28/11/2013

AS EMPRESAS QUE INVESTEM NA APRENDIZAGEM SÃO MAIS COMPETITIVAS - POR PEDAGOGO CLAUDIO SANTOS E Ma. MARCELA RUBERT

RESUMO

Educar não é tarefa fácil, ainda mais quando lidamos com pessoas que trabalham em uma empresa e têm uma multiplicidade cultural, torna-se mais complexo ainda, no entanto, nesse artigo, averiguei como é possível a empresa educar seus funcionários para beneficiá-los e tornar a empresa mais competitiva. Através de pesquisa semi estruturada, bibliográfica e um estudo de caso da UCT – Universidade Corporativa de Transporte da FETRANSPOR constatei o quanto é possível, de fato, construir saberes, junto aos colaboradores. Um tema que já tem mais de dez anos no nosso país, porém que ainda é novo, no próprio meio acadêmico, e, gera alguns questionamentos sobre sua eficácia, eficiência e permanência, sendo assim, há muito a ser explorado, esclarecido e aprofundado, não tive a pretensão de esgotar com o tema, pois, pelo que nos parece, a Educação Corporativa precisa ser melhor compreendida, a fim de melhorar seu desempenho entre os colaboradores. Procurei, no desenvolvimento do artigo, responder a seguinte pergunta: As empresas que investem na aprendizagem são mais competitivas?
Palavras Chave: Empresa. Educação corporativa. Competitividade.

ABSTRACT
Educating is no easy task, further when dealing with people who work in a company and has a multiplicity cultural, becomes even more complex, however, in this article, ascertained how can the company educate their employees to benefit them and make the company more competitive, Through research semi-structured literature review and a case study of UCT - Corporate University's Transportation FETRANSPOR -, I realized how much it is possible, in fact, build knowledge, with employees. A theme that already has more than ten years in our country, but that is still new, in their own academic, and, raises some questions, about its effectiveness, efficiency and stay, thus, there is much to be explored, clarified and deepened, had no claim to be exhaustive, I did not have to pretend to exhaust the subject, because, so it seems, Corporate Education needs to be better understood, to improve their performance among employees. Sought, developing the article, answer the following question: Companies that invest in learning, are more competitive?
Keywords: Company. Corporate Education. Competitive edge.
  1. INTRODUÇÃO
            Sempre achei o treinamento na empresa de grande importância, para o colaborador e para o empresário. Tive oportunidade de treinar colaboradores de algumas empresas onde fui contratado, na Baixada Fluminense, porém, algo que me deixava incomodado era a falta de acompanhamento desse profissional após o treinamento e o porquê do treinamento, ou seja, como era o profissional antes do treinamento? Se não existe o ex-ante e o ex-post, para que serve o treinamento?
Prestei Consultoria na área de RH, numa empresa na cidade de São João de Meriti/RJ, porém, o índice de aproveitamento dos treinamentos era baixo, a falta de comprometimento dos Treinandos e Gerência era notório, o interesse da Presidente da Empresa em ver o resultado desse treinamento era parcial, ou seja, apesar de querer e gostar do treinamento, não havia um comprometimento em investir uma verba específica, em monitorar e cobrar os resultados desse treinamento. Após essa experiência, constatei que em outras empresas de pequeno e médio porte, essa realidade se mantém: falta de investimento, resistência dos colaboradores e gestores, nenhum monitoramento e mensuração de resultados do treinamento.
Em meio a pesquisa sobre o potencial do treinamento e desenvolvimento dos colaboradores, me deparei com um tema, até então, desconhecido para mim: A Educação Corporativa, procurei direcionar a pesquisa para essa realidade da educação que promove o aprendizado do colaborador de maneira contínua, a fim de desenvolver suas competências, no entanto, surgiu alguns questionamentos: A educação corporativa torna a empresa mais competitiva e aumenta sua lucratividade? Como aplicar a educação corporativa na prática?

1.1.        Objetivo Geral
Compreender a importância da Educação Corporativa no processo de aprendizagem da empresa, e, como sua implementação, pode torná-la mais competitiva.

1.2.        Objetivos Específicos
1.2.1.   Entender o que é Educação e Universidade Corporativa;
1.2.2.   Diferenciar Treinamento e Educação Corporativa;
1.2.3.   Desenvolver Competências Críticas e Empresariais.

1.3.        Justificativa
A Educação Corporativa traz consigo uma proposta dinâmica e arrojada, importante para o mercado de trabalho, considerando que o colaborador é um profissional que precisa estar em sintonia com as inovações tecnológicas e que suas habilidades e competências podem ser potencializadas continuamente. O Gestor de RH precisa ter a compreensão que a educação corporativa é instrumento de apoio ao profissional, possibilitando ao mesmo: aumento em seu desempenho, melhor qualidade de vida, geração de lucros e menos desperdícios, pois um profissional que aprende continuamente, tem mais foco em seus resultados, compreendendo melhor sua função/missão na empresa.

1.4.        Metodologia
Trabalho de caráter teórico, que será desenvolvido através de pesquisa bibliográfica: leitura e análise de livros, revistas e artigos publicados na internet relacionados à Universidade Corporativa, sua prática nas empresas, a Relação com as Universidades Acadêmicas, o Processo de Aprendizagem, a contribuição do Especialista em RH e um estudo de caso da Universidade Corporativa do Transporte da FETRANSPOR.

1.5.        Revisão de Literatura
O processo de aprendizagem é contínuo e o fato de nos formarmos na escola ou termos um diploma universitário, não nos impede de darmos continuidade aos estudos, ou seja, a aprendizagem é permanente, sendo cada pessoa capaz de fazer a diferença no desempenho de uma empresa. O treinamento e desenvolvimento, passam a dar lugar a uma forma de construir saberes com o foco em resultados contínuos, sendo assim, temos uma visão da Educação Corporativa prática, além da estratégia de negócio, pois focaliza o desenvolvimento de competências do trabalhador e apresentam casos de sucesso da aplicação dessa educação. (CASARINI e BAUMGARTNER, 2012).
A educação corporativa tem princípios (Competitividade, Perpetuidade, Conectividade, Disponibilidade, Cidadania, Parceria, Sustentabilidade), e estes visam a um melhor desempenho do profissional, enquanto indivíduo que interage com a sociedade, produzindo para ela produtos e/ou serviços, por isto é necessário compreender o que de fato a educação corporativa abrange: o que são mitos e verdades. Quando compreendemos seu papel, percebemos a importância em investir na mesma, para ampliarmos os saberes e tornarmos a empresa mais competitiva, pois passa a ter um profissional mais aprofundado em conhecimento e capaz de realizar bem melhor as atividades propostas a ele. (ÉBOLI, 2004).

