, com saúde mental,
física e emocional e consequentemente uma vida sexual saudável.
Quanto a
sexualidade, o que mais observamos, é um despreparo psicológico, influenciado
pela cultura, cheia de tabus. Se na adolescência temos muitos preconceitos,
imagine na chamada terceira idade. Não se admite ver uma pessoa idosa
namorando, e, na maioria dos casos, os próprios idosos não aceitam tal ideia.
Quantos são, que mesmo aos quarenta se expressam: “eu já estou velho para
isso”. Isto é um absurdo, pois está provado que o ser humano, tanto o homem
quanto a mulher, pode ter uma vida sexual ativa até o fim de suas vidas.
A sexualidade
infantil e a Psicanálise
Na experiência e
na teoria psicanalíticas, “sexualidade” não designa apenas as atividades e o
prazer que dependem do funcionamento do aparelho genital, mas toda uma série de
excitações e de atividades presentes desde a infância que proporcionam um
prazer irredutível à satisfação de uma necessidade fisiológica fundamental
(respiração, fome, função de excreção, etc.), e que se encontram a título de
componentes na chamada forma normal do amor sexual.
A psicanálise
confere, como sabemos, grande importância à sexualidade no desenvolvimento e na
vida psíquica do ser humano. Mas não poderemos compreender esta tese sem
avaliarmos, ao mesmo tempo, a transformação por que passou a noção de sexualidade.
Não pretendemos aqui determinar qual a função da sexualidade na apreensão
psicanalítica do homem, mas apenas precisar, quanto à sua extensão e
compreensão, o uso que os psicanalistas fazem do conceito da sexualidade. Se
partirmos da visão comum que define a sexualidade como instinto, isto é, como
um comportamento pré-formado, característica da espécie, como um objeto
(parceiro do sexo oposto) e uma meta (união dos órgãos genitais no coito)
relativamente fixos, perceberá que ela só, muito imperfeitamente explica fatos
fornecidos tanto pela observação direta como pela análise.
Em extensão a
existência e a frequência das perversões sexuais, cujo inventario fora
realizado por alguns psicopatologistas do fim do século XIX (Krafft-Ebing,
Havelock Ellis), mostraram que existe grande variedade quanto à escolha de
objeto sexual e quanto ao modo de atividade utilizado para obter a satisfação.
Freud estabelece
que existem numerosas transições entre a sexualidade perversa e a chamada
sexualidade normal: aparecimento de perversões temporárias quando a satisfação
habitual se torna impossível, presença – sob a forma de atividades que preparam
e acompanham o coito (prazer preliminar) – de comportamentos encontrados nas
perversões, seja como substitutos, seja como condição indispensável da
satisfação.
A psicanálise das
neuroses mostra que os sintomas constituem realizações de desejos sexuais que
se efetuam sob forma deslocada, modificada por compromissos com a defesa, etc.
Por outro lado, são frequentemente desejos sexuais perversos que encontramos
por detrás deste ou daquele sintoma.
Para Freud, é
sobretudo a existência de uma sexualidade infantil, que atua desde o princípio
da vida, que vem ampliar o campo daquilo que os psicanalistas chamam sexual. Ao
falarmos de sexualidade infantil, não pretendemos reconhecer apenas a
existência de excitações ou de necessidades genitais precoces, mas também de
atividades aparentadas com as atividades perversas do adulto, na medida em que
põem em jogo zonas corporais (zonas erógenas) que não são apenas a zonas
genitais, e na medida em que buscam um prazer (sucção do polegar, por exemplo).
Neste sentido, os psicanalistas falam de sexualidade oral, anal, etc.
Em compreensão,
esta maior extensão do campo da sexualidade levou necessariamente Freud a
procurar determinar os critérios daquilo que seria especificamente sexual
nestas diversas atividades. Uma vez estabelecido que o sexual não é redutível
ao genital (assim como o psiquismo não o é ao consciente), o que autoriza o
psicanalista a atribuir caráter sexual a processos onde o genital está ausente?
A questão se coloca essencialmente em relação à sexualidade infantil, porque no
caso das perversões do adulto a excitação genital está geralmente presente.
O problema é
francamente abordado por Freud, especialmente nos capítulos XX e XXI das
Conferências Introdutórias sobre Psicanálise – 1915-17, onde coloca para si
mesmo a seguinte objeção: “Por que haveis de teimar em já chamar sexualidade a
estas manifestações da infância que sois os primeiros a considerar:
indetermináveis, e, a partir das quais o sexual vai mais tarde constituir-se?
Por que não dizer simplesmente, contentando-vos apenas com a descrição
fisiológica, que já no lactente são observadas atividades”, como a sucção e a
retenção dos excrementos, que nos mostram que a criança visa prazer de órgão.
Embora deixando a
questão em aberto, Freud responde apresentando o argumento clínico segundo o
qual a análise dos sintomas no adulto nos conduz a estas atividades infantis
geradoras de prazer, e isto por intermédio de um material incontestavelmente
sexual. Postular que as próprias atividades infantis são sexuais supõe uma
operação suplementar: para Freud, aquilo que se encontra no fim de um
desenvolvimento que podemos reconstituir passo a passo devia encontrar-se, pelo
menos em germe, desde o início. No entanto, ele reconhece por fim que “...não
estamos ainda de posse de um sinal universalmente reconhecido e que permita
afirmar com certeza a natureza sexual de um processo”.