2.     EDUCAÇÃO CORPORATIVA
Como mencionei, na introdução, me deparei com a educação corporativa, sem ter ao certo a noção do que a mesma abrangia. Por algum tempo, confesso que fiquei em conflito, pois minha formação pedagógica me impele a buscar uma construção de saberes para formar um cidadão crítico, e, sem entender a dimensão da educação corporativa, a princípio, tive informações de suas características neoliberais, ou seja, objetivando apenas a preparação educacional que não permite ao indivíduo o livre pensar capaz de construir saberes e tornar o educando um cidadão crítico, mas só executar o serviço e gerar lucros. Ao me debruçar sobre a literatura supracitada passei a ter uma compreensão do amplo campo de ação da educação corporativa, e, enquanto pedagogo, fiquei tranquilo e bem animado a continuar a pesquisa, e, posso dizer: me encontrei em meio a um universo empresarial que antes não tinha essa proposta – educar.
Conforme nos expõe (Eboli, 2004, p.29-30):

A literatura aponta três formas básicas de produção de conhecimento: ideológica, institucional e tecnológica. Em linhas gerais, pode-se dizer que a escola clássica se dirige à formação das classes dominantes, dando ênfase à transmissão da ideologia vigente (modo de ser e de pensar), ao passo que a escola profissionalizante, voltada às classes instrumentais e dominadas, privilegia os aspectos técnicos e operacionais (modo de fazer). Assim, é interessante notar que as universidades corporativas (UCs) surgem no fim do século XX, mesclando esses dois enfoques e procurando desenvolver nos mais diversos públicos e categorias profissionais com os quais a empresa interage tanto os componentes ideológicos quanto os tecnológicos.

            Isto nos arremete a um profissional que, não se foca apenas no resultado de seu produto/serviço, porém é capaz de pensar no todo, incluindo a sociedade da qual faz parte e interage. Sendo assim, a Educação Corporativa (EC), que no decorrer desse trabalho também terá como equivalente Universidade Corporativa (UC) ou Sistema de Educação Corporativo (SEC), focaliza o ser humano, ou seja, no desenvolvimento do profissional, que ao participar do processo de aprendizagem, é capaz de fazer sua empresa aprender e tornar-se mais competitiva – pois as empresas aprendem, são formadas por pessoas. Pessoas não são recursos, que se utilizam e são descartados, mas sim têm competências, habilidades que, uma vez potencializados, permitem o desenvolvimento pessoal e profissional do indivíduo, tornando essa empresa numa corporação criativa, competitiva e mais humanizada.
            Mas o que é enfim a Educação Corporativa e qual sua relação com a educação convencional?

2.1.        A Educação Corporativa e sua Relação com a Educação Convencional
Ao pensarmos em Educação Corporativa, parece-nos inicialmente, que se trata de uma educação focada em resultados lucrativos, ou seja, educação para negócios, mas quando nos aprofundamos em sua metodologia, constatamos que a mesma procura “aparar arestas” de uma educação que precisa ser complementada, suplementada e jamais ser considerada completa ou acabada, pois o processo da educação, mesmo de forma corporativa, é um processo contínuo e dinâmico. A fim de compreendermos a Educação Corporativa e sua relação com a Educação Convencional, faz-se necessário compreendermos o que é a Pedagogia e o que é a Andragogia, vejamos:

A pedagogia refere-se à reflexão sistemática sobre educação de crianças e adolescentes; é a observação dos modelos, métodos e técnicas de ensino. Ou seja, é a ciência da educação, é a arte e a técnica de ensinar e está intimamente relacionada com a Filosofia, a Psicologia, a Sociologia, etc. A Andragogia é a ciência ou a arte de educar pessoas adultas. ... A Pedagogia e Andragogia utilizam o mesmo processo, mas se distinguem nas estratégias metodológicas de acordo com as características das diferentes etapas da vida do indivíduo em situação de aprendizagem (EBOLI, 2004. p. 33).

            A partir desse entendimento, constatamos não uma contrariedade de ensinamentos, mas uma complementaridade do mesmo, pois as metodologias, apesar de serem diferentes, se propõem ao mesmo objetivo: construção de saberes. Então podemos entender a Educação como “prática, experiência e realidade vivida, ao passo que a Pedagogia e a Andragogia são teoria, pensamento e ideal a ser vivido.” (EBOLI, 2004. p. 33).
            Mas o que é a Educação corporativa?

Educação corporativa pode ser definida como uma prática coordenada de gestão de pessoas e de gestão do conhecimento tendo como orientação a estratégia de longo prazo de uma organização. Educação corporativa é mais do que treinamento empresarial ou qualificação de mão-de-obra. Trata-se de articular coerentemente as competências individuais e organizacionais no contexto mais amplo da empresa. Nesse sentido, práticas de educação corporativa estão intrinsecamente relacionadas ao processo de inovação nas empresas e ao aumento da competitividade de seus produtos (bens ou serviços). (BRASIL, 2007).

            A ênfase na Educação Corporativa está no aprendizado por competências: do colaborador e da empresa, focado em resultados que possibilitem à organização, nortear suas estratégias para alcance de seus objetivos junto aos stakeholders[1], ou seja, seus produtos e serviços, tornam-se mais competitivos, quando seus colaboradores são capazes de compreender sua finalidade e passar essa informação de forma clara ao seu público alvo.
            Bem, uma vez que compreendemos a Função da Educação Corporativa, vamos a procurar compreender a Educação Convencional (Tradicional e Nova), a fim de sabermos como é possível desenvolver essa relação. É importante salientarmos que educação é um processo contínuo e infinito, ou seja, ela sempre se reinventa, ora construindo saberes, ora desconstruindo, pois não se pode limitar ou estagnar. Conforme nos expõe Gadotti, 2013, a educação tradicional e nova:

Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, destinada a uma pequena minoria, a educação tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, mas ela sobrevive até hoje, apesar da extensão média da escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge de forma mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das metodologias de ensino. O conceito de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por exemplo, são aquisições definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção tradicional de educação quanto a nova, amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na educação do futuro. (p.4).

            Essa educação chamada convencional (tradicional e nova) está pautada, no sistema presencial de ensino, na formalidade das carteiras, do professor à frente, que tem dado lugar a uma forma de ensino a distância (EAD), à utilização de novas tecnologias de comunicação, porém que, guardo o princípio de construção de saberes, onde, nessa nova escola, o professor, não é o transmissor de conhecimentos, mas sim um mediador/facilitador. Diante dessa nova escola convencional surge uma educação corporativa, e, não podemos ignorar, essa relação, pois então, procuremos compreedê-la.
                       
3.     ESTUDO DE CASO FETRANSPOR
Fundada em 2008 e estruturada a partir de um Projeto Político Pedagógico elaborado por representantes das empresas de transporte do Rio de Janeiro, tendo a consultoria da Fundação Getúlio Vargas, a Universidade Corporativa de Transporte (UCT) tem em seu foco os profissionais desse setor, sua capacitação e qualificação, vejamos sua aplicação, conforme nos propõe Ana Rosa Chopard Bonilauri (Casarini e Baumgartner, 2012):

A Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro tanto percebe todas as implicações externas aos empreendimentos que representa quanto tem um posicionamento transparente no sentido de atuar internamente – para o conjunto de sindicatos e empresas associadas – como prestadora de serviços envolvida com a evolução sistêmica de cada empresa em particular e de todas em conjunto. (p.148).

            Uma proposta ousada e dinâmica, “ressignificar o papel social...” (Casarini e Baumgartener, 2012, p.148), tem a UCT, tendo no entanto, que superar as dificuldades dimensionais, humanas e de divulgação, pois conforme pesquisa de campo semi estruturada, constatamos que alguns profissionais rodoviários (motoristas, fiscais e trocadores de ônibus) desconhecem a própria existência da UCT, sua missão e localização. Conforme nos define Mark Allen (2002):

Uma universidade corporativa é uma entidade educacional criada para suportar estrategicamente a organização a alcançar sua missão através da realização de atividades que estimulam aprendizagem, conhecimento e sabedoria nos indivíduos e na organização. (Allen, 2002, p. 9, apud, Casarini e Baumgartener, 2012, p. 148).

            A UCT se propõe a estimular a capacitação das empresas de transporte do RJ, no entanto, isto somente é possível, não apenas com uma infraestrutura qualificada, mas com a participação de seu próprio público alvo: os profissionais rodoviários. A competitividade de qualquer empresa está na aplicação do conhecimento na práxis diária, não se pode apenas apresentar um conteúdo programático – um currículo e ficar-se indiferente ao principal interessado.
            Uma outra afirmação feita pela Srª Ana Rosa: “As características da indústria de transporte de passageiros não exigem do conjunto dos trabalhadores níveis elevados de escolaridade.”  (Casarini e Baumgartener, 2012, p. 149). Uma coisa é não exigir níveis elevados de escolaridade, outra é aceitar e manter esse nível após o profissional adentrar a UCT, ou seja, o que temos em questão é: Como melhorar a qualificação do profissional, se não consigo melhorar seu nível de aprendizagem? Quando passamos a conhecer quem é o profissional do Sistema de Transporte Urbano, percebemos de cara a importância da UCT, porém sua eficiência, eficácia e efetividade, tornam-se comprometidas, tendo em vista a natureza de sua existência e a contraposição de sua aplicabilidade. Vejamos os índices desses trabalhadores:

40%  Motoristas; 25% Fiscais, Despachantes, Inspetores e Cobradores; 25% Executivos e Gestores, Trabalhadores das oficinas, Planejamento Operacional, Áreas de Suporte ou Assessoria Especializada, como os trabalhadores de Administração e Finanças, Gestão de Pessoas, Segurança e Limpeza, entre outros. (idem).

É disso que estou falando, um quantitativo impressionante de pessoas que lidam diariamente com a massa populacional, mas que, em sua maioria, não têm preparo para isto, pois conforme a própria Ana Rosa nos diz:

O alto índice de funcionários com o ensino médio incompleto é um dos grandes desafios da universidade corporativa, pois o grau de instrução influencia (e informa) as relações socioeconômicas dessa população e os padrões culturais internalizados e aceitos por ela. (idem).

            Não podemos ignorar o desafio da UCT, tão pouco mascarar seus resultados, pois sua existência de pouco mais de cinco anos, demonstra que muito há a ser feito, pois, de sua implantação, com a definição de missão, visão e valores, até sua atuação, público alvo e objetivos, a mesma tem demonstrado a força de sua estrutura e o pioneirismo de sua essência, pois alinhar valores de aprendizagem educacional, com valores de aprendizagem profissionalizante exigem de qualquer organização um foco bem sedimentado. Na listagem dos aspectos salientados pela UCT, verificamos sua seriedade e comprometimento:
1. Ser o mais exigente possível – neste item fica claro para nós sua preocupação com o currículo e com quem o irá aplicar, sendo assim, constatamos que há um cuidado com o que se é ensinado, quem vai ensinar, como se ensinará e a avaliação desse ensino-aprendizagem.
2. A introdução de Técnicas Inovadoras. As TIC’s estão presente como metodologia imprescindível à aprendizagem, demonstrando assim que o profissional está alinhado com o que há de mais contemporâneo.
3. Liberar cada estudante para dirigir seu processo interno de aprendizagem. Isto é a construção de saberes a partir do educando, respeitando seus limites e avanços.

4.     CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação Corporativa ou Universidade Corporativa é evidenciada hoje como parte de uma nova estrutura empresarial, talvez como uma resposta aos vários anos de ignorância e não investimento no ser humano. Portanto, precisamos compreender sua ação e importância. Não podemos nos deixar levar, no entanto, por sua beleza conjuntural, pois quando não há a participação do elemento principal: o profissional, quando essa participação é pífia e o resultado não são monitorados, sua razão de existir torna-se equivocada.
Constatamos que sua existência não é sinônimo de sua aceitação, seja no meio acadêmico ou empresarial, pois, professores, alunos, profissionais e a população, ainda não compreendem, entendem ou conseguiram constatar os benefícios de sua atuação. Muito ainda precisa ser feito. Os dados demonstram que a jornada é longa e que se faz necessário um empenho muito maior para que, de fato, os resultados positivos possam alcançar a massa populacional.
A empresa que investe na aprendizagem de seu profissional, torna-se mais competitiva, pois tem em seu quadro um indivíduo qualificado a pensar de forma crítica e ampla, não se limitando ao conteúdo ou espaço setorial, pois passa a ter uma visão de 360º, tornando-se mais atento ao que faz, entendendo o foco de sua empresa, produto/serviço, posicionando-se como coparceiro de sua instituição, pois sua contribuição não se limita a um horário específico ou entrega de uma mercadoria ou serviço, mas compreende sua missão em conjunto com a missão da empresa.
A competitividade supracitada é ampla e irrestrita, pois não estamos falando apenas de lucratividade para a empresa, mas sim em qualidade de serviço/produto para o cliente, o meio ambiente e a humanidade em geral, pois essa empresa não foca mais em um segmento específico, mas nos benefícios que pode gerar ao entender seu público alvo que é cidadão planetário e interfere no bioma existencial, pois “A planetariedade deve nos levar a sentir e viver nossa cotidianidade em relação harmônica com os outros seres do planeta Terra.” (Gutiérrez e Prado, 2002, p. 37).

5.     REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – Portal de Educação Corporativa, 2007. Disponível em:
http://www.educor.desenvolvimento.gov.br/educacao. Acesso em: 25 Jul. 2013.
CASARINI, Fabiana Gradela e BAUMGARTNER, Marcos (org.) Educação corporativa da teoria à prática. São Paulo: Editora SENAC, 2012.
EBOLI, Marisa. Educação Corporativa no Brasil: Mitos e Verdades. São Paulo: Editora Gente, 2004.
FOCHESATTO, Sidney Alberto; QUADROS, Maria Suelena Pereira de. Educação Corporativa. Curitiba: IESDE BRASIL S.A., 2012.
GUTIÉRREZ, Francisco e PRADO, Cruz. Ecopedagogia e Cidadania Planetária. Tradução Sandra Trabucco Valenzuela. 3 ed. – São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2002.
GADOTTI, Moacir. Perspectivas Atuais da Educação. SÃO PAULO EM PERSPECTIVA, 14(2) 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9782.pdf. Acesso em: 27 Jul. 2013.
LOPES, Rose (org.). Educação Empreendedora: conceitos, modelos e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier; São Paulo: SEBRAE, 2010.
SANTOS, Antonio Raimundo dos. Metodologia Científica: a construção do conhecimento. Rio de Janeiro: 2ª Ed. - DP&A, 1999.