Freud declara muitas
vezes que tal critério deveria ser descoberto na ordem bioquímica. Em
psicanálise, tudo o que se pode postular é dada pela clínica, a qual, porém,
nos mostra a sua evolução e transformações.
Vemos que a
reflexão freudiana parece tropeçar numa dupla aporia referente, por um lado, à
essência da sexualidade (em que a última palavra é deixada a uma hipotética
definição bioquímica) e, por outro, à sua gênese, pois Freud contenta-se em
postular que a sexualidade existe virtualmente desde o início.
É no que se refere
à sexualidade infantil que esta dificuldade é mais patente; é aqui também que
podemos encontrar indicações quanto à solução.
Já ao nível da
descrição quase fisiológica do comportamento sexual infantil, Freud mostrou que
a pulsão sexual se destaca a partir do funcionamento dos grandes aparelhos que
garantem a conservação do organismo. Num primeiro tempo, só poderíamos
referenciá-la como um a mais de prazer fornecido à margem da realização da
função (prazer sentido com a sucção, além do saciar da fome). É num segundo
tempo que este prazer marginal será procurado por si mesmo, para além de
qualquer necessidade de alimentação, para além de qualquer prazer funcional,
sem objeto exterior e de forma puramente local ao nível de uma zona erógena.
Apoio, zona
erógena, auto-erotismo são para Freud as três características, estreitamente
ligadas entre si, que definem a sexualidade infantil. Vemos que, quando Freud
procura determinar o momento de emergência da pulsão sexual, esta surge quase
como uma perversão do instinto, em que se perdem o objeto específico e a
finalidade orgânica.
Numa perspectiva
temporal bastante diversa, Freud insistiu muitas vezes na noção de a
posteriori; novas experiências vão conferir a experiências precoces,
relativamente indeterminadas, uma significação que elas não possuíam na origem.
Poderemos dizer, em último caso, que as experiências infantis, a da sucção por
exemplo, começam não-sexuais e que o seu caráter sexual só lhes é atribuído
secundariamente, depois que aparece a atividade genital? Essa conclusão parece
infirmar, na medida em que sublinha a importância do que há de retroativo na
constituição da sexualidade, o que dizíamos acima da emergência desta, e a
“fortiori” a perspectiva genética segundo a qual o sexual já está implicitamente
presente desde a origem do desenvolvimento psicobiológico.
Essa é justamente
uma das principais dificuldades da teoria freudiana na sexualidade; esta, na
medida em que não é um dispositivo inteiramente montado, mas se estabelece ao
longo de uma história individual que muda de aparelhos e de objetivos, não pode
ser entendida exclusivamente no plano de uma gênese biológica, mas,
inversamente, os fatos estabelecem que a sexualidade infantil não é uma ilusão
retroativa.
Na nossa opinião,
a solução para esta dificuldade poderia ser procurada na noção de fantasias
originárias (ou protofantasias), que de certa maneira vêm equilibrar a de
“posteriori”. Sabe-se que Freud designa assim, apelando para a “explicação
filogenética” certas fantasias (cena originária, castração, sedução) que
podemos encontrar em cada sujeito e que informam a sexualidade humana. Esta,
portanto, não seria explicável apenas pela maturação endógena da pulsão:
constituir-se-ia no seio de estruturas intersubjetivas que preexistem à sua emergência
no indivíduo.
A fantasia de
“cena originária” pode, no seu conteúdo, nas significações corporais que nela
estão presentes, referir-se preferencialmente a determinada fase libidinal
(sádico-anal), mas, na sua própria estrutura (representação e solução do enigma
da concepção), não se explica, para Freud, pela simples conjunção de indícios
fornecidos pela observação; constitui a variante de um “esquema” que “já está
lá” para o sujeito. A outro nível estrutural, poderíamos dizer o mesmo do
complexo de Édipo, definido como regendo a relação triangular entre a criança e
os pais. Ora, é significativo que os psicanalistas que mais se dedicaram a
descrever o jogo fantasístico imanente à sexualidade infantil (escola
kleiniana) nele tenham visto em ação, muito precocemente, a estrutura edipiana.
A reserva de Freud
quanto a uma concepção puramente genética e endógena da sexualidade verifica-se
igualmente no papel que continuou a atribuir à sedução, uma vez reconhecida a
existência de uma sexualidade infantil.
Simultaneamente
ligada, pelo menos nas origens, as necessidades tradicionalmente designadas
como instintos, e independente deles, simultaneamente endógena, na medida em
que conhece uma linha de desenvolvimento e passa por diversas etapas, e
exógena, na medida em que irrompe no sujeito a partir do mundo adulto (pois o
sujeito tem que se situar de saída no universo fantasístico dos pais e recebe
deles, de forma mais ou menos velada, incitamentos sexuais), a sexualidade
infantil é difícil de aprender ainda pelo fato de não ser suscetível nem de uma
explicação redutora que faria dela um funcionamento fisiológico, nem de uma
interpretação “pelo alto”, que pretendesse que Freud descreve sob o nome de
sexualidade infantil os avatares da relação de amor. Quando Freud a encontra em
psicanálise é sempre sob a forma de desejo: este, ao contrário do amor, está em
estreita dependência de um suporte corporal determinado e, ao contrário da
necessidade, faz depender a satisfação de condições fantasísticas que
determinam estritamente a escolha de objeto e a articulação da atividade.
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