[1] “...grupos mais importantes para um planejamento estratégico ou plano de negócios, ou seja, as partes interessadas.”  Disponível em: http://www.significados.com.br/stakeholder/. Acesso em: 27 Jul. 2013.

ESCOLA QUE INVESTE EM PESQUISA, FAMÍLIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE - POR CLAUDIO SANTOS

         Ocorreu-me, após a leitura da pág. 5, no 2º parágrafo do texto “O Ensino Fundamental de nove anos no Brasil: meandros político-pedagógicos de sua sua implementação”, VIEIRA, Luciene Cerdas, que toda escola deveria ter seu ensino direcionado a solucionar/pesquisar um “problema”, a fim de nortear as ações de seus educandos, permitindo-lhes já, em tenra idade, contribuírem para:

·         Sustentabilidade do planeta;

·         Melhoria das relações familiares e sociais, e também para

·         Sua própria sustentabilidade, ou seja, autossustentabilidade do aluno e da escola.

Penso que o Sistema de Ensino, com o viés explicitado acima, deveria ser Universal, na Educação brasileira ouso afirmar que deveria ser o foco do Planeta Terra.

Lembro-me do desgaste do professor, e, da frustração de nós alunos, quando do aprendizado das disciplinas exatas, pois até entendermos sua finalidade/aplicabilidade, paradoxalmente, as mesmas pareciam ser inexatas e sem propósito algum.

            Uma escola com direcionamento de ensino à sustentabilidade, se posiciona de forma à permitir ao educando entender-se no mundo, posicionar-se de forma positiva e participativa, contribuindo para a construção do ente que não se acomoda, porém interage, visando o benefício permanente do coletivo, respeitando e potencializando as habilidades e competências do indivíduo.



10 de Setembro de 2011.

COMO A ESCOLA PODE TRANSFORMAR A REALIDADE EM QUE ESTÁ INSERIDA?

Introdução
          Transformação, Diferencial, Mudança, palavras que ouço, desde minha adolescência, inclusive há um versículo bíblico em Romanos Capítulo 12 versículo 2, que fala sobre isto: “...mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento...”. Porém, a vida nos permite constatar que, mudanças, transformações e Diferenciais, partem de uma realidade que se quer melhorar. Será? Será isto possível: melhorar? Será uma necessidade ou um desejo, fazer diferente do que já fizeram? Seja como for, não podemos negar o papel influenciador da Escola. Mas o que precisamos, antes de nos enveredarmos pelo viés da proposta transformadora é: ouvir a voz de um sábio que ecoa até hoje, acredito que qualquer transformação deve considerar isto, tendo em vista que “Ninguém Muda Ninguém” (Letuce - http://www.vagalume.com.br/letuce/ninguem-muda-ninguem.html), Sócrates nos propõe a reflexão: Conhece-te a ti mesmo. Então, a Escola somente poderá transformar a realidade onde está inserida, quando “conhecer-se”, entender o seu papel, enquanto organismo e não mais apenas como Instituição. Isto posto, comecemos então a visualizar a mudança que, partindo do autoconhecimento funcional, faz com que a Escola se olhe: professores, alunos, pais, funcionários, direção e comunidade. Como um todo integral, que não pode ficar de um lado, enquanto existem outros de outro lado, sua existência, eficiência, eficácia e efetividade transformadora, não está mais pautada em sua competência em propor um currículo que acrescente algo ao não-saber de seus alunos, mas sim, num currículo que seja capaz de entender a si mesma, enquanto Instituição e Organismo que se adapta ao meio, recebe e dá saberes, numa troca que, capacita sua revitalização e intervenção na política ambiental e social, deixando de ser fria e distante, para tornar-se e atualizar-se viva, pulsante, necessária, desejada e indispensável à felicidade social, pois cumprirá o papel de facilitadora das relações interpessoais.
Qual é a realidade da escola, tal como você conhece?
          Uma realidade que evidencia a falta de “laços sociais que unem o resto dos habitantes” (Zygmunt Bauman - MODERNIDADE LÍQUIDA – 2000), habitantes esses: professores, alunos, pais de alunos, demais profissionais de educação e comunidade. A escola não deve ter um olhar indiferente à realidade do educando, pois isto é um fator de digressão do aprendizado. Ao concordar com a afirmação que afirma a constituição social do ser humano, a escola deve se propor à missão de educar em parceria, respeitando o saber que já vem de casa. Isto não tem ocorrido. O que há é uma preocupação em se passar conteúdo e testar (por intermédio de provas) esse conteúdo. É mais uma questão de memorização de informações, do que o exercício mental na construção de saberes. A escola mantêm uma postura de “Depósito do Saber” inviabilizando o processo de receptora de múltiplos saberes, incluindo o do próprio educando. Isto cria um “abismo” no relacionamento entre os atores envolvidos nessa relação. Leiamos a frase: “Educação vem de Casa”, tendo a escola a função de educar, como então não considerar essa educação do senso comum? Como ignorar a educação básica que a família proporciona ao educando? A política educacional familiar não pode ser preterida, e é exatamente isto que a escola tem feito. Ou seja, ao nivelar todos os educandos, criando um parâmetro único, de tempo e conteúdo, não se respeita o “tempo” do educando, ou tão pouco se considera o que ele já sabe. Quando assumo politicamente, uma visão de democracia, concordo em permitir alguém de discordar ou concordar, para tornar isto justo, devo proporcionar a todos as mesmas condições, na construção ou desconstrução de saberes. Não quero me tornar complexo ou tão pouco prolixo, minha intenção é somente, elucidar a realidade imanente na escola: amplo despreparo de um número considerável de educadores, no quesito construção de saberes. O que existe é a exposição de conteúdo e memorização, sem a preocupação com uma metodologia que respeite e “acolha” as diferenças, limite, competências e potencialidades do educando.
Que sugestões você utilizaria para transformá-la numa escola transformadora da realizada social?
Considerar as relações afetivas entre professor e aluno (Kieckhoefe, Josiane Cardozo – I Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação – SIRSSE), ou seja, os laços sociais devem ocorrer em sala de aula. Os educandos aprendem mais e melhor em pessoas que confiam, naqueles que eles percebem que se importam com eles, que, de certa forma, criam um laço social. A exemplo do que diz John Dewey (1859-1952): “O professor que desperta entusiasmo em seus alunos conseguiu algo que nenhuma soma de métodos sistematizados, por mais corretos que sejam, pode obter".  Numa proposta da “metodologia de projetos” (contribuição de John Dewey e de William Kilpatrick), é possível fomentar nos educandos o interesse em aprender, pois enquanto aprendem, exercitam a práxis pedagógica, ou seja, praticam, usam e veem o resultado do que têm aprendido. Isto os capacita no exercício da cidadania. E dessa forma, compreendem que a escola pode ser um local de alegria, criatividade, cidadania, aprendizado e companheirismo.
Conclusão
Não podemos ignorar a importância da escola, porém o como essa escola tem subsistido em meio às mudanças sociais é algo que deve ser observado. A escola dita para todos, não acolhe a todos do mesmo jeito. Sua proposta é de competição, disputa e não acolhimento e integração. Cada educando deve ser incentivado, de forma a proporcionar único que suas habilidades sejam potencializadas. No atual discurso governamental de manter o educando mais tempo na escola, a fim de proporcionar-lhe maior aprendizado, o que vamos constatar é um retrocesso, ao invés de um avanço nesse aprendizado. Exemplifico da seguinte forma: um aluno de eletricidade aprende a utilizar o multímetro em sala de aula, no decorrer do dia aprende a utilizar outros instrumentos elétricos, e pratica isso na escola, porém quando vai para sua casa, não tem como utilizar esse instrumento, ou seja, suas condições sociais e econômicas não lhe permitem isso. Educação para todos, só será uma realidade quando sair dos portões escolares, quando esse ensino conseguir chegar nas casas e permitir ao educando que o utilize para mudar de vida no sentido positivo. Proporcionando assim, uma melhoria que poderá ser mensurada, à medida que acontece. Fazendo assim, essa escola criará laços sociais, elaborará e executará projetos e aproximará famílias, comunidades e educadores. A escola precisa existir, no entanto, sua intervenção precisa ser sentida por todos: Educandos, Família, Profissionais de Educação e Sociedade.
Referências bibliográficas
As Relações Afetivas Entre Professores e Aluno – KIECIKHOEFEL, Josiane Cardozo – X Congresso Nacional de Educação – EDUCERE
Zygmunt Bauman, MODERNIDADE LÍQUIDA, Tradução: Plínio Dentzien. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro. Título original: LiquidModerniiy .Tradução autorizada da edição inglesa.

PROJETO VIDA SUSTENTÁVEL E INCLUSIVA - POR CLAUDIO SANTOS

Seja um Cidadão Olímpico e Cidadão Planetário envie vídeos, sugestões, documentos para meu e-mail (projetosgerais2@gmail.com). Exerça sua Cidadania Plena, lute pela Sustentabilidade de nosso Planeta. Participe de atividades que promovam a Inclusão Sustentável, pois a sociedade é constituída não apenas por seres humanos, mas por todos os seres vivos.
Torne-se um Cidadão Olímpico e lute pela Inclusão Sustentável!
A Inclusão Sustentável não pode ser apenas um tema de debates, uma perspectiva pedagógica ou tão pouco uma mensagem para as futuras gerações. Temos que praticá-la agora, a sustentabilidade do Planeta, para nós e para as futuras gerações, depende de como incluímos esse tema em nosso dia-a-dia, em nossas vidas, comportamentos e Projetos. 
Não podemos mais ficar indiferentes a dor de nossa cidade e do nosso Planeta, da vítima, do miserável, do homem do campo, da mulher violentada, do homem da cidade, etc. Temos que fazer agora. Convido a todos os amigos que façam parte dessa rede e Ingressarem no Projeto Vida Sustentável e Inclusiva.

Nossa visão é de uma Cidadania Planetária, Sustentável e Inclusiva. Participe Já Seja um CIDADÃO OLÍMPICO E PLANETÁRIO!

A PIPOCA - POR RUBEM ALVES

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.

Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.

Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.

A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.

Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".



O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.

EMPURRE A SUA VAQUINHA - POR LUIZ ALMEIDA MARINA FILHO

Um sábio passeava na floresta com seu discípulo. Avistou uma casinha pobre, aos pedaços. Nela moravam um casal e três filhos, todos mal vestidos, sujos, magros e aparentando subnutrição. O sábio pergunta ao pai da família: “Como vocês sobrevivem?
Não vejo horta alguma. Não vejo plantação alguma. Não vejo animais”.
            O pai respondeu: “Nós temos uma vaquinha que nos dá alguns litros de leite por dia. Uma parte do leite, nós tomamos. Outra trocamos na cidade vizinha por alimentos e roupas e assim vamos sobrevivendo.
            O sábio agradeceu e saiu novamente pelo seu caminho. Logo em seguida, avistou uma vaquinha e ordenou ao seu discípulo: “Puxe aquela vaquinha até o precipício e a empurre precipício abaixo.” Mesmo sem compreender a ordem, o discípulo a cumpriu, empurrou a vaquinha no precipício, e ficou pensando na maldade do sábio em mandar matar a única fonte de subsistência daquela pobre família. Aquilo não saiu da cabeça do discípulo por muitos anos.
            Alguns anos depois, passando pela mesma região, o discípulo lembrou-se da família e do episódio da vaquinha. Resolveu voltar aquela casinha e... Surpresa!
            No lugar da pobre casinha havia uma bela casa. Um pomar ao redor. Várias cabeças de gado. Um trator novo. Na porta da casa avistou o mesmo pai, agora bem vestido, limpo e saudável. Logo apareceram a mulher e os três filhos, todos bonitos e aparentando saúde e felicidade.
            Quando o discípulo perguntou a razão de tanta mudança nesses últimos anos, o pai da família respondeu: “A gente tinha uma vaquinha que caiu no precipício e morreu. Sem a vaquinha a gente teve que se virar e fazer outras coisas que nunca tinha feito. Começamos a plantar, criar animais, usar nossa cabeça para sobreviver e daí a gente viu que era capaz de fazer coisas que nunca antes tinha imaginado e de conseguir coisas que a gente achava impossível porque nunca havia tentado fazer. Sem a vaquinha, a gente foi a luta e a gente só tinha uma alternativa – lutar para vencer”.
            Pense nessa estória. Todos nós temos uma “vaquinha” que nos dá alguma coisa básica para sobreviver e conviver com a rotina. Vamos descobrir qual é a nossa vaquinha e quem sabe aproveitar este momento de “crise” para empurrá-la morro abaixo.

SEJA VOCÊ MESMO - POR CLAUDIO SANTOS

Apesar das falhas, dos erros, das coisas que você não gosta, seja você mesmo.
Por ser bom, amável, carinhoso, sincero, feliz e autêntico, seja você mesmo.
Ainda que não seja rico, tenha sucesso e uma grande empresa, seja você mesmo.
Você é único e especial por isto seja você mesmo.
Não seja o que os outros querem que você seja, quando você mesmo não suporta mais carregar o fardo da aparência social, do fazer aquilo que agrada aos outros, mas lá no fundo te deixa triste e desagradado. Pense em você, se ame, dê um tempo a mais para si.
Seu sucesso e seu fracasso começam em você e terminam em você. Não espere que os outros façam aquilo que deve vir de dentro de você. Motive-se, levante-se, aceite-se, ame-se e se alguém não estiver satisfeito com a bela pessoa que você é, por ser como você é, diga: Estou sendo eu mesmo!
Ninguém é mau o tempo todo, ah, tem até uma frase que diz assim: “Ninguém é ruim de tudo!” Então, você pode ser melhor ou ser pior, mas se você for você mesmo, com certeza, não irá se autodestruir, pois a natureza humana tem em seu DNA o extinto da autopreservação, por isto, ser você mesmo, significa lutar para viver da melhor forma possível, e, quando isto acontece, você passa a ser e não apenas ter. E algo “mágico” acontece: As pessoas vão querer estar perto de você. Ame-se antes de amar alguém. Apaixone-se por si mesmo e sua paixão contagiará o mundo em sua volta.
Simplesmente: Seja você mesmo!

PEDAGOGIA PROGRESSIVA - POR CLAUDIO SANTOS

      Me identifico com essa visão pedagógica, pois acredito e procuro implementar o desenvolvimento participativo e prático do educando. Sou a favor de uma construção compartilhada de saberes, sendo assim, cada educando é um ator que protagoniza sua história de vida, tendo o educador a linda e preciosa missão de "burilar" a experiência do aluno em consonância com o conteúdo escolar.
          Participar, interagir e fomentar as ações dos alunos e potencializar sua inteligência cognitiva a partir do entendimento e respeito de sua inteligência emocional.
          Compreendo assim que essa pedagogia se torna a melhor opção didática para o trabalho educacional.

TODO BRASILEIRO TRAZ NA ALMA: A ORIGEM: NEGRA-INDIGENA-BRANCA - POR CLAUDIO SANTOS

LERAPIA: "Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena e/ou do negro." (Gilberto Freyre)


Somente pode reconhecer essa negrilidade ancestral, aquele (a) que aceita em si, o ente que é, a constituição dessa miscigenação que enobrece o humano ser que nos tornamos e que a História nos registrou, sim, a História não nega que ao trazer o Negro ao Brasil, ao permitir a convivência do Índio e do Branco, esse Brasil que ficou conhecido pela Árvore que lhe deu o nome (pau brasil), construiu a raiz, matiz de nossa gente, que foi cultivada no solo, com sangue, lágrimas, suor e mistura das raças.
Como não se aceitar: negro-índio-branco? Coaduno com Freire, por aceitar minhas origens e constatar em meus traços o brasileiro que sou: feito a imagem e semelhança de culturas que se misturaram e integraram, a tal ponto de não poder se desfazer o melhor que me tornei. Por que então o preconceito, a discriminação, o racismo? Porque nos falta o entendimento de nossa identidade. Essa nunca nos foi ensinada, daí termos a impressão que somente tem identidade quem tem a origem branca europeia, esquecendo-se (?) ou jamais lembrando-se (?). Pois como lembrar o que não se sabe ou esquecer ou que não se aprendeu? Como um filho bastardo se sente ao saber de sua origem, e, por habitar em uma comunidade que o renega, sente vergonha de se assumir filho de quem é. Não deve ser assim o povo brasileiro, pelo contrário, temos que ter orgulho de sermos negros, pois a Filosofia Africana tem Conteúdo (independente da Grécia), a raça negra tem Raízes Valorosas (Genealogias Heróicas, Sábias e Ousadas), o índio não é um imbecil desprovido de conhecimento e sabedoria, mas toda a sua constituição cidadã não era moldada na destruição do ser vivo, mas no respeito à natureza, na sustentabilidade do meio ambiente e na diversidade das existências, se tivéssemos que ter alguma vergonha seria da parte branca que temos, pois com ela veio a morte, a ganância e a destruição, porém, isto é algo que humano é, e também há de ser sempre. Então, carrego a bagagem dessa cultura, com orgulho e sou estimulado a viver a pluralidade cultural, a miscigenação racial e a globalização de nossas regiões brasileiras respeitando as diferenças e integralizando as potencialidades, me aceitando e promovendo o ente que me tornei.

ECOLIMITES OU SÓCIO-LIMITES?

Da “preservação ambiental” à segregação sócio-espacial - por Jean Carlos Gomes Camargo1

A relação da favela com a cidade do Rio de Janeiro sempre foi uma relação conflituosa e tensa. Ao longo da história, a favela sempre recebeu um tratamento diferenciado do Estado que sob a direção da elite da cidade procurou constantemente negá-la ou anulá-la. De fato, as estratégias de remoção de habitantes para áreas afastadas da cidade, quer em contextos onde prevaleceram paradigmas higienistas de um urbanismo importado quer em contextos políticos durante os quais os “favelados” eram tratados como moedas políticas  eleitoreiras, inúmeras vezes investiram contra esse estilo de moradia.

As Políticas de Remoções Compulsórias de Favelas, por exemplo, promoviam, nos anos 1960 na cidade do Rio de Janeiro, o isolamento de famílias pobres deslocadas para expansões em grandes áreas vazias, localizadas além dos limites urbanos. A Cidade de Deus, no bairro de Jacarepaguá, e a Vila Kennedy, em Santíssimo, são bons exemplos de construções destinadas ao reassentamento compulsório de indivíduos que habitavam favelas da Zona Sul da cidade naquele contexto (Magalhães, 2005).

Ora ou outra essas experiências de remoção se traduziram em ações fracassadas, já que a população, na maioria das vezes, conseguiu retornar às áreas originárias de que tinha sido removida. Isso só demonstra que as favelas têm culturalmente um princípio de racionalidade inquestionável, principalmente “locacional”.

Seguindo a linha de pensamento da urbanista Paola Jacques (2007), percebe-se a favela como espaço-movimento em transformação contínua, é uma estética espacial do movimento que se liga a seus atores, sujeitos da ação. Assim, o movimento no espaço só podia ser conservado se deixasse que ele se movimentasse. Na concepção da urbanista, espaços-movimentos mudam de natureza quando são fixados.

Essa corrente de pensamento da qual faz parte Paola Jacques defende que os arquitetos e planejadores urbanos precisam da participação da população para que a cidade seja de fato uma construção coletiva. Esses seriam apenas tradutores e catalisadores dos desejos dos habitantes. Espaço-movimento não está ligado ao planejamento urbano ortodoxo, mas ao dia-a-dia urbano. Ao seguir a lógica cotidiana, é possível “urbanizar”, no sentido de melhorar o urbano, sem, no entanto, deixar de preservar a alteridade das favelas.

Essa população das favelas foi impelida a fixar residência em espaços não urbanizados que mais tarde seriam definidos como “áreas de proteção ambiental”. Numa visão panorâmica da zona sul, as favelas são reconhecidas em espaços menos urbanizados em áreas limítrofes à Mata Atlântica que coincide também os limites da cidade.

A cidade despe-se da natureza para vestir-se da técnica. Com essa frase, Milton Santos (1997) canalizava as preocupações com relação à globalização na dinâmica das cidades. Para ele, a evolução das cidades seria empreendida por um cumulativo de desenvolvimento e expansão da tecnologia urbana que se reflete sobre a infra-estrutura, obras públicas, etc. Essa formulação sugere uma tensão entre o modo de vida urbano e o espaço da natureza. Reconhecer essa tensão não significa considerar técnica e natureza ou cidade e natureza como domínios excludentes e incompatíveis. A natureza também figura como um importante valor para a população urbana de uma metrópole como o Rio de Janeiro. “Preservar a natureza” assume contornos cada vez mais moralizantes e ganha, como um slogan fácil, a simpatia do público, principalmente das classes médias urbanas.

A natureza como valor penetra na formulação de políticas públicas de caráter segregador e autoritário como a política de implantação de ecolimites em favelas da Zona Sul carioca, tema que será o foco deste texto.

Em janeiro de 2009, o Governo do Estado do Rio de Janeiro colocou na agenda das políticas públicas um projeto de construção de muros em torno das favelas. A proposta do projeto seria impedir o crescimento desordenado de 11 comunidades e assim proteger a “natureza” dos indivíduos que habitam aquelas áreas. A contenção se dá através de muros “cegos” de concreto os quais podem chegar até 3,5 metros de altura.

Diferentemente da justificativa sanitarista de intervenção das favelas, esses “ecolimites” encontram sua justificativa no apelo ambiental, ou seja, no discurso dos idealizadores segundo os quais o projeto ratifica que as favelas estão em expansão horizontal sobre as reservas de Mata Atlântica do município carioca. O projeto por si só já é polêmico. Todavia, ele se mostra contraditório posto que as áreas escolhidas para receber os paredões não se enquadram dentro dos objetivos principais do projeto: conter a expansão horizontal das favelas. Dados do IPP (Instituto Pereira Passos) demonstram que as favelas nas quais estão sendo construídos os muros são as que menos crescem. Na cidade do Rio de Janeiro, de 1999 a 2008, as favelas cresceram 6,88%. Todavia, aquelas favelas da Zona Sul escolhidas para a implantação dos ecolimites aumentaram em média pouco mais de 1%. Na favela Santa Marta, ocorreu exatamente o contrário. Segundo Vitória (2009), a comunidade sofreu decrescimento de 0,8%.

Até mesmo a forma de se referir aos muros foi adaptada com eufemismo, já que na linguagem difundida pelo poder público, fala-se em ecolimites, e não em muros. Essa ideia de fincar muros segregacionistas em torno das favelas é bem mais antiga do que o Projeto de Lei nº 245/2009 de autoria do vereador Leonel Brizola Neto que instituiu no município regulação para implantação de ecolimites. Conforme já havia observado Vitória (2009), a proposta de construir muros para limitar as favelas cariocas já tinha sido pensada durante o governo de Rosinha Garotinho (2003-2007). Naquela ocasião o secretário estadual de desenvolvimento urbano e meio ambiente Luis Paulo Conde fez uma proposta, todavia, rejeitada devido a duras críticas da população, intelectuais e opinião pública. A situação inviabilizou levar adiante o projeto.

Mesmo sendo considerado inconstitucional, já que viola os princípios básicos do cidadão e vai de encontro aos valores estéticos e culturais dos habitantes das comunidades, esse projeto de construção de ecolimites foi aprovado no ano 2009, coincidindo com o processo de implantação da política pública de segurança UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). Seria em nome da “ordem” na cidade e em nome da proteção ecológica que os moradores da favela Santa Marta precisariam conviver com um extenso muro de 3 metros de altura3.
Tanto os “muros verdes” quanto a implantação das UPP preconizam o controle e a imposição de uma ordem ao espaço das favelas. Supõe-se que as favelas constituem espaços desordenados. No entanto, Castells (2000) adverte que a desordem urbana não existe de fato, pelo menos não no sentido que a gestão pública supõe. Segundo ele, o agente que promoveria a desordem seria o mercado que tende a anular as diferenças e as características particulares de cada localidade.
Figura 1 – Ecolimite ou Muro ecológico no Dona Marta

Foto: Zô Guimarães – Agência de Notícias das Favelas
Os direitos à moradia e ao acesso aos serviços urbanos são suprimidos por um discurso mobilizado pela EMOP (Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, empresa encarregada da construção dos muros) que situa a construção de muro como uma medida de proteção ao meio ambiente.

Para a EMOP o mais importante não é atender às expectativas ou necessidades dessas comunidades, mas sim levar a cabo a construção do muro e canalizar interesses lucrativos de construtoras e incorporadoras que, nas últimas eleições, representaram 60% dos “doadores” e “fornecedores” oficiais da campanha do governador Sérgio Cabral.

Um dos entusiastas do programa, o diretor da EMOP Ícaro Moreno escreve em boletins eletrônicos os saldos das reuniões com associação de moradores nas quais ele tenta barganhar a aceitação dos muros pela garantia de serviços infraestruturais como água e esgoto, coleta de lixo etc. Mais uma vez, assumem-se esses serviços não como direito à moradia digna, mas como prebenda aos moradores que já estão estabelecidos nas comunidades. A EMOP busca negociar com os moradores estabelecidos enfatizando a anterioridade de residência naquele espaço como uma prerrogativa, tal como percebeu Elias e Scotson (2000) para dificultar a instalação de futuros habitantes através do controle da distribuição desigual dos serviços urbanos.

Os termos dessa negociação são colocados da seguinte maneira: os serviços urbanos existem em número limitado e os moradores para ter acesso a eles precisam ser compatíveis com a capacidade de suporte do serviço. A reivindicação dos moradores pelo direito à infraestrutura urbana é equacionada num universo matemático de conjuntos fechados, no qual a suposição de escassez de recurso preconiza a suposta exigência desses recursos e não a necessidade dos habitantes.

Se a intenção, como especulam os debates nas colunas jornalistas, é construir um muro simbólico ou não, esse não constitui o cerne da questão. A referência ao simbólico nesses debates tende a evocar uma função de exemplaridade e de exclusão moral das pessoas. Mas segundo Bourdieu (1998), o poder simbólico vai além disso. O poder simbólico prevê um crédito da pessoa que está sujeita a ele. É um capital político fundado na confiança, e não propriamente na imposição. É fundado na crença e no reconhecimento. “O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” (Bordieu, 1998, p.7).

Não se trata de um muro exemplar, mas um muro com propósitos de contenção. A segregação e a expropriação dos direitos ligados à habitação são efetivas. Não é preciso ficar tentando adivinhar o que há por detrás da pretensa defesa da natureza dos ecolimites, ou tentar inferir que propósitos se escondem nessas boas intenções. 

Ressentimos ainda hoje de uma reivindicação setorizada da “grande missão” inadiável de proteger a natureza. No embalo dessa missão supranacional, política dos ecolimites repete refrões que ecoam descontextualizados pelo mundo. 

A proposta de proteger a natureza pretende reunir todos em torno de um propósito que parece ser isento e assim fazer o conflito urbano entre moradores da favela e do asfalto desaparecer. Por mais que ambos tenham práticas apropriativas do espaço natural semelhantes, invasões e desmatamento, ambos exploram as fronteiras da cidade, mas com investimentos e facilidades desproporcionais.

Se nos condomínios de luxo que se estendem pela Barra da Tijuca os moradores primam por um contato ou proximidade com a natureza passando-nos a ideia de qualidade de vida e bem-estar, com os ecolimites a natureza é protegida dos moradores.  Mesmo se levarmos em consideração essa aventada preocupação com a natureza ela é cruel e flagrante da assimetria dos direitos à habitação e ao meio ambiente urbano. Aquela natureza é preservada e protegida de quem e para quem?

Os gestores urbanos e as construtoras, mesmo não sendo filiados a movimentos ambientalistas, ambientalizam seus discursos para defender modalidades de apropriação do território que são tomadas como indiscutíveis. Para Henri Acselrad (2010), através do processo de ambientalização, velhos fenômenos como a segregação e a apropriação do espaço a favor das classes dominantes são recompostos no debate público. Isso, para o autor, é uma das armadilhas do ambientalismo, que procura justamente suprimir a luta contra as desigualdades sociais.

Se essa política pública se importasse com a construção de casas em lugares que oferecessem risco de desmoronamento, o programa não se restringiria a muros que não representam nenhuma solução para as famílias que habitam áreas de risco.

Se o problema fosse classificado como política urbana habitacional, haveria um mínimo compromisso com a qualidade e segurança das construções habitacionais. Mas como foi classificada como ambiental e sob essa denominação ganha adeptos das classes médias que valorizam “ser politicamente correto”. As condições em que o compromisso foi feito envolvem outros atores além dos moradores das favelas. O grande beneficiário, seguindo o fio desse mesmo discurso de preservação, seria a natureza, um foco suficientemente genérico para abrigar interesses e demandas diversas. Com essa reputação ecológica, essa política mobiliza a agenda ambiental no mundo e arranca apoio de pessoas que não estão implicadas no conflito cujo palco é o “espaço restrito” da Zona Sul.

Para Acselrad (2010), essa disseminada preocupação com o meio ambiente atrapalha o enfrentamento da pobreza. Nesse caso também serve para tratar a pobreza não só como normal, mas também cercada de práticas predatórias por estar nas margens da urbanização. Culpabiliza os pobres pela expansão urbana que reflete a carência de moradias e serviços, e a distribuição desigual de direitos, serviços e oportunidades ao longo do solo urbano. A pobreza não é a causa da degradação ambiental. O autor sugere que a injustiça social e a degradação ambiental têm a mesma matriz: a distribuição desigual de poder sobre recursos ambientais. No caso das cidades, se a injustiça social se alia à degradação dos morros é porque o direito à habitação e aos serviços urbanos básicos e as oportunidades não são distribuídos equanimente entre os moradores da cidade.

SOBRE A CAPACIDADE DE SUPORTE DO TERRITÓRIO DAS FAVELAS CARIOCAS
O discurso que legitima essa política pública de construção de ecolimites elencando razões ambientais também veicula várias proposições sobre a necessidade de controlar demográfica e espacialmente à população pobre. Além do controle policial das recém-instauradas UPPs, os ditos “muros ecológicos” impõem um controle demográfico que se efetua através do controle e delimitação rígida do território.

Sobre o argumento “neomalhutsiano” segundo o qual o território urbano e a Mata Atlântica não comportariam o avanço demográfico dos moradores das favelas, esconde-se um sentido moral e o acirramento do cerco aos pobres das favelas da Zona Sul. Os ecolimites não se inspiram apenas em uma preocupação com as oscilações demográficas das favelas da zona sul. Visto em um conjunto de intervenções públicas recentes, essa política pública configura uma medida de contenção dos moradores pobres em um espaço limitado para a ação de urbanização espontânea, mas aberto para a ação dos investidores imobiliários interessados na valorização daquele solo urbano e em sua paulatina “gentrificação”.

Confere-se uma tradução economicista, regida pela lógica do mercado de recursos escassos, a uma situação de conflito político na qual o que está em jogo é o direito à cidade.

No caso dos ecolimites, tudo se passa como se a questão fosse conter a invasão do “homem” em sua gana de devastação sobre a natureza. Da aparente relação entre homem citadino genérico e a natureza indefesa, existem relações de conflito pelo uso do solo urbano e a luta cotidiana dos moradores da favela para permanecerem, eles e seus parentes, naquele lugar que depois da UPP assiste a uma valorização imobiliária e aumento das despesas dos moradores com o pagamento de serviços urbanos como energia elétrica.  Essas novas condições impactam a renda das famílias das favelas e tornam a permanência de gerações futuras ainda mais difícil. É a esse quadro de mudanças e restrições legais e econômicas que a implantação dos “muros verdes” vem somar como mais uma medida de contenção e regulação do padrão de habitação das favelas.

Discursos de fundo ecológico como esse que respalda os ecolimites naturalizam a categoria população e a separam da noção de cultura, identidade, etnia e diferença. Esses discursos também veiculam um argumento neomalthusiano que estabelece a ideia de que há na natureza uma lei inscrita que objetiva estabelecer o equilíbrio entre população e recursos.

Cecília Mello (1998), em análise sobre a relação entre meio ambiente e população na linha neomalthusiana, procurou demonstrar como as preocupações com quantitativo populacional passou a se vincular às potencialidades de um dado território. A autora centra-se no percurso do conceito de capacidade de suporte (ou limite populacional) de um território.

Segundo Mello (idem), a ideia de um limite populacional quantificável se apresenta no discurso que define uma relação técnico-material entre “indivíduos” e “natureza”, negligenciando a dimensão política e cultural fundadora da relação população/território. Esse discurso biológico e ecológico é marcado pelo utilitarismo econômico (os homens lutam para maximizar sua utilidade ou “vantagem”, dentro de um quadro de crenças que submete os humanos a uma seleção e competição eterna).

Ela identifica na ciência a fonte e o parâmetro da legitimidade do conceito capacidade de suporte, o qual traduz a proposta de imprimir o natural sobre o social: “através da fé subjacente na inteligibilidade do real, essas construções reificam o natural, que, por sua vez, passa a ser instrumento de legitimação de processos sociais, como é o caso da elaboração de leis do crescimento da população.” (Mello, idem, 32).
Esses problemas ambientais, no entanto, estão longe de se tornar um objetivo fulcral da política do Estado fluminense. Essa política é proposta e implementada num contexto de forte controle do território das favelas. Sob essa suposta proteção ambiental e de aumento de segurança, essas políticas públicas atualizam ideias higienistas e reafirmam preconceitos. Se no tempo das políticas urbanistas de Carlos Lacerda, a remoção das favelas eram compulsória e respaldada pela força policial, hoje a UPP associada aos ecolimites atendem a um propósito de desarticular os movimentos sociais das comunidades e abrir o espaço da favela para ação da especulação imobiliária. Um processo que inviabilizaria, a médio prazo, a permanência das famílias pobres.

O argumento que dá suporte a esse novo “higienismo” tem um fundo “neomalthusiano”. Porque se supõe que não há espaço habitável e nem recursos para todos, por isso todos devem se submeter aos rigores da gestão pública, principalmente a ação “espontânea” das pessoas pobres e submetidas ao controle tecno-científico que defendeu a necessidade ecológica de construir muros. É uma maneira de fazer subsumir o conflito de classe que persiste numa cidade tão desigual como o Rio de Janeiro.


BIBLIOGRAFIA

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1 - Sociólogo, Mestre em sociologia pela UnB.
2- Cabe lembrar que a primeira UPP no Rio de Janeiro foi implantada no Santa Marta no dia 19 de dezembro de 2008.
3 - Depois disso, o governo prometeu mais 10 muros para cercar as favelas, com financiamento da Fecam (Fundo Estadual de Conservação Ambiental). No ano 2009, esse fundo disponibilizou R$ 260,25 milhões, dos quais R$ 5,88 milhões foram gastos com os ecolimites das comunidades no Dona Marta, Rocinha, Chácara do Céu e Parque da Pedra Branca. Um ano depois, o Fecam arrecadou R$ 373,87 milhões, dos quais R$ 14,59 milhões foram investidos na delimitação de ecolimites e remanejamento de ocupações nas três últimas comunidades.

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PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PROCESSOS DE PRODUÇÃO DE CELULOSE E PAPEL🎓

 O conhecimento em tecnologias de produção de celulose e papel não é transmitido em cursos de graduação em engenharia tradicionais e o propó...